Ginastas do Grupo Desportivo de Azambuja são um exemplo de superação
























Estão longe de ter as condições de treino ideais, mas, ainda assim, as ginastas do Grupo Desportivo de Azambuja sobem a pódios distritais e nacionais. Treinadas por uma antiga ginasta e enfermeira, aprendem que falhar faz parte do caminho para se ser melhor.
Durante uma hora alongam-se os músculos em exercícios que põem à prova a flexibilidade de cada uma. Depois dividem-se pelos quatro aparelhos, num treino de movimentos repetitivos até se eliminarem as falhas. “Sou exigente, gosto que façam tudo perfeito, mas numa relação de confiança e de empatia com as ginastas”, começa por referir a treinadora Lara Cintra, antiga atleta da secção de ginástica artística do Grupo Desportivo de Azambuja (GDA).
Os treinos das nove ginastas fazem-se no antigo pavilhão da EPAC, em Azambuja, onde também funciona o ginásio do clube. “As condições de treino não são as melhores” e isso tem impacto na motivação das atletas que, apesar de não terem o espaço ideal de treino, têm conseguido títulos em provas e campeonatos distritais e nacionais, como na época passada em que conquistaram medalhas de terceiro lugar em saltos e na geral e um primeiro lugar em saltos no campeonato nacional.
“Estamos à espera do pavilhão que foi prometido há 40 anos e nunca mais sai do papel”, atira a responsável pela secção, Vera Jerónimo. O que vão conseguindo melhorar, explica, deve-se muitas vezes ao esforço dos pais das ginastas que promovem vendas de rifas e tentam angariar patrocínios, o que não é fácil. No chão, onde há colchões a acusar o desgaste do tempo, há um, mais comprido, que serve de praticável improvisado para os treinos de solo, mas que está longe de ter as medidas necessárias. “Quando vão para a prova têm dificuldade em se adaptar porque aqui o espaço é muito mais pequeno. Tem de fazer tudo ali. Nos esquemas tem de estar sempre a rodar a pista”, lamenta a treinadora.
Alice Nobre, a mais nova do grupo, parece não se importar com as condições de treino para o solo. Afinal, são aquelas que sempre conheceu desde que ingressou no clube, com apenas três anos e muita vontade de aprender. O solo é, inclusive, o aparelho que mais gosta, mas não aquele onde tem conseguido pódios desde que compete, há um ano. Ganhou um primeiro lugar em saltos e, esta época, um terceiro lugar em paralelas.
Também nos treinos de paralelas, a pequena Alice de nove anos e as restantes ginastas têm de lidar com o facto de a barra que era revestida a madeira já estar tão gasta que as mãos, ainda que protegidas por luvas apropriadas, só tocam em plástico. Curiosamente, apesar de ser o aparelho onde pior treinam é aquele onde conquistam mais pódios, destaca a treinadora. Para esta época têm esperança de receberem uns banzos novos para este aparelho, oferecidos pela Junta de Freguesia de Azambuja. “Os equipamentos são muito caros e por isso é difícil conseguirmos melhorar as condições sem apoios”, sublinha Vera Jerónimo.
Mais do que pódios valoriza-se a superação
Nos treinos, como nas provas, a superação de cada uma é o factor mais valorizado. “É isso que lhes ensinamos”, vinca a treinadora e enfermeira, que em dias de treinos se desdobra para conseguir chegar mais cedo para organizar o pouco espaço disponível. Ensina-lhes que para serem boas ginastas “têm de ser dedicadas, trabalhar e estar focadas nos objectivos”. Claro que “há pessoas que parece que já nasceram para a ginástica, mas aquelas que não têm grande flexibilidade, com trabalho, também conseguem”, afirma, acrescentando que cair e sofrer lesões também faz parte do processo.
Joana Vale, de 16 anos, que o diga. Ginasta do GDA há quatro anos, já teve lesões num pulso e num tornozelo, partiu um dedo do pé e caiu de costas na trave. “Ganha-se medo, claro. Mas tudo isso se trabalha”, afirma a O MIRANTE a atleta que começou o percurso na acrobática, em Lisboa, até se mudar com os pais para Azambuja. “Aqui só há ginástica artística, mas ainda bem. Gosto mais desta”, remata antes de subir para a trave, aparelho onde foi terceira classificada no Torneio do Tejo.