Desafios do futebol de formação em destaque no Torneio de Páscoa de Benavente

A 25ª edição do Torneio de Páscoa do Grupo Desportivo de Benavente reuniu cerca de 300 jovens futebolistas dos escalões de Sub-6 a Sub-9.
A 25ª edição do Torneio de Páscoa do Grupo Desportivo de Benavente reuniu cerca de 300 jovens futebolistas dos escalões de Sub-6 a Sub-9, num fim de semana de convívio, entusiasmo e partilha no Complexo Desportivo dos Camarinhais. Ao todo, 32 equipas participaram nessa festa do futebol de formação que mobilizou centenas de atletas, pais e associados.
Embora o torneio tenha mantido o espírito festivo, o ambiente foi também propício à reflexão sobre o estado actual do futebol de formação em Portugal. Entre treinadores, coordenadores e dirigentes, destacou-se a consciência de que, mais do que formar atletas, há um caminho exigente e muitas vezes invisível, feito de dificuldades logísticas, decisões pedagógicas e um esforço constante para equilibrar futebol e vida escolar.
Diogo Carapeta, treinador da formação do GD Benavente, sublinha a importância de respeitar as características próprias do futebol juvenil, sobretudo nos escalões mais baixos. “Utilizamos uma linguagem adaptada para estes escalões, de forma a promover mais a formação que a competição”. Para o técnico, a crescente antecipação da componente táctica no treino dos jovens é um dos fenómenos que mais tem transformado a abordagem formativa, acabando por colocar em risco a vertente mais criativa dos atletas. “Estamos a assistir à diminuição do chamado ‘futebol de rua’”, alerta, apontando que a espontaneidade e o improviso, tantas vezes origem de grandes talentos, são hoje substituídos por modelos demasiado rígidos desde tenra idade. “Se um jogador pega na bola, finta três jogadores e marca golo, provavelmente o treinador vai criticá-lo porque devia ter passado a bola ao colega”, exemplifica.
A edição deste ano do Torneio de Páscoa realizou-se excepcionalmente no Complexo Desportivo dos Camarinhais, dado que o Campo Portas do Sol se encontra em obras para mudança de relvado para um sintético. Apesar das excelentes condições da estrutura, a ausência de uma cobertura nas bancadas foi notória, devido à chuva que se fez sentir. Diogo Carapeta considera “incompreensível” que, mais de duas décadas após a construção do complexo, não exista uma cobertura que permita aos adeptos e familiares que acompanham jogos e treinos resguardarem-se.
O equilíbrio entre futebol e escola
A ligação entre o futebol e a vida escolar é outro dos grandes desafios identificados no contexto da formação. Bruno Xavier, coordenador técnico da entidade formadora do GD Benavente, defende uma abordagem equilibrada, em que o rendimento desportivo nunca deve colocar em causa o percurso académico dos jovens. A exigência de horários, deslocações e compromissos desportivos obriga a uma gestão cuidadosa da rotina das crianças, e é aqui que, segundo Bruno Xavier, “o apoio dos pais é essencial”, não só na motivação dos atletas, mas também na sua organização pessoal e emocional.
Quanto às condições de treino, Bruno Xavier mostra-se esperançoso. Com as obras em curso no Campo das Portas do Sol, acredita que será possível melhorar a distribuição de treinos entre os vários escalões, o que aliviará a carga actual sobre os Camarinhais e permitirá uma maior flexibilidade na gestão do espaço e dos horários. “Temos mais de 240 atletas que treinam todos neste complexo actualmente, é insustentável”, diz.