O primeiro professor de ténis de Almeirim que nunca competindo formou bons tenistas

Aos 70 anos de idade, António Féria deixa a Escola Municipal de Ténis de Almeirim ao fim de 23 anos a formar tenistas, para tentar compensar na reforma o tempo que roubou à família.
Jogou basquetebol e rugby, mas foi pelo ténis que mais se interessou por influência do avô. Aprendeu com um tenista húngaro fugido da guerra e condecorado em Portugal. Nunca competiu num torneio federado, mas formou muitos tenistas vencedores naquele que foi o seu primeiro emprego quando estava a caminho dos 50 anos.
António Féria formou centenas de tenistas ao longo de 23 anos na Escola Municipal de Ténis de Almeirim, criada com a construção dos campos integrados no parque da zona norte. Começou na modalidade por influência do avô materno, Correia da Silva, um amante da modalidade, que o inscreveu no Clube de Ténis do Estoril. Mas só praticava nas férias escolares quando ia para casa dos avós na Parede. Tinha um campo de ténis na quinta da família em Almeirim, a Quinta da Conceição, mas não costumava jogar em casa e também nunca entrou em competições federadas. Tirando o tempo que deu aulas ocupando horários para os quais não havia professores do quadro, o seu primeiro emprego oficial foi na Câmara de Almeirim como professor de ténis, estava já a caminho dos 50 anos.
Os primeiros contactos com o ténis foram por volta dos 10 ou 11 anos. Filho de pai alentejano e mãe ribatejana de Almeirim, António Féria teve como professor o húngaro Geza Adam Torok, que se exilou em Portugal a fugir da 2ª Guerra Mundial, e que foi profissional do Clube de Ténis do Estoril, tendo sido condecorado pelo Presidente da República portuguesa, Mário Soares, pela dedicação à modalidade. O professor Féria, como o tratam, 70 anos de idade, que foi agora para a reforma, sempre teve apetência para o desporto. Jogou basquetebol quando andava no liceu de Santarém e rugby em Lisboa, na equipa de agronomia, quando andava a estudar no Instituto Superior de Agronomia.
O pai fundou a equipa de rugby da Escola Agrária de Santarém, e quando já não existia esta equipa, António fez uns treinos com um grupo de adolescentes de 12 e 13 anos que treinava nos jardins de S. Bento em Santarém. Às vezes tinham que andar a fugir à polícia por causa de pisarem a relva. Esta brincadeira acabou por ter continuidade com o aparecimento do Rugby Clube de Santarém. Quando surgiu o convite para ensinar ténis pela então empresa municipal de desporto Aldesc, que a câmara extinguiu em 2008, já tinha o curso de treinador. Tirou-o pensando aproveitar o campo da Quinta da Conceição para dar umas aulas. Na altura Almeirim não tinha qualquer cultura tenista e agora pela escola municipal passam cerca de 80 alunos anualmente.
O kartódromo que lhe fez cabelos brancos e a experiência marcante das alunas em cadeira de rodas
Uma das mágoas que tem é não ter acabado o curso de engenheiro agrónomo, para onde tinha ido por influência do pai, porque foi cumprir 16 meses de serviço militar em Vendas Novas. Quando acabou a tropa já não havia motivação para voltar à escola, mas ficou ligado à agricultura ajudando na gestão das propriedades agrícolas da família. Também participou na criação e exploração do Kartódromo de Almeirim juntamente com a família, por iniciativa do irmão, amante de desportos motorizados, durante quatro anos. Uma experiência pouco conseguida que lhe trouxe cabelos brancos. O espaço acabou depois por ser vendido. Pelo meio concorria aos mini-concursos do Ministério da Educação para ocupar lugares para os quais não havia professores do quadro. Ensinou um ano na Ginestal Machado em Santarém e sete anos em Marinhais. Deu físico-química, biologia, educação tecnológica na parte agrícola e educação visual.
Uma das experiências mais desafiadoras foi quando teve duas alunas em cadeira de rodas, uma de Alpiarça, que já faleceu, e outra de Almeirim que já não pratica. A outra foi ter as filhas como alunas e praticantes. António Féria sempre entendeu o seu trabalho também como um professor de bons seres humanos. A diferença que mais nota quando começou a ensinar e agora quando se reforma é a forma de as crianças tratarem os mais velhos por tu. O pior momento da sua vida, foi quando o pai, que idolatrava, faleceu.
No início foi difícil começar a incutir o ténis em Almeirim, mas com panfletos espalhados pela cidade começaram a aparecer os primeiros alunos. Até que chegou a uma altura em que não havia descanso. Às quartas-feiras começava às 15h30 e até às 22h30 só saía do campo para ir à casa de banho ou ir buscar equipamentos. Também começou a dar aulas aos sábados quando não havia competições. Esteve sozinho durante cinco anos, depois quando foi operado à anca convidou o professor José Rodrigues para o ajudar ficando com a parte mais competitiva e que agora vai substituí-lo na formação.