Hélder Carvalho: um jovem árbitro de Torres Novas na alta roda do futebol nacional
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No início da época 2022-2023, Hélder Carvalho integrou o patamar máximo da arbitragem nacional, sendo neste momento um dos árbitros mais jovens na principal categoria. Este madeirense residente desde criança em Torres Novas, é professor de Educação Física e ascendeu a internacional VAR em 2025 recebendo as insígnias da FIFA. O gosto pela actividade já vem de família e o jovem considera que a gestão emocional é o mais difícil no trabalho de um árbitro.
Hélder Carvalho, residente em Torres Novas desde os 10 anos de idade, é árbitro da 1ª Liga de futebol português e passou recentemente a internacional VAR (video-árbitro). Licenciado e mestre em Educação Física, leccionou até ao ano passado num colégio privado no Entroncamento e por incompatibilidade de horários optou pela arbitragem.
O árbitro de 31 anos é oriundo de uma família numerosa e filho de educadores de infância. A mãe é da Chamusca e o pai madeirense, tendo vários primos e tios na ilha, onde regressa no Natal e nas férias para matar saudades. Sempre jogou futebol na Madeira e no continente até aos juniores, em Torres Novas. O pai, Filipe Carvalho, era árbitro de futebol e mudou-se no continente para o futsal, apitando jogos ao lado da irmã de Hélder, Maria Leonor, que inscreveu no curso de arbitragem aos 14 anos. Hélder Carvalho completou o curso de árbitro aos 17 anos e no ano seguinte deixou de jogar para passar a ser árbitro aos fins-de-semana, quando já andava da Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa.
Conta que foi natural ser árbitro como o pai, mas chegar ao patamar mais elevado da arbitragem em Portugal constituiu “um processo longo e trabalhoso que exigiu dedicação, alguma sorte e muita ajuda”. Esteve na equipa de Hugo Silva e João Bento e entrou para a de Duarte Escudeiro passando várias épocas como árbitro-assistente do nacional, dos quadros da Associação de Futebol de Santarém (AFS). Decidiu ser árbitro principal e formou equipa com Rafael Escudeiro e Rui Ferreira, que o ajudaram quer nos dois anos que passou como árbitro do distrital, quer nos escalões nacionais, sendo que nos nacionais houve um primeiro ano como árbitro estagiário e outros dois como árbitro do Campeonato de Portugal.
“A gestão emocional é o mais difícil. É importante ter alguém que nos mantém serenos e focados”, refere, acrescentando que os homens do apito têm o apoio de psicólogos. Dentro de campo são “actores”, mas por vezes a ansiedade e nervosismo percebem-se através da linguagem corporal e facial, adianta, revelando que é mais difícil ser árbitro no distrital porque se percebe mais facilmente o que os adeptos dizem. E muitas vezes as reacções do público não são agradáveis de se ouvir.
Hélder Carvalho destaca também a importância da boa relação com os jogadores, dando o exemplo de quando descarregam as suas emoções contestando uma má decisão e ele pergunta se é possível falarem de forma mais educada, gerando um momento de descontracção em que os futebolistas até se riem. Assim como há momentos em que inevitavelmente desabafa e diz com ironia: “eh pá, nunca acerto uma!”.
Reduzir o erro ao mínimo
Subir aos quadros do nacional implica ter presenças obrigatórias em centros de treino para preparação física e técnica, simulando situações de jogo. Às vezes trabalha nos pólos de Lisboa com os restantes árbitros e elementos técnicos. Também vai ao centro de treinos do Entroncamento e detalha que são treinos “muito exaustivos”, com muitas horas de reflexão, de visionamento de vídeos, tanto antes como depois dos jogos, que têm de ser preparados antecipadamente, deixando, muitas vezes, a namorada e a família para trás.
Hoje é exigida aos árbitros uma condição física quase comparável à de um jogador, com três a quatro treinos semanais. Hélder Carvalho nunca pensou em desistir e continua à procura de um horário compatível para ser também professor, embora defenda que a carreira docente devia ser mais valorizada face ao papel que tem na sociedade.
Hélder Carvalho teve uma presença como quarto árbitro no jogo da Liga Europa, na Finlândia, entre as equipas do HJK e da Roma e esperam-lhe outros desafios agora, como internacional VAR. Desafiado a deixar uma mensagem aos adeptos, afirma que os árbitros desempenham a sua função o melhor que sabem, tentando diminuir o erro o máximo que conseguem, tal como em qualquer outra actividade, reconhecendo que, por vezes também chega a casa e pensa que se calhar em determinado momento pode não ter tomado a decisão certa.
Associação de Futebol de Santarém formou 51 árbitros
Cinquenta e um jovens finalizaram o curso de árbitros organizado pelo Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Santarém em Novembro de 2024, 41 de futebol e 10 de futsal, estando as inscrições abertas. Num conselho deixado aos jovens, Hélder Carvalho explica que é importante terem um plano B e que a idade-limite da carreira de um árbitro está nos 50 anos. “Quando começamos e vemos algum dinheiro é preciso perceber que a arbitragem não pode ser a principal aposta, tem de haver um complemento”, salienta.