Sport Abrantes e Benfica quer ser uma montra de talento no futebol de formação
Presidente do Sport Abrantes e Benfica, Paulo Neto, e o coordenador do futebol de formação, Francisco Macieira, afirmam que formar e desenvolver jovens enquanto pessoas e atletas são os principais objectivos do clube. Gerir os desafios e dificuldades que os escalões mais jovens proporcionam e voltar a colocar atletas abrantinos na órbita dos grandes clubes nacionais são outras metas que têm sido trabalhadas.
Priorizar a vertente humana na formação e desenvolvimento dos atletas é a principal missão do departamento de formação do Sport Abrantes e Benfica. O presidente, Paulo Neto e o coordenador do futebol de formação, Francisco Macieira, garantem que a formação é o ponto primordial do grupo e que a vertente desportiva deve estar presente, mas como complemento, sendo a formação fundamental. Francisco Macieira, de 22 anos, começou no futebol aos cinco anos e é agora atleta da equipa sénior, que acumula com as funções de coordenador do futebol de formação. O jovem defende que o treinador de formação, mais do que perceber de futebol, tem de ser um gestor de seres humanos. Criar um grupo forte e coeso é o caminho que acredita ser mais correcto na formação.
Paulo Neto está ligado ao clube desde o ano 2000, sendo presidente há 13 anos. Afirma que uma das principais dificuldades é gerir os escalões mais jovens. “Os juvenis, principalmente, são os piores. Estão entre os 14 e os 15 anos e já é uma idade em que acham que eles é que têm as respostas todas e sabem tudo. Querem ser independentes e à maneira deles. É uma altura complicada. Além disso começam os namoros, as saídas à noite, o álcool e em alguns casos o tabaco”, lamenta. O presidente do clube conta que, certa vez, em véspera de jogo, chegou a ir a algumas festas nocturnas no concelho e deu conta da presença de grande parte dos atletas desse escalão. “Depois aparecem cansados para o jogo. Alguns, como estão na idade em que querem ser engraçados, até aparecem bêbados, e é uma pena… Mas é extensível aos seniores e, infelizmente, nota-se bem quando há festas aqui perto, porque o rendimento cai muito”, afirma. Paulo Neto afirma que o grande foco, actualmente, é a formação, onde o clube conta com 10 equipas, a partir dos cinco anos e com 204 atletas inscritos.
Há mais de uma década, o Sport Abrantes e Benfica catapultava atletas para grandes clubes do panorama nacional. Actualmente, alguns atletas na faixa etária dos 10 anos, ainda vão prestar provas a clubes como o Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa e Benfica, mas Paulo Neto e Francisco Macieira afirmam que é um grande objectivo voltar a tornar o clube numa montra de talento. “Chego a falar com pessoas que me dizem que o Sport Abrantes e Benfica é um gigante adormecido. Temos atletas com muito talento, aqui e em todo o concelho, e é preciso voltar a conseguir levá-los a palcos maiores”, diz Francisco Macieira.
Um dos casos mais recentes da exposição de atletas do clube é o de Joana Marchão, atleta da selecção portuguesa de futebol feminino, com passagem pelo Sporting CP e que cumpriu grande parte da formação no clube abrantino. Desportivamente, a médio prazo, Paulo Neto e Francisco Macieira afirmam que os objectivos passam por colocar a equipa de juniores na primeira divisão distrital e em quatro anos conseguir colocar a equipa de iniciados no campeonato nacional.
Segundo dizem, uma das grandes dificuldades do trabalho no futebol de formação é lidar com os encarregados de educação. “A educação tem de partir de casa e dos pais. Aqui é apenas um complemento. São os pais os grandes responsáveis pelo sucesso ou insucesso dos filhos no desporto e em que área for. Em nada é benéfico estarem, durante treinos e jogos, a gritar para o campo para corrigir ou reclamar com o treinador, porque treinadores de bancada todos somos, mas não reconhece o esforço de quem, verdadeiramente, está ali, ao frio e à chuva a perder horas de tempo pessoal e familiar”, lamenta Paulo Neto.
Falta bairrismo e união em Abrantes
Paulo Neto diz que é de enaltecer e elogiar quem está ligado e contribui para o associativismo. Segundo o presidente do clube, há cada vez menos jovens a quererem estar envolvidos, o que acaba por colocar em risco o espírito das colectividades. “As dores de cabeça e chatices são muitas e o retorno, muitas vezes, nem se justifica. Os mais novos querem todos alguma coisa em troca do seu tempo, como algum retorno financeiro e não estão dispostos a ligarem-se ao associativismo. Nos últimos anos, temos concorrido à direcção apenas com uma lista, à semelhança de muitos outros clubes e associações do concelho e do distrito. O dia que não concorrermos, o clube acaba”, lamenta.
A falta de união e de bairrismo na cidade de Abrantes é outro dos aspectos que o presidente do clube critica. “No Pego, por exemplo, se for preciso algo para o clube as pessoas unem-se todas para ajudar. Aqui não. Falta bairrismo, falta união. O tecido empresarial também devia olhar para os clubes e para o serviço social dos clubes com outros olhos. Talvez assim pudéssemos almejar outros sonhos e objectivos”, diz Paulo Neto, aproveitando para agradecer os apoios da Associação de Futebol de Santarém e do município que, apesar de não serem suficientes para tudo, constituem uma preciosa ajuda.