Especiais | 15-11-2024 09:00

Os dias mais importantes da vida são o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos o que queremos fazer com ela

Os dias mais importantes da vida são o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos o que queremos fazer com ela
ESPECIAL 37º ANIVERSÁRIO
José Eduardo Carvalho, presidente da Associação Industrial Portuguesa

Estive com um amigo meu de Santarém, encarcerado durante seis horas na cabine dum teleférico, numa pista de ski na Roménia (na altura em que a Roménia era mais pobre que Portugal). Entrámos em hipotermia. Foi tão traumatizante que me esqueci como foi feito o resgate.

Diz-se que há quem tenha memória de elefante e quem tenha memória de galinha. Onde se coloca em termos de memória e porquê?
Em memória seletiva. O cérebro não pode armazenar toda a informação que lhe chega. Precisa de apagar algumas. Acho que consigo fazê-lo.
Existindo boas e más memórias, guarda mais das primeiras ou das segundas?
Guardo as boas. Selecciono as más mais relevantes. É bom ter uma memória fraca para as coisas negativas da vida.
Qual a melhor memória que guarda?
Os dias mais importantes que temos na vida são o dia em que nascemos e o dia em que descobrimos o que queremos fazer com ela. Descobri cedo a vocação.
E a pior?
A morte do meu pai. Morreu com 40 anos. Eu tinha 18.
Já lhe aconteceu estar com alguém que viveu um acontecimento consigo e que não recorda nada do que se passou, ou recorda-se de forma muito diferente?
Sim. Estive com um amigo meu de Santarém, encarcerado durante seis horas na cabine dum teleférico, numa pista de ski na Roménia (na altura em que a Roménia era mais pobre que Portugal). Entrámos em hipotermia. Foi tão traumatizante que me esqueci como foi feito o resgate.
Que acontecimentos considera memoráveis na vida da região?
No passado recente, o papel da Escola Prática de Cavalaria e do capitão Salgueiro Maia tanto no golpe de estado do 25 de Abril como no 25 de Novembro. Mudou a vida do país e da nossa geração. E é o espelho das contradições deste país: o homem que derrubou uma ditadura, é depois colocado a trabalhar numa prisão….
Se pudesse propor a construção de um memorial público seria dedicado a quê ou a quem?
Dedicava-o à empresa Renova e aos seus gestores. Uma empresa altamente concorrencial conseguiu transformar um rolo de papel higiénico num artigo de luxo. Admiro e respeito muito os valores que os seus gestores comungam: descrição; frugalidade e seriedade. Seria um memorial que a partir do seu exemplo homenageasse todas as empresas da região.
Diz-se muitas vezes que as pessoas em cargos políticos têm má memória. Considera que já tinham má memória antes ou é um problema provocado pelos cargos para que são nomeadas ou eleitas?
Não creio que tenham má memória. Os cargos que exercem obrigam-nos a pensar em novos problemas e novas causas.
Há quem seja defensor das tradições e há quem ache que as tradições são entraves ao desenvolvimento. O que pensa das tradições?
Conciliar os novos valores civilizacionais com a tradição é condição necessária para um desenvolvimento social harmonioso e sem grandes clivagens. São fundamentais para consolidar uma transição geracional estruturada e sem grandes rupturas.
Há alguma tradição que tenha deixado de seguir?
Deixei de brincar ao Carnaval.
E há alguma tradição que já não faça sentido?
Todas fazem sentido desde que a sociedade as justifique. Pôr em causa uma tradição por questões ideológicas é uma manifestação de tirania que abomino.
Qual a tradição que nunca deixará de respeitar?
O jantar de Natal com a família.
O que faz no seu dia-a-dia, apenas por uma questão de tradição?
Tento colocar vida nos dias, e não dias na vida. Por isso a tradição não os influencia.
O que acha desta tradição de O MIRANTE assinalar cada aniversário pedindo aos seus leitores e anunciantes que partilhem as suas opiniões sobre um determinado tema?
É uma iniciativa interessante. Obriga-nos a reflectir sobre temas que normalmente não abordamos no nosso dia-a-dia.
E que tema sugeria para o próximo?
Seria curioso colocar os leitores a abordar temas politicamente incorrectos ou fracturantes. Obrigá-los a despir-se dos preconceitos. Não sei se a direcção de O MIRANTE teria muita adesão à iniciativa.
Quer acrescentar algo?
Que a redacção e direcção de O MIRANTE passem mais um ano com muito trabalho, boas iniciativas e saúde.

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