António Pereira: de futebolista profissional a presidente do Samora Correia

Antigo jogador profissional de futebol e novo presidente do Grupo Desportivo Samora Correia, António Pereira é o rosto de um projecto que combina ambição e memória. Lidera o clube no ano do seu 50.º aniversário e aposta numa estrutura cada vez mais profissional, onde a formação de atletas é tão importante como a formação de pessoas.
António Pereira, 43 anos, conhece o futebol por dentro e por fora. Natural da região de Aveiro, deu os primeiros passos como jogador nas camadas jovens da sua terra, tendo completado a formação no Boavista, onde partilhou o balneário com os internacionais Ricardo Costa ou Raúl Meireles. Toni chegou mesmo a representar a selecção nacional nos escalões jovens. A vida, contudo, obrigou-o a mudar de rumo, e foi a crise num clube com salários em atraso que o trouxe até Samora Correia. Trabalhou na área da pastelaria e está hoje ligado ao ramo imobiliário.
Chegou à vila ribatejana em busca de estabilidade, mas acabou por encontrar mais do que isso: encontrou casa, amor e um clube que lhe corre agora nas veias. A primeira ligação ao Grupo Desportivo Samora Correia foi como jogador, graças à intervenção de um nome incontornável da história do clube: o senhor Ganhão, como carinhosamente recorda, pai do actual capitão Pedro Ganhão. “Foi ele quem falou com o treinador da altura para que viesse treinar. Aceitei o convite e acabei por ficar”, recorda. A história continuou com o casamento, a fixação na cidade e uma relação cada vez mais entranhada com o clube, até porque o sogro foi vice-presidente.
Mais tarde, saiu para o Luxemburgo, onde voltou a jogar futebol, mas regressou determinado a restabelecer os laços. Fê-lo através do filho, também atleta do clube, e regressou como treinador-adjunto e dirigente. Desde há pouco mais de um mês assume a presidência com ambição e sentido de responsabilidade. “Temos cerca de 330 atletas em 16 equipas, das quais 12 masculinas e quatro femininas. Vivemos um crescimento assinalável. Mas isso também traz dificuldades. Precisamos de mais espaços e de apoio da autarquia. Já estamos a treinar na Barrosa e em Santo Estêvão porque os nossos campos não chegam para todos”, alerta.
Os desafios estruturais são evidentes, e a direcção actual, renovada quase na totalidade, depara-se com a exigência de gerir uma máquina de grandes dimensões. “Só eu e o João Bancaleiro temos experiência em direcções anteriores. Os restantes elementos são novos e isso obriga a uma aprendizagem constante”.
SAD para o futebol é possibilidade
Na formação, a fasquia está alta. A direcção quer levar os escalões competitivos aos campeonatos nacionais. E na equipa sénior há uma parceria com uma empresa que pretende promover a subida de divisão e, eventualmente, criar uma SAD. “Mas isso não afectará a formação nem a existência do clube. Sem investimento não é possível competir a sério”, assegura António Pereira.
Apesar dos constrangimentos, o clube atingiu a final da Taça do Ribatejo, um feito inalcançável há 29 anos, e continua a sonhar com mais. “Queremos crescer de forma sustentada. Formar jogadores, sim, mas acima de tudo formar pessoas”. Essa filosofia traduz-se em decisões difíceis, mas firmes. No seu entender o clube não pode manter crianças com comportamentos desviantes repetidos só porque são crianças. A educação tem de vir de casa. “Nós colaboramos, mas não podemos substituir os pais”, adverte.
Para dar resposta à dimensão do clube, está em marcha uma reformulação estrutural: está a ser criado o Gabinete de Optimização Desportiva, com áreas como força, nutrição, pedagogia e análise de desempenho. Haverá um departamento médico, um gabinete de observação e análise e um responsável pelo recrutamento. No futebol feminino, haverá acompanhamento diferenciado, incluindo a contratação de uma psicóloga e uma sexóloga para lidar com as especificidades emocionais e físicas das atletas. “Não se pode aplicar o mesmo método de treino ao futebol feminino e masculino. É preciso sensibilidade e nem todos os homens percebem isso. Por isso temos de ter pessoas com formação para essas funções”, evidencia o dirigente.
O clube vai continuar a investir nos recursos humanos, com técnicos competentes, e reforçar a frota com a aquisição de duas carrinhas de nove lugares. No campo sintético vai ser construída uma pequena bancada com dois ou três degraus. Em cima da mesa pondera-se mudar de sponsor nos equipamentos, com os olhos postos num símbolo comemorativo muito especial: o 50.º aniversário. “Queremos fazer uma gala comemorativa e homenagear figuras importantes da história do clube. Algumas já deviam ter sido homenageadas. Não podemos deixar passar esta oportunidade”, salienta o presidente.
O projecto do G.D. Samora Correia é ambicioso, assentando em raízes sólidas. “Aceitei ser presidente porque ninguém queria continuar. E não queria que surgisse alguém sem ligação ao clube e que mudasse tudo, pondo em causa a sua identidade”, explica. António Pereira sublinha que o seu objectivo não é protagonismo. “Quero ser lembrado como alguém que deu continuidade ao trabalho feito, que melhorou o clube e que nunca o prejudicou. Quero ser reconhecido como alguém que fez tudo pelo clube, sem qualquer proveito pessoal”, conclui.
Dois torneios em Junho
O Grupo Desportivo Samora Correia vai organizar dois torneios no mês de Junho. O Torneio Chico do Porto, em iniciados masculinos, regressa após um interregno de um ano no dia 10, enquanto o Torneio Res Non Verba, dedicado ao futebol feminino, está agendado para o dia 14. A Festa Final de Ano, que vai envolver todos os atletas do clube, realiza-se no dia 15 de Junho na Murteira.