Região precisa de empresários que lutem e não baixem os braços
23ª edição do Galardão Empresa do Ano de O MIRANTE voltou a distinguir empresas e empresários da região que se destacaram no último ano.
Igualdade, competitividade, inovação e perseverança foram os temas centrais dos discursos dos premiados deste ano com os Galardões Empresa do Ano, atribuídos por O MIRANTE, na cerimónia realizada no Convento de São Francisco, em Santarém, na tarde de quinta-feira, 5 de Dezembro. A vida de empresário não é fácil, requer sacrifício e a região precisa de mais homens e mulheres que saibam ir à luta, nunca baixar os braços, diversificar os seus investimentos e manter competitivas as empresas, destacaram vários premiados.
“A vida de empresário é combater, tornar as empresas o mais competitivas possíveis e é isso que estamos a fazer. Temos de fazer um esforço permanente de investimento, diversificação para novos segmentos, inovação, qualificação de recursos humanos e apostar na internacionalização”, exemplificou Pedro Carvalho, da Couro Azul de Alcanena, reconhecida com o galardão de empresa mais exportadora. Actualmente a exportar 94% do seu negócio para 23 mercados, o empresário notou a relevância do prémio de O MIRANTE coincidir com os 85 anos do grupo familiar Nunes Carvalho, onde está inserida a Couro Azul há 35 anos. “Foi fundada pelo meu avô com quatro pessoas, o que hoje seria designada por uma start-up”, notou Pedro Carvalho, dedicando o prémio aos 600 colaboradores da empresa que, disse, são o maior capital da empresa.
Carlos Batista, presidente do Conselho de Administração da Tecnorém, recebeu o prémio de excelência e destacou que o país e a região precisa de pessoas empreendedoras, enérgicas, que não tenham medo de arriscar e se comprometam com o objectivo de fazer crescer o tecido empresarial. “Mesmo implicando sacrifícios pessoais. Temos de nos dedicar às nossas empresas para que elas possam alcançar os seus objectivos e todos nós de alguma forma podemos contribuir para termos um país melhor e um mundo melhor”, defendeu. O empresário, que fundou a Tecnorém há 35 anos devido ao seu gosto pela engenharia, lembrou a importância dos empresários diversificarem os investimentos porque as áreas de negócio nem sempre estão como se pretende e deu o exemplo do grupo, que tem actividade em sectores como metalomecânica, madeira, saúde e indústria hoteleira. “Temos 800 trabalhadores e todos eles fazem parte deste prémio que lhes dedico”, afirmou, agradecendo também à família e aos filhos.
Do Japão para a Castanheira em busca do melhor tomate
O Galardão Empresa do Ano foi entregue à Italagro, da Castanheira do Ribatejo, empresa que se dedica à transformação de tomate e que integra o grupo japonês Kagome. Shugo Yuasa, administrador da empresa, lembrou os 100 anos de história da Kagome e lembrou que desde sempre o grupo procura os locais do mundo onde se produz o melhor tomate. “Há 20 anos encontrámos este local (na Castanheira do Ribatejo) que produz o melhor tomate, no melhor clima e com as pessoas certas”, destacou, lembrando a política da empresa de que a qualidade deve sempre estar em primeiro lugar. “A melhor qualidade dos produtos só é possível com as melhores pessoas e a melhor matéria-prima”, defendeu. Já Sérgio Fonseca, director financeiro da Italagro, optou por dedicar o galardão aos agricultores que produzem “o melhor tomate do mundo no Ribatejo”. Para o responsável, o grupo Kagome “quer fazer parte da região e acredita que trabalhando em conjunto seremos mais fortes”.
