Desporto | 19-08-2025 15:00

Núcleo de Árbitros da Póvoa de Santa Iria reforça apoio psicológico e formação para reter jovens

Núcleo de Árbitros da Póvoa de Santa Iria reforça apoio psicológico e formação para reter jovens
Frederico Couto e Bruno Abreu trabalham para captar e reter novos árbitros através do Núcleo de Árbitros da Póvoa de Santa Iria - foto O MIRANTE

A arbitragem no futebol e futsal depara-se com dificuldades em manter os jovens árbitros. A falta de segurança nos recintos, a pressão dos adeptos e a exigência da actividade têm levado a uma redução do número de interessados. O Núcleo de Árbitros da Póvoa de Santa Iria tem investido em formação, apoio psicológico e novas estratégias para reverter esta tendência.

Ser árbitro de futebol e futsal é uma tarefa exigente e, por isso, é difícil captar jovens para a actividade. O escrutínio constante, a exposição pública, a pressão de adeptos e dirigentes e, sobretudo, a falta de segurança em muitos recintos desportivos têm levado a uma diminuição no número de interessados e até à desistência precoce de quem inicia a carreira.
Frederico Couto e Bruno Abreu, árbitros de futebol e futsal, respectivamente, e directores do Núcleo de Árbitros da Póvoa de Santa Iria (NAPSI), conhecem bem o problema. A experiência acumulada no terreno mostrou-lhes que captar novos árbitros é possível, mas retê-los é o verdadeiro desafio. “O mais difícil é mantê-los. A falta de segurança é transversal a várias modalidades. A maior parte dos jogos não tem policiamento, sendo que os clubes podem optar por segurança privada e pontos de contacto que são dirigentes do próprio clube que tiram os cursos, mas, em caso de violência, pouco ou nada podem fazer”, explica Frederico Couto.
A realidade é dura: há casos de agressões a árbitros, no futebol e no futsal, que levaram alguns jovens a ponderar o abandono. Quando um árbitro tem 15 anos e os pais vêem o que se passa na bancada, não incentivam a continuidade. “Recordo-me de um episódio em que acompanhámos um jovem árbitro negro que não apitou num lance e em que o público começou a grunhir e a chamar-lhe nomes. Saiu de lá a chorar e não voltou mais”, conta Bruno Abreu.

NAPSI aposta no acompanhamento contínuo
É aqui que entra o trabalho do NAPSI, em conjunto com a Associação de Futebol de Lisboa (AFL), pautado por um acompanhamento muito próximo dos jovens árbitros, para que estes se sintam seguros, apoiados e saibam a quem recorrer. Bruno Abreu considera mesmo que, após três anos a apitar, dificilmente se abandona a arbitragem. Por isso, sublinha a importância de os árbitros mais velhos ajudarem os colegas mais novos a adaptarem-se às diferentes realidades. No NAPSI, por exemplo, são convidados psicólogos que ensinam técnicas para lidar com ambientes mais acalorados. Quando os árbitros têm menos experiência e são mais jovens, é natural que errem mais, motivo pelo qual o árbitro apela aos adeptos que conhece para que tenham mais paciência, lembrando que é preciso empatia.
Depois da pandemia de Covid-19, o NAPSI passou por períodos em que quase não havia quórum para assistir às sessões semanais na sede, situada na zona mais antiga da cidade da Póvoa de Santa Iria. Perante esse cenário, o núcleo reinventou-se e apostou nas redes sociais para chegar a públicos mais jovens. A média de presenças nas sessões subiu de dez para vinte participantes, tendo em alguns casos atingido as cinquenta pessoas.
O número de associados cresceu entre 30% e 40%, contando actualmente com cerca de 130 sócios. As sessões de futebol realizam-se semanalmente às terças-feiras, enquanto as de futsal decorrem quinzenalmente às quintas-feiras. Entre os convidados que participaram este ano destacam-se árbitros mais experientes, o Conselho de Disciplina da AFL e o Conselho de Arbitragem dos Serviços da AFL, permitindo dar a conhecer o trabalho que envolve a nomeação dos árbitros para os jogos. Foi ainda estabelecida uma parceria com um mental coach, que possibilita o acesso a consultas na área da psicologia a preços acessíveis, além da sessão de encerramento da época, que incluiu almoço-convívio e uma actividade de paintball.

“A arbitragem é uma actividade de sete dias por semana”
Frederico Couto conta a O MIRANTE que decidiu ser árbitro porque chegou a uma fase em que já não tinha jeito para jogar à bola. Desafiado por um amigo, experimentou a arbitragem e afirma ter tido mais trabalho nos últimos dez anos do que nos primeiros cinco.
Também Bruno Abreu jogava futsal quando foi desafiado por um árbitro a tirar o curso, depois de reclamar em campo de uma decisão. Ingressou na formação sem grandes expectativas, movido pela vontade de corrigir o que considerava estar mal na arbitragem, mas, quando começou a apitar jogos, apercebeu-se das reais dificuldades da função. “Actualmente, o grau de exigência é cada vez maior. Antigamente, a arbitragem era encarada como um passatempo: ao sábado, agarrava-se no saco e ia-se apitar. Hoje, há jogos durante a semana, treinos quatro a cinco vezes por semana, além dos jogos e das sessões de formação no NAPSI e nas entidades oficiais. O nível de exigência é muito superior ao de há 18 anos, sendo a arbitragem uma actividade de sete dias por semana”, refere.
Continuam a faltar árbitros, uma vez que as competições têm vindo a aumentar e há cada vez mais divisões. Há clubes que chegam a ter seis equipas no mesmo escalão e, por vezes, um árbitro é designado para apitar um jogo na Castanheira do Ribatejo e, meia hora depois, tem de estar em Sintra, tarefa praticamente impossível devido ao trânsito.
As mulheres também se têm vindo a afirmar na arbitragem. Do NAPSI fazem parte Ana Loide Batista da Silva, árbitra assistente internacional, e a tesoureira do núcleo. No total, foram recrutadas três associadas para o futebol e duas para o futsal.

Abrir portas e aproximar a arbitragem

Para Bruno Abreu, a arbitragem precisa de maior abertura ao exterior. Durante muitos anos, o sector manteve-se fechado, o que contribuiu para alimentar desconfianças por parte de quem está de fora. Uma das principais mensagens transmitidas aos jovens no NAPSI é a importância de se resguardarem, sobretudo nas redes sociais. Muitos vão ao estádio apoiar o clube da sua preferência e publicam fotografias dessas ocasiões, mas essa exposição pode gerar suspeitas, especialmente se, pouco depois, arbitrarem jogos desse mesmo clube e ocorrer algum erro. A Internet, lembra, não esquece, e conteúdos publicados podem ser recuperados e usados anos mais tarde.
A autocrítica é vista como essencial, defende Bruno Abreu. Os árbitros revêem os seus jogos e identificam falhas, muitas vezes provocadas pelo posicionamento em campo ou por pequenos momentos de distração. Os erros não são intencionais, mas têm impacto directo na classificação, já que a avaliação é constante.

NAPSI prepara associados com estágio prático e teórico

No dia 23 de Agosto, o NAPSI vai acolher um estágio para os seus associados. O dia começa com aulas práticas de futebol e futsal no Campo de Futebol do Bragadense e no Pavilhão Municipal do Forte da Casa. Depois do almoço, haverá aulas teóricas sobre as alterações às leis de jogo para a próxima época e uma palestra com um convidado que irá abordar temas de nutrição e suplementação. A sessão encerra no Palácio Municipal da Quinta da Piedade, com intervenções da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima e da Associação de Futebol de Lisboa.

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