Associação de Jovens de Samora Correia quer dar voz às novas gerações
A Associação de Jovens de Samora Correia tem uma nova direcção que pretende dinamizar a comunidade com projectos que vão da cultura ao apoio social. Os novos órgãos sociais assumem o desafio de reinventar o papel da colectividade e a necessidade de se criarem respostas para fixar mais jovens na cidade.
A Associação de Jovens de Samora Correia, fundada há 13 anos, atravessa uma fase de renovação com a recente tomada de posse dos novos órgãos sociais. Leonor Lobo, de 27 anos, preside à direcção e lidera uma equipa que inclui jovens como Miguel Lobo, de 18 anos, e André Porto, de 31 anos. A equipa da qual fazem parte apresenta um plano ambicioso para 2025, com iniciativas que pretendem dinamizar a comunidade juvenil e aproximá-la das gentes de Samora Correia. “Se não houvesse uma nova lista, a associação teria deixado de existir”, afirma Leonor Lobo, aludindo às desavenças que levaram à renúncia dos anteriores órgãos sociais.
Actualmente, a associação conta com 155 sócios, cuja quota anual é de seis euros. “Apesar de sermos uma associação juvenil, acolhemos também adultos que mantêm laços connosco”, sublinha. A situação financeira da associação é estável, sendo decisivo o contributo da Câmara de Benavente e da Junta de Freguesia de Samora Correia. A sede é arrendada e há colaborações regulares com empresas da região. André Porto destaca o papel das câmaras municipais no apoio às associações, referindo que as autarquias deviam confiar mais nas colectividades, que são parceiros essenciais nas comunidades.
A nova direcção tomou posse a 26 de Novembro de 2024 e iniciou o planeamento para 2025 em meados de Dezembro. Entre as iniciativas previstas estão o regresso do torneio de futsal, a comemoração do Dia Mundial do Coração com workshops e rastreios e, ainda, a realização da Gala Jovem. Outra novidade será o Galantine’s Day, no dia 15 de Fevereiro, um dia dedicado aos solteiros depois do Dia de São Valentim com uma festa de “speed dating”, e a celebração do Dia Mundial da Juventude no primeiro fim-de-semana de Setembro.
Miguel Lobo, de 18 anos, é vice-presidente da direcção recém-empossada. Estuda num curso profissional no 12.º ano em Salvaterra de Magos para ser técnico multimédia. É ele que reforça a importância de ajudar os jovens a definir o seu futuro profissional. “Planeamos abrir a sede um dia por semana para ajudar na elaboração de currículos e candidaturas ao ensino superior”, explica, dizendo que é também essencial apoiar jovens empreendedores a criar o seu negócio e exortando os empresários a apostarem na juventude, na sua competência e capacidade, deixando de lado alguma desconfiança ou falta de oportunidades por não possuírem experiência.
Noutro prisma, o da saúde mental, a associação diz-se de portas abertas para ouvir sem julgar os problemas dos jovens. Apesar de não contar com profissionais qualificados para apoio psicológico, a colectividade espera, no futuro, estabelecer parcerias que permitam oferecer este tipo de suporte, porque “estar bem psicologicamente é fundamental”, reforça Leonor Lobo.
Habitação inacessível e transportes escassos
A inflação, a escassez de habitação a preços acessíveis e a falta de oportunidades são problemas recorrentes. André Porto, vogal da direcção e sócio-fundador da colectividade, aponta que muitos jovens acabam por viver com os pais devido aos elevados custos de arrendamento. “Em Samora Correia, arrendar um T2 pode custar 800 euros, o que é incomportável para quem ganha o salário mínimo”, lamenta o jovem de 31 anos formado em Serviço Social, que trabalha no Cacém como intermediador de crédito. Acrescenta que é crucial apostar em medidas de arrendamento acessível e habitação a custos controlados.
A mobilidade é outro obstáculo. Conforme denunciam Leonor e André, é gritante a falta de ligações regulares por autocarro para locais como Alcochete ou Montijo, dificultando o acesso a oportunidades de emprego e formação. “Não é aceitável que não haja transportes que liguem Samora Correia a estas zonas, onde muitos jovens trabalham ou estudam”, criticam. Apesar destes problemas, os jovens da associação asseguram que Samora Correia possui uma grande potencialidade devido ao recente aumento da população oriunda da zona de Lisboa devido aos elevados preços da habitação, pelo que o público jovem é muito diferente daquele que existia quando foi criada a colectividade.
A ideia da Associação de Jovens de Samora Correia é fazer com que estas pessoas que chegam à cidade ribatejana provenientes dos grandes núcleos urbanos não sintam que saíram da grande cidade e vieram para “o fim do mundo”. Por isso, salientam que é fulcral criar algum dinamismo para que os jovens percebam que se está a meia hora de Lisboa e não há assim tantas diferenças. O objectivo é que Samora Correia seja vista como uma localidade acolhedora e com oportunidades.
Associação fundada por um grupo de amigos
André Porto recorda a origem da associação, fundada por um grupo de amigos do ensino secundário. “Na época, Samora Correia tinha pouca oferta cultural e desportiva para jovens. Decidimos fazer a diferença e criar algo que despertasse a cidadania e a participação juvenil”, explica. Foi um grupo de cerca de dez pessoas com 17 ou 18 anos, do qual faziam parte Edgar Correia e Dino Roque, que se reuniu para criar a colectividade. Era tudo novidade. A associação evoluiu, mantendo o público juvenil como foco, mas tendo voz no município juntando a experiência de pessoas mais velhas, porque essa sinergia, referem, é importante para a juventude possa desempenhar o seu papel.