Entre os premiados da noite esteve também o Aviário de Santa Cita, de Tomar, que integra o grupo Valouro e que recebeu o prémio PME. “Nem sempre encontramos um ambiente em Portugal propício ao sector privado e às empresas. A burocracia é pesada e nem toda a gente entende porque é que os países mais prósperos em que se respira mais liberdade assentam a sua economia no sector privado e por isso felicito O MIRANTE pela sua visão nesta área”, destacou Manuel Chaveiro Soares, engenheiro agrónomo do aviário de Santa Cita. O responsável lembrou o papel da família Santos, liderada pelos gémeos José e António Santos, que lideram o grupo Valouro. “A família completa 150 anos de actividade neste sector da produção de carne de aves. É a família que exerce esta actividade há mais anos na União Europeia. Por vezes o maior banco nacional aborda a família e é-lhes explicado que tudo é feito com a prata da casa e capitais próprios. Não há distribuição de dividendos no grupo, as pessoas vivem de forma modesta”, revelou. Manuel Chaveiro Soares destacou ainda o contributo da Valouro para a prosperidade e bem-estar de Portugal.
Já o prémio de carreira empresarial foi entregue a Manuel Pereira, dos “Sabores Ti Pereira” de Abrantes, que no seu discurso agradeceu a toda a família pelos 40 anos de trabalho e esforço contínuo em prol dos clientes e dos trabalhadores da empresa. “Agradeço a toda a gente que me trouxe até aqui”, agradeceu.
Luta pela igualdade acontece todos os dias
O galardão de mulher empresária foi entregue a Zita Freire, administradora do Mosteiro do Leitão, que dedicou o prémio a todos os que lutam por uma sociedade mais justa e a todas as mulheres que ficaram na sombra “por não ser de bom tom uma mulher assumir a liderança”. A empresária destacou o privilégio de receber o galardão atribuído pelo O MIRANTE e defendeu que a luta pela igualdade de género acontece todos os dias. “É uma das questões mais importantes e relevantes do nosso tempo. Embora tenhamos avançado em muitas áreas como a educação e a legislação, ainda nos deparamos com desafios significativos que exigem acção imediata. Muitas mulheres e meninas continuam a enfrentar discriminação e violência em casa, no trabalho e na escola. Somos sub-representadas em posições de liderança e decisão e muitas vezes temos as vozes silenciadas”, alertou. A empresária convidou todos os presentes a reflectir quantas mulheres são detentoras de uma estrela Michelin em Portugal. “Muito poucas”, lamentou. Para Zita Freire, não adianta ter agendas e discursos políticos se na prática a paridade não acontece. “Continuamos a cometer erros graves neste campo e compete a cada gestor tornar a sua empresa mais justa e igualitária, tanto a nível de oportunidades como de salário. A liderança inclusiva é a chave para criar ambientes onde todos possam prosperar”, defendeu. Zita Freire notou ainda que, tal como numa orquestra, quanto mais diversificado for o trabalho da equipa mais bonito e transformador será o resultado final. “Quero acreditar que um dia a humanidade a olhar para trás se vai lembrar destes tempos e sinta vergonha que houvesse quem acreditasse que as competências estariam estereotipadas no género, cor de pele, raça ou etnia”, criticou.
O galardão de jovem empresário foi entregue também no feminino, a Maria João Serras, administradora da João Serras – Pneus e Combustíveis. Maria João Serras admitiu que nunca foi um sonho seu ser empresária. “Até tentei fugir disto ao longo dos anos”, confessou. Maria João Serras queria ser valorizada por quem era e não por ser filha de João Serras. “No entanto a vida pregou-me uma rasteira, o meu pai faleceu dois meses depois de começar a trabalhar com ele e hoje se pudesse ter feito algo diferente tinha vindo mais cedo para o pé dele. Vi a felicidade nos olhos do meu pai quando lhe disse que gostava de trabalhar com ele e isso ninguém me pode tirar”, afirmou. Maria João Serras herdou um negócio, uma equipa e um sonho e agora diz ter força, garra e ambição de elevar a João Serras a um patamar superior.
