Desporto | 06-11-2024 18:00

Trilho dos Cágados atrai amantes do trail a Vila Chã de Ourique

Trilho dos Cágados atrai amantes do trail a Vila Chã de Ourique
Trilho dos Cágados treina às quartas-feiras em Vila Chã de Ourique

Três atletas de trail impulsionaram a modalidade em Vila Chã de Ourique, no concelho do Cartaxo, e formou-se uma associação que aos dias de hoje conta com 14 elementos. O Trilho dos Cágados oferece cinco percursos e é lá que treinam o campeão Miguel Ribeiro e a vice-campeã Anabela Santos.

Miguel Ribeiro, Francisco Monteiro e Paulo Pinto levaram a modalidade de trail para Vila Chã de Ourique. O Trilho dos Cágados é uma ideia dos três atletas que viram num espaço de mato um percurso de trail para poderem treinar durante o confinamento, quando não havia provas. Passaram a ideia para um guardanapo, agarraram nas enxadas e na gadanha e abriram os trilhos. A aventura durou dois anos, mas a manutenção tem de ser feita ao longo de todo o ano.
Todos os dias, depois de um dia de trabalho na construção civil, Miguel Ribeiro, de 46 anos, vai treinar uma hora e meia. Por vezes é à meia-noite, “é quando dá”, explica. Natural de Vila Chã de Ourique, passou a juventude onde hoje é o Trilho dos Cágados a andar de bicicleta e a pé nos finais de tarde. Em miúdo praticou atletismo de competição no Estrela Ouriquense e quando a secção foi extinta rendeu-se ao futebol, onde ainda foi treinador. “Para aliviar a cabeça”, e como gostava das provas de corta-mato, voltou a correr e iniciou-se no trail com 34 anos e já completou “milhares” de provas. O rosto do tricampeão do mundo de masters de trail, campeão da Europa, a que se soma uma medalha de bronze, e várias vezes de vencedor do circuito nacional de trail no escalão, a título individual e por equipas, é bem conhecido no concelho do Cartaxo e motivo de inspiração.
Pertenceu a uma equipa que existiu em Vila Chã de Ourique – “Os Saramagos” –, ao Trilho Perdido, de Abitureiras, e à Zona Alta, de Torres Novas, ambas as equipas durante quatro anos. Representou a secção de trail da Casa do Povo de Alcanena durante um ano e está há dois no Grupo Desportivo Piranhas do Alqueva. A primeira prova de 180 quilómetros em Penhas da Saúde, em 2022, foi a mais difícil até hoje, por ser de noite e pelo frio que se fazia sentir naquele dia. “São muitas horas sozinhos, vamos pensando na vida. O que me mantém motivado é servir de exemplo e ver os meus colegas a evoluir”, refere. Corre “para poder comer e beber de tudo”, diz na brincadeira, e vai continuar a trilhar o seu caminho até as pernas deixarem, sendo que ainda pretende ir à mais prestigiada corrida de ultra-trail do mundo, o Ultra-Trail du Mont-Blanc (UTMB), nos Alpes.

O trail como remédio para a fibromialgia
A história do Trilho dos Cágados também se escreve no feminino. Anabela Santos, 54 anos, de Santarém, está ligada à associação porque conhecia Miguel Ribeiro de uma clínica de fisioterapia em Lisboa quando se lesionou. Na pandemia, quando soube do projecto, disponibilizou-se para ajudar e é a autora das letras na Barraquinha dos Cágados, no parque de merendas, onde inicia o trilho; das marcações e lonas, que cortou cuidadosamente a x-acto. Há cinco anos começou a caminhar, tem fibromialgia e o desporto fez com que conseguisse deixar a medicação por completo, aliviando-lhe as dores.
A primeira prova em que participou foi o Assalto a Santarém, organizado pelo Scalabis Night Runners, um trail nocturno de 18 quilómetros que pareciam uma eternidade na altura, até porque foi sem saber que ia correr, incentivada por um colega de trabalho. Integrou dois anos o grupo Pace Makers, de Santarém, e integra, desde 2021, o projecto Desafios Positivos D+. Comercial de automóveis, reserva os fins-de-semana para os treinos e provas. Já venceu o escalão no circuito do Ribatejo, conseguiu dois terceiros lugares no circuito nacional, foi à taça de Portugal, campeonatos da Europa, do Mundo e a sua equipa sagrou-se este ano vice-campeã do mundo de longa distância (34 quilómetros) no escalão F50, em Canfranc. Em 2019 aceitou ser operada ao joelho para poder continuar a correr.

A riqueza do Trilho dos Cágados
Para Miguel Ribeiro, o Trilho dos Cágados vale pela paisagem, dureza e desafio. A 19 de Outubro deste ano a associação promoveu o primeiro treino da modalidade de backyard, cuja prova oficial será em Maio do próximo ano. Trata-se de um percurso de 6706 metros que tem de ser percorrido numa hora e se sobrar tempo o atleta pode descansar. A todas as horas há uma partida e o último a desistir é o vencedor. O Trilho dos Cágados é composto por um percurso circular organizado por sectores e começa no parque de merendas. O percurso permite fazer uma caminhada de 10 quilómetros, mini-trail de 10 quilómetros, trail-curto de 16 quilómetros (850 metros de desnível) e trail-longo de 23 quilómetros (1150 metros de desnível). A associação tem 14 elementos entre direcção e praticantes. “Mais dia, menos dia”, o Trilho dos Cágados crê que será encontrado um espaço para ter a própria sede.

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