Francisco José é a nova estrela ribatejana dos trampolins e já pensa nas Olimpíadas de 2028
A medalha de ouro conquistada este ano na Taça do Mundo de Trampolins confirmou Francisco José como mais um talento da ginástica criado no viveiro do Futebol Clube Estevense, de Santo Estêvão. Com o treinador Bruno Nobre constitui uma dupla que se diz viciada pela modalidade e que quer continuar a voar alto.
Francisco José, ginasta de Santo Estêvão, de 16 anos, conquistou a medalha de ouro na Taça do Mundo de Trampolins ao serviço da selecção nacional, destacando-se no duplo mini-trampolim entre competidores seniores. O jovem, ainda com idade de júnior, saboreou este triunfo que representa o melhor resultado na sua carreira, superando todas as expectativas. O atleta Clube de Futebol Estevense, não esconde alguma surpresa pelo resultado alcançado. “Superou completamente as expectativas naquele que foi o nosso primeiro ano. Estávamos à espera de estar nos oito melhores, mas foi bem mais do que esperávamos”, diz. O jovem atleta, treinado por Bruno Nobre, antiga estrela da modalidade, atribui o sucesso da dupla ao esforço e à preparação meticulosa. “A sorte também é uma coisa que se trabalha. Fizemos isso muito bem”, vinca.
Competir ao lado dos seus ídolos foi um marco na ainda curta carreira de Francisco José. “Era o mais novo da competição. Foi muito interessante competir com pessoas que admiro. Há dois anos via alguns deles a competir na televisão e de repente estou no mesmo palco e ganho. É um sonho e logo na primeira prova na selecção nacional enquanto sénior”, refere.
Bruno Nobre, treinador de Francisco José, destacou a preparação estratégica que levou ao sucesso. “Um dos trabalhos de casa do treinador é observar o que os outros estão a fazer, perceber em que patamar estão e, principalmente, perceber qual será a nota a atingir. Trocámos o salto de saída por outro até inferior, mas que ele executou como planeado”, explicou o técnico e ex-ginasta consagrado, sublinhando a importância de estudar os adversários. “Nada é perfeito, mas o salto foi muito bom. A perfeição é quase impossível de atingir. Ele teve muito bem e foi superior em relação ao actual campeão do mundo Ruben Padilha, dos Estados Unidos da América, que ficou em 5.º lugar”, explicou.
“Somos viciados por isto”
A relação próxima entre Francisco e Bruno é fundamental para o sucesso. “Nós temos uma relação bastante pessoal, não é só treinador e atleta. A comunicação entre ambos é muito boa e temos o mesmo feitio pois somos viciados por isto”, afirmou Francisco. Bruno acrescentou: “somos amigos, somos companheiros, somos parceiros e nisto cria-se um elo de ligação tão grande que tem os seus quês de positivo e negativo. Sou muito amigo do Francisco, admiro-o, mas também piso quando tenho de pisar. O sucesso dele é o meu sucesso”, vincou.
O sucesso na Taça do Mundo é apenas o começo para Francisco, que já tem metas ambiciosas para o futuro. “Querendo ou não, 2025 será para mim um segundo ano de sénior e, este ano, ainda não tenho idade para ser sénior. No nosso desporto está classificado ser sénior aos 17 anos. Em 2025 temos o objectivo em duplo mini-trampolim nos World Games e o Mundial. As ambições maiores são os Jogos Olímpicos em 2028 e 2032”, revelou o jovem. Bruno Nobre partilha desta visão e está confiante no potencial do seu atleta: “Neste momento posso dizer que o Francisco José, com 16 anos, é superior ao Diogo Ganchinho com esta idade, o que quer dizer que temos uma margem de evolução muito superior e o Diogo foi a duas participações olímpicas”.
O treinador também destacou a preparação rigorosa de Francisco José para a competição, mencionando a ansiedade e a pressão que o jovem atleta sentiu. “O Francisco, na semana anterior à Taça do Mundo, notava-se nos treinos que estava perdido. Estava com uma ansiedade louca de ter de sair tudo perfeito nessa semana anterior à prova. O papel do treinador é baixá-lo à terra, mostrar calma e fazer com que concentre numa prova que é só mais uma competição”, explica.
O técnico reconheceu o apoio local recebido, nomeadamente da Câmara Municipal de Benavente e da Junta de Freguesia de Santo Estêvão, mas lamentou a falta de apoio nacional directo ao ginasta e ao treinador. “O Francisco José foi campeão do mundo júnior e não recebeu nada de nada”, afirmou. Bruno Nobre, que começou a treinar Francisco por volta de 2017, prevê um futuro brilhante para o jovem. “Percebo logo porque é diferenciado. A Inês Correia também o é, tem coisas mais evoluídas que o Francisco, uma vez que ele é mais focado e temerário, enquanto a Inês é mais medrosa e temos que ir com mais calma, mas é supertalentosa”.
Um viveiro de talentos
Bruno Nobre diz que de 10 em 10 anos surge um grande talento em Santo Estêvão. “É a média. Foi um Bruno Nobre, depois o Diogo Ganchinho, o André Nunes, o Francisco José e apareceu uma Inês Correia. Está agora a surgir uma Olívia, muito pequenininha ainda, mas parece ter muito talento”, explica o técnico do Clube de Futebol Estevense.
Apesar das dificuldades em conciliar os estudos com o desporto, Francisco José continua a progredir em ambas as áreas. “As notas escolares andam um pouco mais baixas, não são notas de excelência, mas vai conseguindo fazer os seus estudos”, comenta Bruno Nobre, reconhecendo o esforço do jovem em equilibrar os dois mundos. Com objectivos ambiciosos e uma carreira promissora pela frente, a Francisco José não lhe falta determinação para prosseguir a sua ascensão no mundo dos trampolins.