Desporto | 17-07-2024 18:00

Futebol do Vilafranquense renasce das cinzas após abandono da SAD

Futebol do Vilafranquense renasce das cinzas após abandono da SAD
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Francisco Roque, novo treinador da equipa sénior com a directora para os escalões de formação, Liliana Agostinho

União Desportiva Vilafranquense sobreviveu ao “ano zero” depois da polémica saída da Sociedade Anónima Desportiva que deixou o futebol entregue à sua sorte e a competir nas divisões mais baixas do distrital de Lisboa.

Dirigentes querem recuperar a mística do clube com a prata da casa, mas no Cevadeiro ainda há quem tenha um amargo de boca com a traição da SAD.

Se há males que vêm por bem então a polémica saída da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) que geria o futebol do União Desportiva Vilafranquense (UDV) foi um bom exemplo, permitindo ao clube voltar ao espírito do associativismo e aproximar-se dos seus adeptos. Uma convicção ouvida por O MIRANTE entre vários adeptos e dirigentes do UDV a propósito do final da primeira época em que o clube ribatejano teve de recomeçar do zero no futebol e com a prata da casa. As equipas de seniores e juniores que estavam nos nacionais foram parar às divisões mais baixas dos distritais de Lisboa, assim como as de juvenis e de iniciados. Todas subiram com excepção dos seniores.
Isto, recorde-se, na mesma época em que a SAD que saiu de Vila Franca de Xira para a vila das Aves conseguiu subir à 1ª Liga de futebol, dando razão a quem defendia há ano e meio que só a licença desportiva do Vilafranquense valeria mais que os falados 400 mil euros que a SAD então liderada por Henrique Sereno pagou ao UDV a troco de o clube abdicar dos 10% que detinha na sociedade anónima desportiva. Uma parte do valor serviu para saldar uma dívida à Segurança Social.

“Só deixaram os móveis”
Com a saída da SAD, o clube perdeu as licenças desportivas e centenas de atletas, das crianças aos seniores, tiveram de recomeçar do zero os seus percursos desportivos. “Termos permitido a entrada da SAD no clube foi a nossa desgraça. Já vimos que não funciona. É tudo gente que só quer dinheiro e na hora de irem embora até os estojos médicos levaram. Só deixaram os móveis. Foi uma vergonha”, critica a O MIRANTE Paulo Feliciano, adepto de longa data.
Apesar da incerteza, um grupo de dirigentes uniu-se para manter os jovens a jogar e uma equipa sénior a competir. Mário Cortes, 51 anos, é director para o futebol sénior e diz que eticamente o que a SAD fez ao UDV foi condenável. “Infelizmente é o futebol moderno. Já não é o primeiro exemplo em Portugal, veja-se o que fizeram com Os Belenenses e a BSAD. Devia haver legislação que defendesse estes clubes. O Vilafranquense tem uma história incrível e não há a cidade sem o União. Enquanto esteve aqui a SAD não havia identificação com a cidade porque o clube jogava em Rio Maior. E o União é o Cevadeiro”, defende a O MIRANTE.
O futebol sénior tem um novo treinador a chegar, Francisco Roque. “Voltamos a ter um clube nosso e com os nossos jovens a terem oportunidade de subirem ao escalão sénior. É nas dificuldades que se vê a força das instituições”, defende Mário Cortes. “Vamos começar a próxima época com muita força e empenho”, promete o dirigente, notando ser importante as pessoas voltarem a identificar-se com o clube, algo que não estava a acontecer com a SAD. “Acredito que aos poucos isso vai voltar a acontecer. Apostar em rapaziada jovem, um passo de cada vez e criar um grupo forte e unido para lutar pelas subidas”, partilha.

“Um murro no estômago”
Francisco Roque é o novo treinador do UDV. Foi jogador e campeão nacional no Vilafranquense, onde esteve cinco anos. Vive na Póvoa de Santa Iria, é chefe de armazém e como treinador já conquistou quatro subidas de divisão em clubes da região. Reconhece que o objectivo é criar um grupo unido e coeso para voltar a apaixonar a cidade pelo clube e lutar para subir de divisão. “O UDV quer voltar ao que era, crescer, recuperar a mística. A SAD foi embora mas não matou o nosso futebol graças às pessoas que aqui ficaram. O nosso objectivo é fazer caminho, de preferência subir e provar que a raça ribatejana continua cá”, conta.
Quem acompanhou o ano zero do clube foi Liliana Agostinho, directora da formação do futebol do UDV. “No início sentimos a revolta da cidade mas fomos sempre muito bem recebidos pelos pais. Houve uma grande incerteza o ano passado do que iria acontecer ao futebol mas conseguimos manter tudo a funcionar. Fizemos isso pelos atletas. Foi um ano muito difícil. Fico feliz com este regresso ao que o clube era”, diz a responsável, que foi também um dos rostos envolvidos na organização do primeiro torneio Vilafranquense Cup para assinalar o final da época.
“Com a descida de divisão todas as equipas sofreram mas para os Sub-19 foi um grande murro no estômago. Estavam no campeonato nacional e caíram para a 3ª divisão distrital. Mas estão a conseguir reerguer-se”, conta. Para Liliana Agostinho, um ano depois o sentimento para com a SAD não é de raiva mas de injustiça. “Andamos aqui há muitos anos e sempre representámos o União fosse com SAD ou sem ela. A cidade vestiu sempre a camisola. Sonhávamos com mais mas percebemos que não tínhamos aqui condições para chegar à 1ª Liga”, conclui.

Mário Cortes é o novo director para o futebol sénior

À margem/opinião

Onde param os dirigentes?

Finda a primeira época do futebol do UDV sem a SAD, sabe-se que o município mantém a convicção de avançar com um projecto para requalificar e aumentar a capacidade desportiva do Campo do Cevadeiro, um projecto que ainda está em desenvolvimento. Em 1957, quatro clubes da cidade fundiram-se para formar o UDV. Na última assembleia do clube, há ano e meio, os sócios deram o seu aval para que seja extinto e criado um clube seu herdeiro, que mantenha tudo na mesma excepto o nome. Um mecanismo para tentar acabar de vez com uma dívida de um milhão de euros às Finanças que, para muitos, é impagável. O UDV tem hoje várias modalidades e continua a atrair dezenas de jovens atletas e adeptos. Mas, curiosamente, a única coisa que não consegue atrair é dirigentes, desde 2011, para criarem uma lista e formalizarem novos corpos sociais, acabando assim com a comissão administrativa que tem poderes limitados de gestão. Num clube com uma história tão rica, e com a importância que tem na cidade, não se entende como uma dezena de sócios não se organiza e avança com uma lista que permita refrescar a liderança do UDV e dar à cidade um novo fôlego.

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