Reformados de Alpiarça saem de casa e dos lares para praticar boccia
Nuno Alves lançou o desafio aos seniores de Alpiarça para experimentarem o boccia. Agora, são cerca de 40 idosos que semanalmente saem de casa ou dos lares do concelho para praticarem desporto.
Inicialmente pensado para pessoas com deficiência, o boccia tornou-se um dos desportos predilectos dos seniores do programa municipal Alpiarça Ativa +55 e inclusivo no sentido literal da palavra. Nuno Alves, 47 anos, experimentou a modalidade em 2023 com o grupo e desde logo ficou fã do desporto. Propôs ao Clube Desportivo “Os Águias” de Alpiarça treinos regulares e já são cerca de 40 praticantes nos dois treinos semanais: às sextas-feiras de manhã para os utentes dos lares do concelho, ARPICA e Fundação José Relvas, e depois de almoço para os seniores e outros que queiram juntar-se.
A mãe do treinador, Francelina Alves, 71 anos, foi campeã nacional recentemente e o treino é mais um pretexto para se encontrarem. “A minha mãe começou nesta modalidade porque eu a convidei. Foi uma forma de ela sair de casa, estar ocupada, socializar e fazer uma actividade adequada à sua condição física. No início tinha pouca precisão no jogo, mas com os treinos foi melhorando e já consegue fazer grandes jogadas”. Francelina Alves, natural de Ansião e reformada da Fundação José Relvas, não falta a um treino e uma semana antes da competição quis jogar sozinha para se preparar. “Penso que foi uma mão divina, eu não tinha aquelas capacidades”, diz com boa disposição.
É essa determinação e boa disposição que se observa no treino de seniores a que O MIRANTE assistiu, com algumas pessoas com muitas dificuldades de locomoção e até insuficiência respiratória a desafiarem-se. Na sessão participaram ainda duas alunas estagiárias de Desporto da Escola José Relvas, Carolina Presúncia, 17 anos, e Cauane de Paula, 20 anos, que ajudaram nas medições e foram contribuindo para a boa disposição. Nuno Alves explica que os entendidos dizem que são necessários dez anos para se aprender a jogar boccia. Nos primeiros tempos ensina a lançarem a bola corretamente e só mais tarde a estratégia. “Requer sempre progresso e aprender novas dicas”, acrescenta.
Nuno Alves conheceu a modalidade há 19 anos no CRIAL – Centro de Reabilitação e Integração de Almeirim e utiliza-a diariamente com os alunos e utentes com maiores limitações físicas, aprendendo muito do que sabe com David Henriques, do Centro João Paulo II, em Fátima, treinador da campeã mundial de boccia presente nos Paralímpicos 2024, Ana Sofia Costa, e juiz internacional.
Nuno Alves é responsável pela modalidade na Coordenação Local de Desporto Escolar da Lezíria e Médio Tejo e este ano decidiu tirar o curso de árbitro de boccia. Os alunos do CRIAL participam nas competições do Desporto Escolar há vários anos, tendo vencido quatro vezes o Campeonato Regional de Boccia de Lisboa e Vale do Tejo e, em quatro ocasiões, atingido o pódio no Campeonato Nacional do Desporto Escolar, nas competições individuais e por equipas. No CRIAL são ainda praticados outros desportos, como judo, futebol, basquetebol, corfebol e rugby, representando o judo do distrito cerca de 50% do que se faz a nível nacional, exemplifica. Participaram também nas competições da PCAND (Paralisia Cerebral - Associação Nacional de Desporto) com uma atleta em BC3, tendo obtido o 5º lugar no Campeonato Nacional Masculino e Feminino em 2022 e o 4º lugar em 2023.
Nesta época, Nuno Alves diz que não estava à espera de tantas vitórias e do primeiro lugar da sua mãe na primeira participação. “Senti-me orgulhoso e satisfeito ao ver que estamos a fazer um bom trabalho”, refere. Num torneio de boccia sénior, em Março do ano passado, organizado pela Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, a equipa de Alpiarça foi a 2ª classificada. Nuno Alves realça a importância do desporto e do desporto adaptado, contando que foi através do boccia que a sua atleta do CRIAL conheceu o mar e viu fogo-de-artifício.
Boccia carece de mais apoios
Nuno Alves refere que a modalidade precisa de mais apoios e revela que um kit de bolas pode rondar os 500 euros. O clube, que pagou as inscrições a todos os seniores, vai investir cerca de mil euros na pintura das linhas do campo que tem sido desenhado a fita adesiva. Equipar os atletas é outro dos desejos do treinador para os seus praticantes, que podia ser concretizado com a ajuda de patrocínios. O projecto arrancou numa parceria com o município, com o apoio da Junta de Freguesia de Alpiarça e do Programa Nacional de Desporto para Todos, do Instituto Português do Desporto e da Juventude.