Equitação é um desporto que devia ser acessível a todos mas é cada vez mais elitista

Apesar da paixão pelo desporto, muitos cavaleiros admitem que a equitação em Portugal permanece uma prática condicionada pelos elevados custos e à escassez de oportunidades acessíveis a todos. Na Golegã decorreram as IV Jornadas Equestres da Juventude.
Na Golegã, durante as IV Jornadas Equestres da Juventude, cruzaram-se diferentes cavaleiros de todo o país e de diferentes idades, tendo todos em comum a paixão pela equitação. Muitos partilham também da mesma frustração, que é a contínua dificuldade de acesso ao desporto onde o talento muitas vezes não é o suficiente para progredir na modalidade.
O MIRANTE, que marcou presença no evento, falou com Hugo Carvalho, de 45 anos, que afirma conhecer bem os trilhos do meio equestre. O cavaleiro de Aveiro participa na Feira da Golegã há 34 anos, ininterruptamente, e é presença assídua em diversas competições, incluindo as jornadas da juventude. Começou a montar por paixão aos 11 anos, sonhando ser cavaleiro tauromáquico e encontrou mais tarde a sua verdadeira paixão na competição de saltos. Para o cavaleiro, a equitação é mais do que um desporto, é uma ligação entre o ser humano e o cavalo. “Sou um aficionado deste desporto. Pelas minhas mãos já passaram cerca de três ou quatro centenas de cavalos, que montei, vendi e que dei aulas, mas tenho que admitir que os primeiros são sempre aqueles que guardamos mais carinho. Tal como muitos jovens que participam nestas jornadas, ainda me lembro do meu primeiro cavalo”, expressa.
Para Hugo Carvalho montar é algo instintivo e afirma que as quedas são incontornáveis, pois “só não cai quem não monta”. Contudo, o elitismo que a equitação tem vindo a seguir é um factor desmotivante. “Há 30 anos que ando a fazer um esforço para que a equitação seja um desporto de massas, mas começo a achar que não vale a pena remar contra a maré”, desabafa. Para Hugo Carvalho é urgente que as federações e instituições ligadas ao desporto assumam a missão de tornar a equitação acessível a todos, como já acontece em países como França ou Bélgica, onde as escolas promovem o contacto e prática do desporto desde cedo.
A crítica do cavaleiro torna-se ainda mais contundente quando se refere ao circuito internacional “Global Champions Tour”, como o exemplo máximo da elitização do desporto, referindo que só a inscrição no evento pode custar cerca de dois milhões de euros. “Muitas competições de renome são inacessíveis ao comum dos mortais. Precisamos de uma equitação mais justa e com menos barreiras financeiras, para que haja mais pessoas no desporto e para que os cavaleiros com talento e paixão possam seguir os seus sonhos e ter uma carreira”, afinca.
O futuro do desporto para a juventude
Com apenas 15 anos, Maria Leonor Oliveira marcou presença pela segunda vez nas IV Jornadas Equestres da Juventude, afirmando que o evento é importante para os jovens cavaleiros da região. Natural de Santarém, Maria Oliveira começou a montar aos seis anos, afirmando que queria sempre ir às feiras ou festas para poder montar os cavalos e póneis. “Sempre gostei de montar e adorava ir às feiras para dar um passeio de pónei. O primeiro cavalo que montei foi um pónei, que ainda está comigo”, recorda com um sorriso no rosto. Maria Oliveira reconhece também que entrar e manter-se no desporto exige muito mais do que paixão, afirmando que uma das maiores dificuldades é ter meios financeiros para suportar a prática da modalidade. Além da componente financeira, a jovem destaca também a mentalidade forte que é necessária para ser bem sucedido. “Há um conjunto de vertentes necessárias para praticar este desporto e especialmente para quem quer competir, é preciso ter uma mentalidade forte, porque não é um desporto fácil. Tem que se persistir mesmo quando caímos ou quando as coisas não correm tão bem”, afinca.
Tanto para cavaleiros veteranos como para jovens como Maria Oliveira, a equitação continua a ser um desporto fechado e condicionado pela falta de acessibilidades e exigências financeiras. No entanto, a jovem cavaleira acredita que a equitação em Portugal pode crescer e tem a esperança de que um dia o desporto seja mais acessível e que haja mais pessoas a ingressar na modalidade.