Miguel Coelho e Inês Fonseca são duas jovens promessas do ciclismo em Salvaterra de Magos
Miguel Coelho e Inês Fonseca têm 14 anos e uma maturidade que o ciclismo lhes deu. Miguel corre no clube de Alenquer e Inês pelo Águias de Alpiarça, embora sejam naturais do concelho de Salvaterra de Magos. Os pais fazem das tripas coração para que continuem a seguir os seus sonhos, com os clubes a ajudar no que podem.
Miguel Coelho e Inês Fonseca, o primeiro natural de Salvaterra de Magos e a segunda de Glória do Ribatejo, são dois jovens ciclistas cheios de garra, maturidade e fome de vencer que sonham com a profissionalização, mas que não deixam de estudar porque viver do ciclismo em Portugal é um feito ao alcance de poucos. O MIRANTE conversou com o atleta do Alenquer-GDM-Anipura e com a atleta do Águias de Alpiarça, ambos de 14 anos, para ficar a conhecer os percursos.
O jovem, cadete de primeiro ano, é o mais novo no Alenquer-GDM-Anipura, equipa que se classificou em primeiro lugar na Volta a Portugal de Cadetes, da qual saiu vencedor Leonardo Garcia, 17 anos, do Algarve. “Gosto imenso dele. É uma pessoa que me inspira e tenho amizade e respeito pelo que conseguiu”, diz Miguel sobre o colega. Miguel cresceu a ver o pai correr de bicicleta, um dia, por acaso, foi ver uma prova de cadetes e chegou a casa e disse que queria praticar a modalidade. Tinha 12 anos e já tinha praticado natação e judo. Iniciou-se nos juvenis do Alenquer, onde tem a sorte de ter condições porque os patrocinadores ajudam, como a Câmara de Alenquer. Têm inclusivamente um centro de estágios onde podem passar os fins-de-semana a treinar em equipa, pernoitando em beliches.
Miguel Coelho não pousou a bicicleta de milhares de euros, comprada pelos pais, durante toda a entrevista, onde fala com entusiasmo da modalidade. Chuva, vento e frio não são desculpa para não treinar: “esteja o tempo que estiver vou porque tenho imensa dedicação. Se tenho o treino é para cumprir”. Vai para o 9º ano de escolaridade em Salvaterra de Magos e no 10º gostava de frequentar um curso profissional de Desporto, mas receia ter de ir para Benavente devido à falta de oferta e passar a chegar tarde para treinar.
Lamenta que Salvaterra de Magos não tenha equipa, mas dá a entender que está a ser desenvolvido trabalho nesse sentido. Quer concretizar o sonho de ser ciclista profissional ou, em alternativa, ir para a universidade formar-se em metodologia de treino de ciclismo, para ajudar outros a conseguirem o que não conseguiu. Para si, um bom ciclista tem de ter coragem, força mental, dedicação e saber abdicar de algumas coisas na alimentação e saídas à noite. O objectivo para a próxima época é ser campeão nacional e está a treinar 11 horas semanais.
Inês concilia o ciclismo com os estudos e o rancho
As inspirações de Miguel Coelho são António Morgado, vice-campeão do mundo e Inês Fonseca, vencedora de La Vuelta Juvenil 2024, campeã nacional de ciclocross, estrada, BTT e pista na categoria de contrarrelógio, tendo já revalidado o título de ciclocross. Inês Fonseca aprendeu a andar de bicicleta com o pai aos 3 ou 4 anos de forma lúdica e um dia, à semelhança de Miguel, foi ver uma prova de BTT dos primos e pediu para experimentar a modalidade, que concilia com os ensaios e actuações do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Glória do Ribatejo, que a apoia como atleta.
Frequentou várias escolas de ciclismo – Escola de BTT SFA 1º Dezembro, em Alpiarça, que cessou actividade, BTT Marinhais e Associação 20Kms de Almeirim. “Sempre gostei de competir, fascinava-me, entusiasmava-me, dava pica”, conta. Vai normalmente até à Barragem de Magos e no BTT treina pela charneca. A mãe utiliza a acelera para a estrada e o pai a mota todo-o-terreno para os trilhos, quando não é o avô a ajudar nos treinos com menos intensidade. Inês está no último ano da formação, tem cinco meninas na sua equipa e com a subida de escalão vai passar de quatro treinos por semana para seis, sendo que no ano passado os pais optaram por fazer alguns treinos à distância, porque estavam a ser “incomportáveis” as deslocações a Alpiarça, explica a mãe, Eulália Santos. Inês Fonseca tem duas bicicletas que ficaram a cargo dos pais, mas o clube tem conseguido ajudar com deslocações para as competições e estadia.
O pai, Leonel Fonseca, revela que nos centros de alto rendimento, além da ética, é transmitido aos atletas que não se podem “agarrar ao ciclismo”. O pai mostra-se indignado como é que em Espanha existem selecções regionais e “a associação de Santarém nem um sistema cronometrado electrónico tem”, lamentando que muitos jovens com potencial fiquem pelo caminho. Recorda a primeira prova internacional da filha, este ano, a Estella, Espanha, em que a viagem de 900 quilómetros foi feita durante 12 horas numa carrinha.
A estudar em Marinhais no 9º ano, Inês Fonseca está a pensar seguir Ciências, mas ainda está numa fase de se descobrir e do que gosta. O desporto tem-na ajudado a ter métodos de trabalho e objectivos.