Praticar xadrez no Vitória de Santarém é um jogo de paciência que dá títulos

Em 2019, o Vitória de Santarém criou uma secção de xadrez que tem ensinado os jovens a aprender que para conquistar títulos e vingar na modalidade é preciso estudar e ter muita paciência. Este domingo, 20 de Julho, assinala-se o Dia Internacioal do Xadrez.
Às sextas-feiras, entre as seis e as oito da tarde, o silêncio reina numa sala da sede do Vitória Clube de Santarém, apenas interrompido pelo som das peças de xadrez a moverem-se no tabuleiro. De um lado praticam rapazes dos 8 aos 12 anos; do outro, homens que jogam xadrez há mais de 40. O mais importante, afirmam, não é a idade, mas sim a capacidade de pensar antes de agir. Criada em 2019, a secção de xadrez do clube desportivo tem actualmente cerca de 16 participantes e este ano conquistou os primeiros títulos distritais no Campeonato Distrital Individual Absoluto de Semirrápidas de Xadrez, organizado pela Associação de Xadrez de Santarém. Guilherme Vieira sagrou-se campeão em sub-12, enquanto Dinis Borges conquistou o título em sub-7 e também houve lugar para pódios nos seniores, com Pedro Vinagre a ser vice-campeão e Carlos Nascimento a ficar em terceiro.
As aulas de xadrez adaptam-se ao nível e à idade de cada membro. Sob orientação de Pedro Vinagre, os exercícios são primeiro realizados no site Lichess, onde os alunos aprendem aberturas, defesas e estratégias e depois passam ao tabuleiro real, onde aplicam o que treinaram. Durante as duas horas de sessão, os mais velhos aprofundam conceitos complexos e os mais novos aprendem que o trabalho vai muito além de jogadas e tácticas.
“O xadrez requer paciência e responsabilidade. Se errarmos, não podemos culpar ninguém. Não foi, por exemplo, o vento que mudou a direcção da bola. Os erros aqui são unicamente nossos e é isso que o xadrez incute: paciência e a capacidade de tomar decisões com responsabilidade”, explica Pedro Vinagre. “O xadrez obriga a pensar em abstrato e a construir ideias dentro da cabeça antes de as executar. No início, a maior parte joga impulsivamente, mas à medida que lhes mostramos onde falharam e como podiam ter pensado melhor, começam a perceber a profundidade do jogo”, conta.
Pedro Vinagre aprendeu a jogar em criança a observar o pai, que foi vice-campeão nacional em 1956. Hoje, defende com convicção que o futuro do xadrez passa por ser reconhecido como uma ferramenta pedagógica fundamental. “Está mais que provado que o xadrez melhora as capacidades cognitivas, especialmente em idades jovens. Existe uma directiva do Parlamento Europeu desde 2012 que incentiva os estados-membros a introduzirem o xadrez nas escolas e isso não é por acaso. Em Portugal, todas as escolas que têm xadrez são as que têm melhores resultados e aqui no clube vemos isso, pois os miúdos tiram todos excelentes notas. Isto é um facto que deveria ser reconhecido”, frisa.
O declínio e ressurgimento da modalidade
O xadrez em Santarém já viveu dias de grande glória, numa época em que o distrito contava com cerca de 150 jogadores federados e vários clubes activos. Em 1976 surgiu o Grupo de Xadrez de Santarém (GXS), reunindo durante anos os melhores jogadores da cidade que conquistaram campeonatos distritais e chegaram a alcançar um terceiro lugar no Campeonato Nacional Colectivo. Nos anos 80 e 90, muitos desses jogadores migraram para Rio Maior, onde criaram uma equipa forte que disputou durante seis anos consecutivos o Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Porém, ao longo dos anos o desporto foi perdendo força. “Em Rio Maior, começaram-nos a arranjar complicações com verbas, inscrições, deslocações… Depois jogámos pelo Café Kabab, em Santarém, que se tornou o centro do xadrez até fechar, em 2008, e depois mudámo-nos para Alpiarça, onde ficámos até criarmos aqui esta secção”, explica Pedro Vinagre.
Com o tempo, os apoios foram escasseando e os clubes perderam jogadores, mas hoje há sinais claros de renascimento. Um desses sinais é a reactivação da Associação de Xadrez de Santarém, desaparecida há mais de 20 anos, que voltou este ano pelas mãos de elementos do Vitória Clube de Santarém e do Cineclube de Torres Novas. “O facto de a associação ter renascido e haver mais clubes a surgir é sinal que o xadrez está a recuperar força. Esperemos que esta evolução se mantenha, porque é necessária”, destaca.
A prova dessa mudança positiva vê-se também na motivação dos mais jovens. Guilherme Vieira, de 13 anos, gosta do desafio que o xadrez representa e da tranquilidade que o jogo exige, tendo aprendido a mexer as peças com o avô. Já Waleed Abuowda, de 12 anos, revela, em jeito de brincadeira, mas num tom sério, que o que mais gosta é de ganhar medalhas e acumular vitórias.