Clube de Judo de Riachos forma atletas com disciplina, humildade e resiliência
Criado em 2011, o clube dá continuidade a uma tradição da vila que começou nos anos 90, formando atletas de várias idades com base no respeito, inclusão e na dedicação dos treinadores.
Em Riachos, numa sala cedida pela junta de freguesia, o som das quedas no tatami mistura-se com as instruções firmes dos treinadores e risos de crianças que fazem parte da família do Clube de Judo de Riachos. Das 18h00 às 20h00, o espaço transforma-se num pequeno mundo de disciplina e energia, onde, ao longo da semana, mais de 60 atletas treinam sob o olhar atento de três técnicos. Para assinalar o Dia Mundial do Judo, O MIRANTE assistiu a um dos treinos e falou com treinadores e atletas sobre a importância da modalidade.
“Para muitos miúdos, o judo é um escape e uma aprendizagem. Aqui aprendem regras, respeito e autocontrolo, ferramentas que depois levam para a vida pessoal e social”, explica Pedro Vieira, presidente do clube. A modalidade começou na vila nos anos 90, integrada na cooperativa de habitação Sópovo, onde se manteve até 2011, até que os judocas decidiram seguir o seu próprio caminho. “Acabámos por criar um clube autónomo com o apoio da junta e tem corrido bem, sendo um dos objectivos actuais do clube passar a treinar no pavilhão da vila, assim que a sua requalificação estiver concluída”, afirma Pedro Vieira. O clube funciona com apenas três dirigentes — presidente, secretário e tesoureiro — que são também os treinadores e que vão rodando os cargos entre si. Todos trabalham de forma voluntária, conciliando o judo com as suas profissões, afirma Luís Gonçalves, treinador mais antigo do clube e mentor de Pedro Vieira, que todos praticam judo por amor ao desporto. “Tudo o que fazemos é nas horas vagas. Vivemos das quotas dos atletas e de algum apoio da câmara, o que chega para manter as contas equilibradas”, sublinha.
Actualmente, o clube conta com 60 e 70 atletas activos, combinando os treinos num formato mais lúdico para as crianças e mais técnico para os adolescentes. “Nem sempre é fácil gerir tanta energia, mas o objectivo é que as aulas sejam também um momento de descompressão”, explica o presidente. O respeito e a inclusão são pilares do judo, sublinhando Luís Gonçalves que cada treino procura transmitir aos alunos esses valores, “que estão tão em falta na sociedade actual”. Os dois dirigentes são também responsáveis pelo projecto distrital Super Judo, dedicado ao judo adaptado, havendo no próprio clube atletas com deficiências intelectuais ou motoras, que estão sempre integrados nas aulas com os outros, de forma a todos aprenderem a respeitar as diferenças uns dos outros. Os treinadores sublinham também o valor educativo do judo, que fortalece a auto-estima, a confiança e a disciplina dos jovens, ensinando-os sobretudo a “ser humildes e a saber perder, sem desistir à primeira dificuldade”, afirma Luís Gonçalves.
Mafalda Gonçalves e o espírito do judo em Riachos
O clube conta com vários escalões em actividade e participa regularmente em provas regionais e nacionais, mantendo viva a chama do judo na vila. Entre os muitos jovens que passaram pelo tatami, destaca-se Mafalda Gonçalves, a atleta de maior nível competitivo do clube. Filha do treinador Luís Gonçalves, a jovem começou a treinar aos quatro anos e tornou-se este ano vice-campeã nacional de cadetes na categoria +70kg e faz parte da seleção nacional.
Mafalda Gonçalves começou a treinar por incentivo dos pais, mas admite que nem sempre gostou do judo e chegou a pensar em desistir. “No início não entendia bem o desporto e não era competitiva, mas depois fui acabando por gostar e persisti”, revela. O percurso competitivo também nem sempre tem sido fácil, especialmente no controlo dos nervos, mas garante que o judo a tem ajudado a gerir melhor as suas emoções. “Sempre tive dificuldade em lidar com os nervos, mas o judo tem-me ajudado a ter mais autocontrolo e a lidar com o stress, não só nos combates, mas também na escola”, afirma. Com humildade, a atleta sonha em conquistar mais medalhas, mas mantendo sempre os pés assentes na terra. “Gostava de conquistar uma medalha na Taça da Europa, mas ainda não penso muito além disso, pois isso por si só já seria uma grande conquista”, acrescenta.
Tanto para a jovem atleta, como para os treinadores, o judo não é apenas uma modalidade, é uma forma de estar na vida. Mentalidade essa que se reflecte na forma como enfrentam desafios e ultrapassam adversidades, destacando Pedro Vieira que “praticantes de judo há muitos, mas saber ser judoca é uma coisa diferente”.


