Desporto | 12-11-2025 15:00

Santo Estêvão continua a voar alto nos trampolins 

Santo Estêvão continua a voar alto nos trampolins 
Os treinadores nacionais Bruno Nobre e Carlos Matias, do Clube de Futebol Estevense, ladeiam os jovens atletas Francisco José, Inês Correia e Beatriz Mendes, que vão competir por Portugal no Campeonato do Mundo de Trampolins de 6 a 9 de Novembro - foto O MIRANTE

Francisco José, Inês Correia e Beatriz Mendes, do Clube de Futebol Estevense, integram a selecção nacional que vai representar Portugal no Campeonato do Mundo de Trampolins, em Espanha. Acompanhados pelos técnicos Bruno Nobre e Carlos Matias, partem com o entusiasmo e a serenidade de quem já fez da superação um modo de vida.

Entre colchões, saltos e acrobacias no ar, o Pavilhão Gimnodesportivo de Santo Estêvão tem sido berço, desde há três décadas, de campeões europeus e do mundo de trampolins. Nessa freguesia do concelho de Benavente a modalidade leva-se muito a sério, ou não estivesse esse equipamento desportivo vocacionado para a prática de trampolins, sendo utilizado também como um Centro de Treinos da Selecção Nacional. E os resultados estão à vista. Este ano, três ginastas de Santo Estêvão, Francisco José, Inês Correia e Beatriz Mendes, acompanhados pelos treinadores Bruno Nobre e Carlos Matias, representam Portugal no Campeonato do Mundo de Trampolins, que decorre em Pamplona, Espanha, nas categorias Absolutos, Juniores e Por Idades.
Desde 1993, quando Carlos Matias iniciou o projecto, que Santo Estêvão não deixa passar uma década sem formar um campeão. Aos 18 anos, Francisco José estreia-se na categoria absoluta, a mais alta da ginástica de trampolins. Natural de Santo Estêvão, começou a treinar ainda em criança e cresceu entre os colchões do clube. “É sempre um prazer representar Portugal e a minha terra”, diz, com a convicção de quem sabe o que quer. “Gosto de dizer que sou de uma terrinha pequena. Adoro quando as pessoas perguntam onde fica Santo Estêvão, e depois percebem que é daqui que saem campeões”.
O jovem atleta regressa à competição internacional depois de um ano de recuperação de uma lesão grave. “Parti o braço em Dezembro do ano passado. Perdi a forma e a motivação. Mas o clube nunca me deixou cair”, confessa. “Agora estou bem e quero mostrar o que valho. O meu objectivo é simples: ganhar. Um objectivo realista? Ir à final. Mesmo sabendo que é difícil, quero mostrar que Santo Estêvão trabalha bem”, salienta o ginasta de 18 anos. Para o treinador Bruno Nobre, que o acompanha desde criança, Francisco é um talento raro.

Prestígio do clube atrai jovens de fora
Do Montijo a Santo Estêvão são 40 minutos de distância. Inês Correia, de 15 anos, conhece como ninguém essa rotina que instalou há quatro anos. “É preciso vontade e o apoio dos pais. Mas vale a pena”, garante. “Vim para cá por causa do Bruno Nobre e do professor Carlos Matias. Já tinha ouvido falar muito bem deles e quis experimentar. Os resultados mostram que fiz a escolha certa”, conta. A sua colecção de títulos impressiona. Campeã do mundo em duplo mini trampolim no escalão 11-12 anos em 2022, vice-campeã mundial no mesmo ano em tumbling, campeã da Europa em 2024 no escalão dos 13-14 e 15-16. Estreia-se no seu primeiro mundial no escalão 15-16, com a mesma ambição. “A Inês é diferenciada, mas ainda duvida de si às vezes. Trabalhamos muito o psicológico. Lá fora, os ginastas treinam a tempo inteiro, aqui é depois da escola. É preciso dobrar o esforço”, diz o técnico Bruno Nobre.
Do Pinhal Novo para Santo Estêvão, Beatriz Mendes, de 17 anos, integra o escalão 17-21 na Competição Mundial por Grupos de Idades. Representa pela primeira vez o clube num Campeonato do Mundo, mas já sabe o que é vestir as cores da selecção. “Conheci o Bruno Nobre na selecção, em 2023, e gostei logo do treino. Este ano decidi mudar de ares e vir para cá. Foi uma boa decisão”, conta. Com um olhar tranquilo e confiante, Beatriz Mendes fala do apoio essencial da família e do clube. “Todos os dias venho de longe. Os meus pais ajudam, as colegas também. O clube dá um grande apoio, mas neste nível tudo é pago. É um investimento de todos e de muito amor pelo que fazemos”, afirma.

O papel dos mestres Bruno Nobre e Carlos Matias

A cumplicidade entre os técnicos Bruno Nobre e Carlos Matias é o motor da modalidade em Santo Estêvão. Conhecem-se há muito e já viveram momentos únicos no desporto. Bruno Nobre, antigo ginasta internacional, formou-se no mesmo espaço onde hoje treina os campeões. “Isto começou em 1994 com o professor Carlos Matias. Passaram 30 anos e continuamos a ter resultados. É quase inexplicável, numa aldeia tão pequena, sair tanto talento”, confessa.
Carlos Matias, treinador nacional, fala com a serenidade de quem viu crescer gerações de atletas. “Eles são jovens, mas muito comprometidos. Aprenderam que vencer é trabalho, concentração e resiliência. Nós, treinadores, temos a sorte de acompanhá-los no caminho. Não há apoio psicológico formal, mas há muitas conversas para os tornar fortes também a esse nível. É isso que os mantém equilibrados”.
O desafio maior, sublinha, é financeiro. “Nós dirigentes temos um papel e um trabalho de sapa. O município de Benavente e a Junta de Freguesia de Santo Estêvão têm sido os nossos únicos suportes, e organizamos, com os pais, tasquinhas e buffets para angariar fundos. Ainda assim, conseguimos manter o clube no topo, não só em Portugal, mas no mundo. Hoje, o ginásio é Centro Nacional de Treino e recebe atletas de vários clubes e selecções”, conclui.

Uma escola de campeões

A história repete-se: de dez em dez anos, surge um novo talento. “Já tivemos o Diogo Ganchinho, o Bruno Nobre, o André Nunes, o Filipe, a Stefani, o João Pinto... Agora temos o Francisco José, a Inês Correia, a Beatriz Mendes, o João Costa, que está a entrar em sénior, e uma nova atleta, a Olívia Silva, com apenas 10 anos e já a fazer mínimos para o Mundial de 2026”, orgulha-se Bruno Nobre. “Santo Estêvão é pequeno, mas a ambição é gigante”.
As vitórias internacionais inspiram novos praticantes, mas também intimidam alguns. “Há miúdos que olham para os campeões e acham que nunca vão conseguir fazer igual”, explica Carlos Matias. “Mas há outros que se entusiasmam e dizem: ‘Eu também quero’. É essa vontade que mantém viva esta casa onde eles também têm a sorte de ter os treinadores nacionais, que são dois viciados e pegam nestes talentos”.

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