Crónica dos Bons Amigos e o exemplo de Santana-Maia Leonardo
O MIRANTE, com a chancela da Rosmaninho, editou um livro de Santana-Maia Leonardo que é um hino ao amor pelos cães e gatos. O autor aproveita para se biografar, assim como à sua família, em crónicas escritas com humor, sentimento, emoção e, acima de tudo, uma grande humildade perante as vicissitudes da vida.
Santana-Maia Leonardo escreveu um livro sobre os cães e gatos que nos últimos quase trinta anos fizeram parte da história da sua vida e da sua família. "Crónica dos Bons Amigos" é um conjunto de textos que se lêem em vários capítulos que formam ao mesmo tempo uma biografia de um advogado, professor, político, dirigente associativo, entre muitos outros cargos, assim como da sua família onde já se contam sete netos.
Embora os cães sejam os grandes protagonistas destas crónicas Santana-Maia Leonardo explica de uma forma comovente que o amor aos animais começou no dia em que prendeu um cão a uma corrente por ter mordido um dos seus filhos e o médico ter recomentado que o cão fosse vigiado durante 24 horas para descartar a hipótese de ser portador de raiva. No dia em que foi solto o cão recusou a liberdade e fez tudo para ficar a fazer parte da família, o que veio a acontecer. As histórias escondem, no entanto, um encadear de situações vividas com os vários animais que fazem do livro uma antologia sobre o amor do homem aos animais e vice-versa.
As grandes surpresas do livro são, sem dúvida, a escrita clara e concisa do advogado de Ponte de Sor, que nasceu em Portalegre, mas também viveu em Abrantes e Lisboa. O interesse do livro vai muito para além do facto do autor considerar que os cães e os gatos têm ou deviam ter o estatuto de pessoas. O livro surge no mercado poucos meses depois dos juízes do Tribunal Constitucional terem considerado inscontitucional uma lei que visava castigar quem maltrata os animais. Não deixa de ser curioso assinalar este facto porque o advogado Santana-Maia Leonardo escreveu aquilo que qualquer activista dos direitos dos animais gostaria de assinar para fazer valer as suas ideias e os seus ideais e assim derrubar os juízos dos Procuradores do Ministério Público e dos juízes do Tribunal Constitucional que, aparentemente, quiseram entalar os deputados da Assembleia da República, sempre os maus da fita (e muitas vezes com razão por serem uns paus mandados de meia dúzia de espertalhões que dirigem os partidos e ao mesmo tempo os destinos políticos do país).
O que surpreende neste livro não é só a história de cada cão e gato, mas o que cada um representou no grande palco da vida de Santana-Maia Leonardo e da sua numerosa família, onde se inclui a mãe, Maria Laura Santana-Maia, a primeira mulher Juiz Conselheira em Portugal, que é autora das ilustrações da capa, contra-capa e badanas.
Confesso que, como editor, fui tão conquistado pelas histórias do livro como pela história de vida do autor que, há cerca de 10 anos, devido a um problema de saúde, resolveu dar uma volta à sua vida tentando viver ao máximo um dia de cada vez. Mais ainda: nos vários encontros com os seus leitores e amigos, onde marquei sempre presença, Santana-Maia Leonardo não se cansa de valorizar o papel dos cães e dos gatos fazendo ver que são os únicos companheiros dos idosos que povoam boa parte do território português, já que os mais jovens partiram definitivamente para o estrangeiro, ou para o litoral do país, na maioria dos casos para a área metropolitana da capital do reino. E é aqui que o peso da palavra tem mais significado, tanto como o de defender que cães e gatos são animais com pessoa lá dentro, como o de criticar o Estado de um país que se litoralizou, que o obrigou a escolher Barcelona como a sua cidade preferida e que o faz criticar a classe política portuguesa desiludido, mas acima de tudo sentindo que todos os seus ideais saíram derrotados. Por fim, a conclusão de que o livro é também um conjunto de histórias que ligam, na perfeição, a vida e a morte. JAE.