João Coelho: de Vila Franca de Xira aos Jogos Olímpicos de Paris
É raro um atleta europeu chegar às finais olímpicas dos 400 metros mas o recordista nacional na distância acredita que vai conseguir fazê-lo este Verão em Paris nos Jogos Olímpicos. Natural de Vila Franca de Xira, João Coelho diz que para ser atleta profissional em Portugal é preciso muita coragem.
Enquanto as pernas não lhe tremerem João Coelho, de 24 anos, quer continuar a correr e a competir, somar vitórias e, já este Verão, alcançar no mínimo a fase final dos 400 metros nos Jogos Olímpicos de Paris, em França. Uma missão que o próprio admite ser difícil mas não impossível. É o primeiro atleta do concelho de Vila Franca de Xira a carimbar o passaporte para as Olimpíadas deste ano.
João Coelho viveu toda a vida no concelho de Vila Franca de Xira e foi nessa cidade que começou a estudar, na Escola Básica e Secundária Reynaldo dos Santos. Começou a jogar futebol no Alhandra Sporting Club e pelo meio ainda vestiu a camisola do Futebol Clube de Alverca até um dia se lembrar de participar num treino de atletismo. Foi tiro e queda e nunca mais o deixaram abandonar a modalidade. “Nessa altura fiquei logo no Benfica, nem cheguei a passar por mais nenhum clube do concelho”, conta a O MIRANTE o atleta que estuda design e actualmente veste a camisola do Sporting Clube de Portugal depois de uma época a competir de forma individual. “A passagem pelo Sporting está a ser muito agradável e o clube tem todas as condições para ser a minha única casa no futuro e até agora está a ser excelente, com pessoas impecáveis”, conta, notando que para se ser atleta em Portugal é preciso “ser corajoso e conseguir ultrapassar muitas dificuldades”.
Vila Franca de Xira continua a ser a sua casa mas a maior parte dos dias passa-os no Centro de Alto Rendimento do Jamor. “Mas sempre que posso volto a casa. Tenho excelentes recordações da cidade, e costumo fazer umas corridas na zona ribeirinha, é um espaço agradável. É muito bom ter sítios para correr e não é em qualquer lado que existe um passadiço como o nosso. É muito importante e bonito de se ter”, conta.
“Os jogos são o mais importante”
Para João Coelho, os Jogos Olímpicos são a competição mais importante que irá disputar, sendo que Paris será a sua primeira vez. “Vou tentar fazer a melhor performance possível. Ambiciono uma final mas saio bastante contente só por lá ir, já é um grande feito. Mas tenho ambição para mais e qualidades para isso”, refere o atleta, que treina todos os dias. “Acabei treinos em pista coberta e nas duas vezes que corri fiquei a um e a sete centésimos do recorde nacional que é meu, por isso são indícios de que estou em boa forma. Já estive na África do Sul mais de um mês em preparação e agora vou para lá outra vez”, explica.
Questionado sobre se serão os Jogos Olímpicos a definir a sua carreira João Coelho é ambivalente: por um lado sabe o esforço e as vitórias que foi preciso alcançar para lá chegar, mas por outro reconhece que para a comunidade em geral são as medalhas olímpicas que contam. “Ser um bom atleta passa pela coragem, é determinante, precisamos dela para enfrentar todos os treinos, porque sem ela ficamos com medo, ansiedade e tudo o que exista de negativo. Quem tem coragem tem tudo para ser bom atleta”, explica a O MIRANTE.
Já sobre a pressão de ter de disputar a prova sabendo que leva na bagagem a bandeira de Vila Franca de Xira, o jovem atleta diz que é uma pessoa capaz de sacudir os nervos. “Quando há uma prova deixa de haver nervos. Lido bem com a pressão. Não me tremem as pernas. Consigo desligar. Tenho muita garra e coragem. Fiz o meu trabalho até àquele momento e depois o que tiver de ser será”, conta.
No seu palmarés já leva, entre outros, oito títulos nacionais nos escalões de juniores e sub-23, campeão nacional nos 400 metros em pista coberta, vestiu as cores da selecção nacional em dois campeonatos da Europa, um deles onde bateu o recorde nacional dos 4x400m em Munique, Alemanha, em 2022 e no ano passado alcançou as meias finais dos Europeus de Pista Coberta. Em Agosto de 2023 foi medalha de Ouro nos Jogos Mundiais Universitários em Chengdu, China, num sprint incrível onde bateu ao photo finish o rival australiano Reece Holder.
De braço esticado a pedir apoio
O MIRANTE conversou com João Coelho na tarde de 26 de Fevereiro, à margem da celebração de um protocolo de apoio desportivo celebrado entre a Câmara de Vila Franca de Xira e a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), onde o município vai abrir mão de cinco mil euros para ajudar na preparação do atleta até às Olimpíadas. O atleta, que noutras ocasiões lamentou estar esquecido pelos poderes locais, diz-se hoje agradecido pelo apoio adicional, mas não deixa de reconhecer que a cultura miserabilista de apoios aos atletas de alta competição no país não é positivo.
“A forma dos apoios aos atletas não é a melhor. Devia haver um reajuste, porque há situações que saem das nossas bolsas que não deviam, como a minha participação no campeonato do mundo, que saiu das bolsas que recebemos, e na minha opinião não devia ser assim. Temos a bolsa porque ganhámos e não devíamos gastar esse dinheiro em provas em que vamos participar”, critica.
Jorge Vieira, presidente da FPA, usou da palavra para agradecer o apoio da câmara e o “momento simbólico” que representa, notando que outras câmaras deviam seguir o exemplo de Vila Franca de Xira. “Para formar um atleta é preciso o apoio de todo o país e o apoio financeiro é importante porque sem ele não há equipamentos, estágios, entre outros”, notou. O presidente do município, Fernando Paulo Ferreira, destacou a aposta que VFX tem feito na promoção do desporto e lembrou que neste orçamento estão previstos aumentos de 53%, cerca de três milhões de euros, destinados ao investimento desportivo, incluindo a construção de um novo ginásio nas piscinas Baptista Pereira, em Alhandra, e na primeira pump track do concelho situada na Póvoa de Santa Iria.
Recordes nos mundiais de pista coberta
João Coelho integrou a comitiva portuguesa que competiu na passada semana nos Mundiais de Pista Coberta em Glasgow, na Escócia, e bateu sucessivos recordes nacionais nos 400 metros: primeiro nas eliminatórias, depois nas meias-finais e na final, carimbando um tempo final de 45.86 segundos, conseguindo um quarto lugar na final. Também em estafetas, João Coelho ajudou o quarteto luso de Ericsson Tavares, Ricardo dos Santos e Omar Elkhatib a bater o recorde nacional dos 4x400m, com um tempo total de 3:06:57.