Patrícia Sampaio: da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais de Tomar ao bronze olímpico
A primeira medalha da comitiva portuguesa nos Jogos Olímpicos de Paris veio direitinha para Tomar pelas mãos da judoca Patrícia Sampaio, que assim entrou para a restrita lista de portugueses medalhados em olimpíadas. No dia da consagração, a atleta não esqueceu a cidade onde nasceu e o seu clube de sempre, a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais.
A judoca Patrícia Sampaio nunca irá esquecer o dia 1 de Agosto de 2024, quando subiu ao pódio para receber a medalha de bronze na competição de judo em -78 kg nos Jogos Olímpicos Paris2024, após bater a japonesa Rika Takayama por duplo waza-ari. O crescimento no judo da possível futura jornalista Patrícia Sampaio sempre foi uma certeza, desde os tempos em que liderou as categorias mais jovens na modalidade. Ainda sonhava a judoca com a ida a uns Jogos Olímpicos, muito antes da estreia há três anos, em Tóquio2020, já o percurso prometia grandes voos, com a conquista de medalhas mundiais e europeias em juniores e cadetes.
No mesmo dia em que recebeu a medalha de bronze no judo em Paris2024, Patrícia Sampaio não esqueceu as origens e mostrou-se orgulhosa por representar a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, revelando que estar “num ambiente pequeno e acolhedor” é parte do segredo para o seu sucesso. “É muito especial. Em Tóquio, foi muito especial ter sido a primeira atleta olímpica a representar um clube de Tomar. Só aí já foi história para a minha cidade. Agora, para além de ser história para a cidade, é história para o país”, reconheceu.
Aos 25 anos, a nova medalhada olímpica lusa fez, no rescaldo da conquista do bronze, uma ode ao seu clube e à sua cidade. “Gosto muito do sítio onde moro, gosto muito do clube onde estou. Claro que tento sempre treinar fora, no estrangeiro, tenho ajuda sempre de outros treinadores, outros treinadores nacionais ou de amigos, às vezes, onde eu tenho de treinar. E eu sou um pouco disso tudo. Mas tenho muito amor à camisola, muito amor ao meu clube. E tenho muito orgulho em representá-lo. Nós somos poucos, mas somos como uma família”, descreveu.
Essa família reuniu-se para a ver “num grande ecrã” e esteve “lá a sofrer de longe”, contou aos jornalistas na zona mista da Arena Champ-de-Mars, em Paris. “E isso é muito importante para mim, porque estou num ambiente pequeno e acolhedor e sinto-me em casa, sinto-me em família e isso para o meu sucesso, para a minha preparação também é importante. Eu sinto-me na minha zona de conforto quando estou lá”, confessou.
No seu discurso, Patrícia Sampaio não esqueceu duas pessoas, o treinador Marco Morais e o irmão Igor, muito interventivo desde as bancadas. “Ouvi algumas coisas, mas de fora ouvi muito pouco. Acho que hoje estava mesmo… mesmo o Marco nem sempre eu ouço. Leio os lábios ou os gestos que ele faz com as mãos. Porque, às vezes, com aquela barulheira toda, por muito que queiramos, é difícil focar numa voz. Portanto, eu prefiro... Ele está perto, eu tenho confiança naquilo que ele está a dizer, olho e às vezes é só tipo um fixe, ou a mão assim, ou ‘faz isto’, ou ‘continua’”, explicou, enquanto gesticulava para exemplificar. Se nem precisou de ouvir Marco Morais, bastando “ler a linguagem gestual”, a judoca tomarense conseguiu “ouvir de vez em quando” o irmão, com quem treina todos os dias.
Patrícia Sampaio recebida por multidão no regresso a Tomar
Patrícia Sampaio não escondeu a emoção durante a homenagem que lhe foi prestada pelo povo da sua cidade no dia em que regressou a Tomar com a medalha de bronze conquistada nos Jogos Olímpicos de Paris. Uma multidão encheu a Praça da República na tarde de segunda-feira, 5 de Agosto, para receber em apoteose a judoca da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais.
A atleta fez-se acompanhar do seu irmão e treinador Igor Sampaio. Os pais de Patrícia Sampaio também subiram ao palco. O presidente da câmara, Hugo Cristóvão, esteve presente, assim como outros autarcas. “Quero agradecer-te muito, a ti, ao Igor e à Gualdim Pais. Esta medalha é um feito histórico e de muito orgulho, não és apenas uma atleta da terra, mas uma atleta de um clube tomarense e nunca deixaste de o ser, é um motivo de orgulho, um motivo de exemplo”, sublinhou Hugo Cristóvão.
Patrícia Sampaio mostrou-se emocionada com a homenagem. “Não esperava ver esta mancha gigante de pessoas e é incrível, só posso sentir gratidão por toda a gente que dedicou o seu tempo a estar aqui a homenagear-me”, referiu. A judoca garantiu que a ligação a Tomar é para continuar. “Gosto muito desta cidade, adoro o meu clube. A minha vida está toda aqui, a minha família, os meus amigos de infância e adolescência, e isso é muito especial para mim”.
Um percurso com muitas medalhas e algumas lesões
Patrícia Sampaio começou a distinguir-se no judo desde muito nova com resultados que a catapultaram entre 2017 e 2019 para a liderança nas categorias mais jovens, mas com uma vida que se começava a dividir entre Tomar e Lisboa, numa lufa-lufa entre treinos na Sociedade Filarmónica Gualdim Pais e o curso de Comunicação Social. Em Lisboa, Patrícia Sampaio apostava no treino no Centro de Alto Rendimento e no apoio do Judo Clube de Lisboa, nos momentos em que não ia ter com o irmão, treinador e ídolo, Igor, à sociedade tomarense, numa cave quase sem luz, ilustrada com uma moldura do fundador do judo mundial, Jigoro Kano.
A afirmação em seniores começou pouco depois, no ano seguinte, de 2020, mas foi também quando surgiram os primeiros contratempos físicos, já depois de medalhar no início de 2020 em provas do circuito internacional (Telavive e Düsseldorf). Uma grave lesão, fractura com luxação na perna direita, em Outubro de 2020, afastou-a dos tatamis, com um regresso apenas em Abril de 2021, nos Europeus em Lisboa, onde se voltou a lesionar, desta vez com uma microrrotura muscular.
O seu espírito combativo levou-a novamente a transcender-se em Maio de 2022, quando, nos Europeus, em Sófia, gritou de dor ao lesionar o ombro direito e foi obrigada a desistir da competição, em que lutava por um lugar na final. Uma lesão que a forçou a nova paragem prolongada, mas a tomarense foi buscar a tal resiliência e matéria que faz os campeões para renascer, qual fénix, em 2023, com a medalha de ouro a abrir o circuito: no Grand Prix de Almada. Foi um ano de apuramento olímpico que trouxe muitas medalhas à judoca, nos Grand Slam (Telavive, Tashkent, Antália, Barysy, Ulaanbaatar) e o primeiro bronze num Europeu, em Novembro em Montpellier.