Em Rio Maior há uma associação que utiliza as artes marciais para moldar as futuras gerações
Através da arte marcial Kempo, a Associação Kempo Chinês de Rio Maior forma não só atletas, mas cidadãos comprometidos com valores como respeito, superação e solidariedade.
Fundada em 2008, a Associação Kempo Chinês de Rio Maior é um verdadeiro exemplo de dedicação, impacto social e valores humanos. Liderada pelo treinador Humberto Santo e pela vice-presidente da direcção Carlota Soares, a colectividade não só ensina a arte marcial, mas também forma crianças e jovens para a vida, num ambiente onde o respeito, hierarquia e o sentido de família são os pilares fundamentais. O objectivo, segundo os responsáveis, é alcançar a harmonia entre o espírito, mente e corpo, algo que é transmitido aos cerca de 60 atletas, a maioria crianças com menos de 12 anos. As aulas incluem duas vertentes principais: o tradicional, que abrange formas com armas e defesa pessoal, e a parte desportiva, com seis a sete tipos de combates diferentes. “Procuramos dar o exemplo e ensinar o que significa o respeito”, afirma o treinador, reforçando que a educação moral e ética é parte integrante do treino. Humberto Santo relata que, em alguns casos, os pais chegam a pedir ajuda para complementar a educação dos filhos. “Há situações em que os pais nos pedem para ajudar a educar os filhos e felizmente temos tido resultados muito gratificantes”, vinca.
A preparação dos alunos para as competições é uma das tarefas mais exigentes. “É um processo rigoroso porque as competições exigem muito dos atletas, tanto física quanto mentalmente. A fasquia está cada vez mais alta e os atletas precisam de estar focados para alcançar os seus objectivos”, refere. Para preparar os alunos, o treinador aplica uma metodologia exigente, mas estratégica. “Coloco bastante pressão sobre eles durante os treinos, para que, quando chegarem à competição, sintam que o ambiente real é menos intimidante do que imaginaram”, conta.
Uma associação familiar
A Associação Kempo Chinês ocupa, desde 2014, as instalações cedidas pelos Bombeiros Voluntários de Rio Maior, fruto de um protocolo municipal, no qual foram vários clubes ocupar o espaço. No entanto, “com o passar do tempo os outros clubes foram saindo e nós fomos os únicos que ficámos”, revela Carlota Soares. O espaço tornou-se mais do que um local de treino, para muitos jovens é um refúgio. “Temos crianças de famílias com dificuldades, pais divorciados, e muitos vêem o Humberto como uma figura paternal”, partilha a vice-presidente. O impacto do Kempo estende-se para além das técnicas de combate. As crianças com desafios físicos e psicológicos encontram na associação um lugar para crescer. “Tivemos uma menina que quase não conseguia andar e agora salta à corda, e um menino que não socializava e hoje é uma criança cheia de energia”, conta o treinador. Este trabalho é reforçado com um programa de Kempo adaptado, concebido para responder às necessidades de cada aluno. Com espaço limitado e uma crescente procura, o próximo grande objectivo da associação é expandir para acolher mais alunos. A sustentabilidade da associação depende principalmente de dois pilares, os subsídios anuais atribuídos pela câmara municipal e as mensalidades pagas pelos atletas. No entanto, essas mensalidades são mantidas a um valor mínimo, muito abaixo do praticado noutras academias da região, como forma de garantir que as famílias locais tenham acesso ao Kempo, independentemente da sua condição económica.
Uma vida dedicada ao Kempo e à formação
A paixão de Humberto Santo pelas artes marciais começou ainda na infância, quando, aos 12 anos, tomava decisões audazes para seguir o seu sonho. “Fugia do meu pai para ir treinar”, relembra com humor. Nos Casais Monizes, a sua terra natal, dois colegas abriram uma escola de artes marciais. “Experimentei e gostei, até porque já tinha essa ideia desde pequeno”, revela. Um encontro na federação portuguesa de Kempo foi um divisor de águas. A partir desse momento, o treinador viu uma oportunidade única, trazer o Kempo para Rio Maior. Começou a treinar cinco vezes por semana. A sua dedicação e paixão levaram-no a abrir a sua primeira escola em Alcobertas, em 2006, onde esteve durante 10 anos. Em 2012, expandiu o seu alcance, assumindo também uma escola em Santarém, mostrando o seu empenho em divulgar e ensinar a arte marcial. Finalmente, em 2016, Humberto Santo transferiu o foco principal da sua actuação para Rio Maior, onde assumiu a liderança da escola local.