No Salvaterrense é o presidente que serve cafés e bebidas durante os treinos
Depois de um dia de trabalho, o presidente do Clube Desportivo Salvaterrense vai servir ao balcão do bar do clube até que os treinos acabem. É assim todos os dias desde há cinco anos, quando entrou para o cargo. As conversas em casa giram à volta do clube pelo qual diz ser completamente apaixonado. Mas no final da época quer sair porque está cansado.
António José Soares despede-se no final da época do centenário Clube Desportivo Salvaterrense, fundado a 6 de Janeiro de 1925. Presidente desde 2020, aprendeu a dar o exemplo na bancada e conta que desde essa altura que tem saudades é de ir à pesca “e não ouvir ninguém”. “O corte do cordão umbilical vai ser duro, sou completamente apaixonado pelo Salvaterrense, mas também tenho noção de que é isso que me esgota. Não consigo abstrair-me do clube”, afirma o dirigente de 47 anos, natural de Salvaterra de Magos.
Quando sai do trabalho em Lisboa, como técnico de assistência a equipamentos de hotelaria, vai para o campo do clube abrir o bar para que os pais possam beber um café ou comer enquanto assistem aos treinos dos filhos. “Não consigo ser aquele presidente que fica de braços cruzados, arregaço sempre as mangas”, explica. Apesar de não pertencer à direcção, é a esposa que gere as mensalidades da formação e as encomendas dos equipamentos dos 180 atletas do clube.
António José entrou para o Salvaterrense integrando a equipa de andebol onde foi campeão nacional de infantis. Depois foi para o futebol. As melhores memórias de jogador foram alguns golos, o apuramento de campeão em juniores e as vezes em que representou a selecção distrital. Jogou sempre a lateral esquerdo e acabou a carreira aos 35 anos a jogar no meio campo. Durante a presidência jogou um ano nos veteranos, mas por falta de tempo deixou a equipa. “Ser presidente de um clube transforma-nos de uma maneira que nem calculávamos que fosse possível. Enquanto adepto pode-se responder a tudo, enquanto presidente tem de se saber estar, ouvir e resolver problemas”, relata.
Esteve ligado à Escola de Ténis da Casa do Benfica de Salvaterra de Magos como treinador. Com a entrada do filho no futebol do Salvaterrense, regressou ao clube que estava na eminência de cair numa comissão administrativa devido a uma crise directiva. Com a sua equipa conseguiu um mini-sintético, uma viatura e iluminação LED. O clube tem equipas desde Sub 6 a veteranos, excepto juniores, que esperam voltar a ter no próximo ano com a subida de juvenis. As equipas estão todas na primeira divisão, menos os juvenis. O presidente diz não se sentir seduzido pela política, mas admite que podia ser um bom elemento para ajudar no desenvolvimento do concelho.
A equipa principal está em último no campeonato regional da primeira divisão, o que se explica pela prioridade que foi dada na estabilidade financeira e na formação. O dirigente reforça que “o futebol distrital subiu a patamares que não é o que queremos para o clube” e garante que “não há nenhum jogador sénior que pelo menos não receba as deslocações”, revelando que o Salvaterrense se “abastece” de jogadores em Salvaterra, Samora Correia, Benavente, Porto Alto e Santarém.
A sede precisa de uma grande remodelação
A sede do clube tem problemas estruturais e precisa de uma “grande remodelação”, adianta. É um sítio que faz falta e daria outro conforto e confraternização aos sócios e adeptos. O aniversário dos 100 anos, que este ano foi comemorado com uma exposição, lançamento de 100 foguetes, cantar dos parabéns e gala de homenagem a antigos presidentes, chegou a ser assinalado com um “grandioso baile” no primeiro andar. Os jovens antigamente passavam noites inteiras na sede a jogar flippers, ping-pong ou bilhar. “Toda a gente fala da sede com um bocadinho de saudade”, afirma, concluindo que o futuro do espaço, adquirido pelo Salvaterrense, está nas mãos dos cerca de 200 sócios da colectividade.
A direcção é composta ainda por Nuno Simões, presidente-adjunto; os vice-presidentes Luís Miguel Lino, Ricardo Alexandre da Silva, Rui Manuel Nobre, Tiago Alexandre Almeida, Pedro Miguel Monteiro e Nélson Rodrigues; o tesoureiro Luís António Alves, o primeiro secretário António Leonel Paulo e o segundo secretário Raphael Gaspar. Na assembleia-geral, pelo presidente João Carlos Paulo, o vice Nuno Manuel Monteiro e o primeiro secretário Manuel António Cura. Amaro José Silva, Pedro Miguel Parrulas e Bruno Carlos Cristo são, respectivamente, presidente, secretário e relator do conselho fiscal.