Galardões dão força para crescer
Susana Santos, fundadora da Quintinha d’ aldeia, recebeu o prémio micro-empresa e destacou o papel de incentivo do galardão entregue por O MIRANTE. “São estes prémios que nos fazem crescer todos os dias e nos dão força para fazer mais e melhor. Hoje é um dia importante porque receber este prémio dá-nos mais força e certeza que estamos no caminho certo”, afirmou, antes de agradecer à família, amigos e clientes que fazem da empresa um sucesso.
O prémio Prestígio foi entregue à clínica Oliveira Saúde de Benavente, dos irmãos Jorge e João Oliveira. “Prestar um serviço de saúde na nossa terra tem uma exigência muito grande. Apesar de conhecermos muitas das pessoas elas exigem sempre o máximo de nós. A clínica virou-se para a humanização e diferenciação da sua mão-de-obra e prestamos um serviço diferenciado na nossa zona”, explicou Jorge Oliveira. Para o empresário, trabalhar de forma convergente é o segredo para o sucesso da clínica. “Continuaremos em Benavente a fazer a diferença com o intuito de prestar um serviço com qualidade, humanização e diferenciação”, notou.
A importância de reconhecer empresas e as críticas a quem desistiu de o fazer
A cerimónia de entrega dos Galardões Empresa do Ano de O MIRANTE juntou este ano cerca de três centenas de convidados, no Convento de São Francisco, e nos discursos dos patrocinadores dos prémios ouviram-se muitos elogios mas também algumas críticas. “Esta iniciativa de O MIRANTE é um acto de serviço público, de informar, dar a conhecer e valorizar estas empresas e empresários, e demonstrar que tem parceiros à altura para organizar esta iniciativa com dignidade e homenagear empresas de todo o distrito. Parabéns a O MIRANTE e a toda a sua equipa, e, já agora lembrar, pela negativa, aqueles que se demitiram das suas responsabilidades ao longo deste percurso de 23 anos de homenagear os empresários da região”, disse Ramiro Matos, presidente do conselho de administração da Águas de Santarém.
Pouco depois, José Santos, da Entidade de Turismo de Alentejo e Ribatejo, outro dos patrocinadores do evento, saudou O MIRANTE pelo jornalismo “arrojado, dinâmico e abnegado, livre, que permite todos os anos trazer a excelência da economia do Ribatejo a este galardão”, afirmou. Para o responsável, apesar de todas as dificuldades, é preciso saber homenagear quem cria riqueza em Portugal e na região.
Na opinião de João Teixeira Leite, presidente da Câmara de Santarém, O MIRANTE “enaltece, engrandece e sublinha a importância das empresas da região”, numa altura em que impera a crítica fácil e permanente. “Presta um importante serviço público de qualidade”, elogiou.
Também Jaime Pinheiro, administrador da Rodoviária do Tejo, destacou a ligação entre a empresa e as iniciativas que acrescentem valor e promovam o desenvolvimento da região. “E esta iniciativa é um bom exemplo disso”, destacou.
Sérgio Cardoso, do Instituto Politécnico de Santarém, destacou a importância de reconhecer o mérito e o talento dos empresários. “Interessa fazer destes exemplos, exemplos inspiradores. Há tantos empresários que precisam de ver sucesso e encontrar bons resultados e que se inspirem com isso”, afirmou.
Para Diogo Gomes, do Novo Banco, outro dos patrocinadores dos prémios, elogiou os empresários ribatejanos por estarem mais fortes e resilientes mesmo nos tempos difíceis. Também Filipe Alves, da Garval, se mostrou entusiasmado pela empresa ser parceira na iniciativa, que considerou muito relevante para a região.
Pela primeira vez o Galardão fechou a falar inglês
Shugo Yuasa, administrador da Italagro, foi o último a dirigir-se à plateia que encheu o Convento de São Francisco. O administrador da Italagro, empresa da Castanheira do Ribatejo, falou em inglês e pela primeira vez o Galardão acabou numa língua estrangeira, embora no final o director financeiro da empresa tenha usado da palavra para agradecer aos colaboradores e agricultores da região.