Desporto | 12-05-2024 21:00

O sonho de ser futebolista profissional acaba muitas vezes em desilusão

O sonho de ser futebolista profissional acaba muitas vezes em desilusão
António Pacheco, filho do homenageado, juntamente com a neta, Joana Pacheco, e o bisneto, Manuel Pacheco, considerado o melhor jogador do torneio de futebol

O MIRANTE esteve à conversa com pais de crianças que participaram no torneio de futebol do Clube Atlético Riachense em homenagem a Manuel Pacheco, uma figura de referência no clube já falecida. Uma das grandes preocupações dos pais é que os filhos tenham dificuldade em lidar com a desilusão de não conseguirem ter uma carreira profissional no futebol.

O Clube Atlético Riachense organizou um torneio de futebol no Campo Coronel Mário Cunha, em Riachos, em homenagem a Manuel Pacheco, uma figura acarinhada e respeitada na comunidade que muito deu ao clube. O torneio disputado no escalão de benjamins contou com a presença de vários clubes de futebol como o Clube Atlético Riachense sub-10 e 11, Clube Desportivo de Torres Novas, Belenenses, Sporting, Académica de Santarém, União de Leiria e Footkart.
Um dos participantes no torneio foi o bisneto do homenageado, Manuel Pacheco, de 10 anos, que foi considerado o melhor jogador do torneio. Joga no Clube Atlético Riachense desde os três anos, quando pediu à mãe, Joana Pacheco, para entrar para a equipa. O futebol foi o único desporto pelo qual demonstrou interesse, além de também pertencer à banda filarmónica. Joana Pacheco, que estava na bancada a apoiar, acredita que com empenho e dedicação é possível que o filho concretize o sonho de seguir uma carreira profissional no futebol, apesar de ser um “mundo” ingrato e difícil de alcançar.
A mãe de Manuel Pacheco admite que estava disposta a mudar de vida para acompanhar o filho caso surgisse a oportunidade de jogar num grande clube, com a condição de não abandonar a escola. No entanto, preocupa-a que o filho passa não saber lidar com desilusões no futuro, reforçando o ensinamento que cada pessoa é responsável pelas suas acções.
Pelo contrário, Maria Gomes e Nuno Matos, pais de Duarte Matos, de nove anos, que está no Clube Atlético Riachense há cinco, consideram que os filhos têm é que se focar na escola e no trabalho futuramente, estando fora de questão seguirem uma carreira no futebol. “Se os nossos filhos têm o sonho de serem jogadores de futebol nós tiramo-lo porque não é para serem jogadores da bola, é para terem um emprego e uma forma de ganhar a vida”, diz Nuno Matos, explicando que ter uma carreira no futebol “é quase um milagre”.
O filho mais velho do casal, de 18 anos, está actualmente a estudar gestão nos Estados Unidos da América com uma bolsa desportiva, enquanto joga futebol na Liga Universitária. “Se consegue conciliar o futebol com os estudos ainda melhor, mas não alimentamos o sonho da carreira de jogador profissional”, frisam Maria Gomes e Nuno Matos. Para o casal, o futuro dos filhos não é uma preocupação pois acreditam que existem muitas oportunidades para quem esteja disposto a trabalhar.
Já Susana Silva, mãe de Rodrigo Silva, de nove anos, gostava que o filho tivesse continuado a praticar natação, por ser um desporto mais completo, mas destaca que o importante é que se divirtam enquanto praticam desporto. Rodrigo Silva pratica futebol há três anos e pertence ao Clube Atlético Riachense desde o início da época. Susana Silva também concorda que ser jogador profissional é uma ilusão, mas acredita que com trabalho é possível. Caso surgisse a oportunidade de o filho entrar para um grande clube, a mãe afirma que não recusaria imediatamente, tendo de analisar os prós e os contras. “Não somos muito protectores porque convém que ele vá aprendendo com os próprios erros, é assim que se cresce”, sublinha.

“Os pais cada vez menos sabem qual é o lugar deles”
A prática de futebol é encarada como um factor positivo na formação dos filhos, promovendo a criação de uma rotina, o espírito de equipa, amizade e convívio, além dos benefícios do desporto para a saúde e um pretexto para largarem os ecrãs digitais. Os pais que conversaram com O MIRANTE são unânimes quanto à protecção que se dá aos filhos hoje em dia, resultando numa menor preparação para a vida adulta. Além disso, todos concordam que os pais se intrometem cada vez mais na relação dos treinadores e professores com os seus filhos. “Os pais cada vez menos sabem qual é o lugar deles. Aqui no futebol o nosso papel é apoiar e incentivar a equipa, não temos de saber porque é que o nosso filho só joga dez minutos, por exemplo”, diz Joana Pacheco.

Maria Gomes e Nuno Matos consideram que os filhos têm é que se focar na escola e no trabalho futuramente
Susana Silva destaca que o importante é que as crianças se divirtam enquanto praticam desporto

Manuel Pacheco vivia para o Clube Atlético Riachense

Manuel Pacheco, falecido em 2013, veio para Riachos em pequeno quando os pais faleceram, tendo sido criado por pessoas da terra. Conhecido por ter trabalhado toda a vida atrás de um balcão, num talho e depois no seu próprio café, fundado em 1973 no largo da vila, criou em Riachos muitas amizades. O homenageado é recordado pela generosidade, amizade, dedicação e apoio às colectividades e, principalmente, ao Clube Atlético Riachense, do qual foi sócio e director. António Pacheco, filho do homenageado, descreve-o como um herói para a comunidade. “Ele vivia para o Clube Atlético Riachense, estava sempre disponível para ajudar o clube em tudo o que era preciso”, recordou, sem esquecer a paixão que o pai também tinha pelo Sport Lisboa e Benfica.

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