Desporto | 25-11-2024 18:00

Ismael Graça tornou-se nadador salvador para ter mais tempo para o ciclismo

Ismael Graça tornou-se nadador salvador para ter mais tempo para o ciclismo
Ismael Graça é natural do Granho, no concelho de Salvaterra de Magos, e ciclista há 20 anos

Ismael Graça é um entusiasta do ciclismo e tem o compromisso de um atleta profissional, com a diferença de que o seu sustento vem do trabalho como nadador salvador nas piscinas municipais de Salvaterra de Magos. A O MIRANTE fala de como o pai foi uma influência, da troca de emprego por amor ao ciclismo e do acidente em 2011 que lhe deixou marcas para toda a vida.

Foi há 20 anos que o ciclista Ismael Graça, de 39 anos, agarrou na bicicleta para nunca mais a largar. Na casa dos pais, no Granho, concelho de Salvaterra de Magos, sempre se respirou desporto, fosse atletismo, ciclismo ou motocross. Exemplo disso é o pai, que aos 67 anos ainda compete no ciclismo e há bem pouco tempo sagrou-se campeão nacional de contra-relógio na sua faixa etária. Em 2008, Ismael Graça deixou o trabalho nas obras para ser nadador salvador e ter mais tempo para a bicicleta, destacando-se em 2022 como campeão nacional de XCO, XCC e vencedor da Taça de Portugal de XCM no escalão M30. Em 2023 foi campeão da Europa de resistência BTT e 16º no Europeu de XCM em França, tendo iniciado há quatro anos a vertente de ciclocrosse que é a que tem gostado mais. Este ano venceu as primeiras duas provas da Taça de Portugal de ciclocrosse em M40
Um convite do pai para uma ida a Fátima de bicicleta, em 2004, quando trabalhava como jardineiro depois de ter abandonado o curso de Gestão na Escola Profissional de Coruche, trouxe à tona o seu espírito competitivo. Tinha uma bicicleta comprada há alguns anos com o dinheiro de trabalhos no Verão e foi essa que levou. Começou a ir aos passeios de cicloturismo dos Ciclopampas, do Granho, e depois veio a prova que o levou ao mundo do BTT, uma resistência de seis horas em Rio Maior.
Federou-se em 2006 pelo Clube de Ciclismo José Maria Nicolau, que existia no Cartaxo. Nessa altura já trabalhava nas obras 12 e 13 horas por dia, levando a bicicleta para correr depois do trabalho. No ano seguinte não concluiu a Taça de Portugal porque os dias mais longos significavam mais trabalho e influenciado por amigos das bicicletas que tinham sido nadadores salvadores, e que viam em si competências, decidiu tirar o curso. Solteiro e sem filhos, trabalhar por turnos era a melhor opção para poder treinar e encontrou solução na Búzios - Associação de Nadadores Salvadores de Coruche, onde trabalhou uma década até ser pai.

“Um bom nadador salvador não é o que faz muitos salvamentos”
Concorreu a uma vaga da Câmara de Salvaterra de Magos e é nadador salvador nas piscinas municipais. Afirma que tem de saber quase tudo como um bombeiro e renova o curso de três em três anos. Na sua opinião, a profissão não é suficientemente respeitada, a começar pelos nadadores salvadores que vê a arrumar cadeiras e colocar chapéus de sol na praia. “Um bom nadador salvador não é o que faz muitos salvamentos ou ocorrências durante o ano. É o que não faz nada”, refere, explicando que o segredo está em alertar os utentes.
Consegue treinar diariamente cerca de 80 a 90 quilómetros, maioritariamente em estrada para ir com os amigos, embora o seu foco seja mais o BTT, XCO e ciclocrosse, correndo Portugal de norte a sul do país em representação do Clube de Ciclismo de Castelo Branco. “Para um atleta amador que não ganha ordenado, andar nas bicicletas há 18 anos não é fácil. Somos profissionais, mas não ganhamos ordenado. É pior ainda porque o atleta profissional vai treinar à hora que quer e descansa e eu tenho o meu trabalho”, argumenta, acrescentando que as ajudas funcionam por pódios, internamente.
Ismael Graça revela que em 2007/2008 teve pelo menos dois convites para ser profissional de estrada, mas como não era a vertente de que mais gostava e tinha um bom ordenado manteve-se a trabalhar. Não é adepto de andar demasiadas horas em cima da bicicleta “porque se começa a sofrer demasiado psicologicamente”. As diferenças que sente aos 39 anos são na explosão no início da corrida e não na resistência.
Para poupar dinheiro faz a manutenção das suas bicicletas e tenta não ir atrás do marketing e material topo de gama. A maior dificuldade tem sido manter o peso ideal, porque um quilo numa subida faz toda a diferença, afirma. A 12 de Março de 2011, Ismael Graça foi cuspido da bicicleta numa descida, numa prova de BTT, e partiu o pé porque o colega da frente travou sem que se apercebesse de que seguia atrás. Esteve 15 dias internado, quatros meses com gesso e um ano sem trabalhar. Apesar de hoje não conseguir correr e só conseguir andar a pé pouco mais do que uma hora seguida, o seu único medo foi não poder voltar ao ciclismo.

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