Mação Futebol Clube: o renascimento de um símbolo local com um triplete de sonho

Num concelho onde o futsal parecia adormecido, o Mação Futebol Clube voltou a escrever história. Quatro anos depois da sua reactivação, o clube passou de um começo tímido a alcançar o triplete, com a conquista do campeonato distrital, a Taça de Futsal e a Supertaça da Associação de Futebol de Santarém.
Há vitórias que valem mais do que troféus e há clubes que valem mais do que títulos. Esse é o sentimento de quem pertence ao Mação Futebol Clube, fundado em 1996, numa conversa de café, e que em 2021 regressou com o sonho de fazer história no concelho e mudar mentalidades. O clube nasceu numa altura em que o futsal tinha pouca expressão na vila, projecção que foi ganhando com o passar do tempo, afirma Paulo Serra, actual presidente do clube. Depois de um longo período inactivo, há quatro anos o clube renasceu com um novo espírito e determinação, graças ao empenho de antigos fundadores e de jovens jogadores que levaram sangue novo para a estrutura.
O treinador da equipa, José Ferreira, de 37 anos, afirma que foi preciso mudar a mentalidade de que o futsal não é o plano B do futebol e que tem valor próprio, salientando que o Mação mostrou que é possível sonhar e ganhar, mesmo num concelho pequeno. “Começámos com jovens da localidade, sendo metade da equipa de Mação, e apesar de no início andarmos no fundo da tabela, fomos subindo aos poucos, com o objectivo de alcançar sempre mais”, explica a O MIRANTE. Esse espírito está personificado em quem cresceu na vila, como o jogador de 26 anos, João Ferreira. “Andámos aos trambolhões de um lado para o outro, à deriva, mas sempre com paixão pelo desporto. Muitos de nós estamos juntos desde miúdos, então alcançar estas vitórias tem um gosto especial, porque é sinal que todos os esforços foram recompensados”, sublinha.
Altos e baixos e o sonho do triplete
Em 2024/2025, o sonho do triplete transformou-se em realidade, com o clube a conquistar os três principais títulos distritais — Campeonato, Taça e Supertaça. O treinador José Ferreira afirma que a caminhada não foi fácil. Um dos momentos mais marcantes foi na final da Taça, em que o Mação estava a perder 4-0 ao intervalo frente ao Vitória Clube de Santarém, e deu a volta ao resultado com o golo da vitória a ser marcado no último minuto. Ganhar um “campeonato limpo”, após as polémicas e acusações de suposto facilitismo num jogo contra o Benavente na última época, foi também um dos objectivos do clube para esta temporada e foi o que aliciou também alguns jogadores, como o capitão Bruno Oliveira, a vir para o clube. O jogador de 42 anos veio do clube Os Patos (Abrantes), um dos grandes rivais, e com ele vieram outros jogadores por acreditarem nos objectivos que queriam alcançar.
Para além do sucesso no futsal, o Mação Futebol Clube quer ser mais do que uma equipa e já tem feito algumas actividades sociais e comunitárias de modo a reforçar a ligação com a comunidade local, como campanhas de recolha de tampas e roupas ou dinamização de actividades como aulas de dança. Com o apoio dos adeptos e da população, Paulo Serra afirma que no último ano o clube ganhou mais do que títulos, “formou-se uma grande família”.
Um dos objectivos do clube é também voltar a ter uma equipa feminina — como teve no passado, numa parceria com a Casa do Benfica de Vila de Rei — e está a preparar-se para criar equipas de formação de base, visto que não pôde disputar o playoff de acesso à III Divisão Nacional por não ter certificação de formação. A época terminou em festa, mas o desafio continua, e o treinador José Ferreira afirma que o objectivo para a próxima época é primeiro que tudo não desiludir os fãs. “Não se pode ganhar todos os jogos, mas as pessoas esperam vitórias, então temos de manter esta chama acesa, ser um clube constante e manter a ligação à comunidade. Depois ganhar o campeonato ou não, faz-se contas no final”, afirma.
Falta de apoio da Associação de Futebol de Santarém
O presidente e o treinador do Mação Futebol Clube apontam críticas à Associação de Futebol de Santarém (AFS), considerando que os apoios aos clubes são escassos e desiguais. O presidente do clube acusa a associação de estar mais focada em aplicar multas do que em apoiar os clubes, especialmente os que estão mais afastados da capital de distrito. O treinador José Ferreira lamenta a ausência de incentivos significativos, destacando que clubes de outros distritos, como Castelo Branco, têm encargos muito menores, sobretudo ao nível das inscrições e seguros. “Em Santarém paga-se 70 euros de seguro por jogador e nos outros distritos é metade. Aqui uma equipa feminina paga o mesmo que uma masculina, quando há distritos que não se paga nada. Isto não ajuda a fazer crescer a modalidade e prejudica clubes pequenos ou que estão só agora a começar”, lamenta.