Sociedade | 01-07-2023 18:00

Declarações de ministro Galamba sobre novo aeroporto irritam autarcas da região

Declarações de ministro Galamba sobre novo aeroporto irritam autarcas da região
Carlos Brazão e Ricardo Gonçalves, em primeiro plano, durante a apresentação do projecto Magellan 500 em Santarém, em Abril deste ano

O ministro das Infraestruturas João Galamba considerou Santarém “longe” para o novo aeroporto quando as várias opções estão a ser avaliadas por uma comissão técnica independente. As declarações motivaram uma onda de reacções críticas, inclusivamente de camaradas do seu partido. O presidente da Câmara de Santarém rotulou o governante como “o trapalhão mor do Reino”.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, abriu mais uma frente de polémica ao dizer que considera “longe” a opção Santarém para o novo aeroporto, durante a CNN Portugal Summit, realizada a 20 de Junho. Uma posição que pode ser vista como uma desqualificação desse projecto face às restantes opções e que levou o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), a reagir prontamente nas redes sociais em tom enérgico chamando-lhe “o trapalhão mor do Reino”.
“Galamba, o trapalhão mor do Reino, ao criticar uma das opções, neste caso Santarém, veio agora tentar inutilizar uma comissão técnica independente que custa milhares de euros e tem a seu cargo estudar as opções do aeroporto. Creio que mais uma vez o país mostrará ao ministro Galamba que não apoia as suas trapalhadas. Pedro Nuno Santos quis fazer o mesmo e saiu, igualmente, descredibilizado. A história recente de Portugal faz-se com ministros trapalhões que, afastados da realidade do país, tentam condicionar as instituições às suas opções pessoais e não aos interesses do nosso país”, escreveu no Facebook Ricardo Gonçalves.
Mas o autarca escalabitano não foi o único a contestar essa apreciação ministerial numa altura em que as várias opções estão a ser avaliadas tecnicamente pois até os deputados do PS por Santarém criticaram essa declaração (ver texto nesta página). Os vereadores socialistas na Câmara de Santarém deixaram igualmente claro na última reunião do executivo que não se reviam nessa posição. E o vereador do Chega em Santarém, Pedro Frazão, também deu uma achega dizendo que essas declarações vêm “de quem não entende nada de coesão territorial” e demonstram “impreparação” para decidir politicamente sobre o assunto.
Também Anabela Freitas, a socialista que preside à Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e à Câmara de Tomar, referiu que “estando uma comissão técnica independente a fazer o seu trabalho há certos cargos que não podem dar a sua opinião publicamente”. A autarca defende que a localização do novo aeroporto em Santarém é a que melhor contribui para a coesão territorial do país e que a distância não se mede em quilómetros. “Para um norte-americano fazer 29 minutos de comboio é, mal comparado, como dar a volta ao quarteirão onde mora”, disse Anabela Freitas, rematando com uma provocação: “Para quem vive em Tomar o aeroporto de Lisboa também é muito longe”.

Promotores estranham declarações do ministro
Os promotores do projecto Magellan 500, directamente interessados na questão, também não se ficaram: “Estranhamos as declarações do Sr. Ministro, questionando não só a pura distância ao projectado aeroporto de Santarém como também a viabilidade do projecto e a idoneidade dos seus promotores”, reagiu o consórcio privado de que Carlos Brazão tem sido o rosto.
Os promotores do Magellan 500 acrescentam, rebatendo a apreciação do ministro e em defesa do projecto do aeroporto em Santarém: “Ainda relativamente à distância, consideramos que a distância em termos de tempo composto é de acesso ferroviário de cerca de 30 minutos a Lisboa com base nas infraestruturas existentes depois das melhorias em curso. E a outra distância concorrente é de 29 minutos. Nestes parâmetros a nossa distância é apenas de um minuto de diferença. Mas há uma diferença abissal, o projecto Santarém tem as infraestruturas rodo-ferroviárias realizadas para todo o país: para norte, para Lisboa e para o sul. E o tempo de operacionalização de Santarém são seis anos. Santarém não implica investimentos de dinheiros públicos e custos para os contribuintes”.
Também a presidente da Comissão Técnica Independente (CTI), Maria do Rosário Partidário, reagiu rapidamente às declarações de João Galamba dizendo que “todas as hipóteses” estão a ser analisadas. Na mesa estão as nove opções finalistas: Humberto Delgado + Montijo; Montijo+Humberto Delgado; Campo de Tiro de Alcochete; Humberto Delgado+Santarém e Santarém – a que foram adicionadas mais quatro: Pegões; Humberto Delgado+Pegões e Rio Frio+Poceirão e Humberto Delgado+ Alcochete.

Galamba rejeita estar a condicionar comissão técnica
Nos dias seguintes à polémica declaração o ministro das Infraestruturas tentou corrigir o tiro e defendeu que a distância entre Santarém e Lisboa não é impeditiva da construção do aeroporto em Santarém, mas reafirmou que é longe e considerou que estas declarações não condicionam a comissão técnica. “Não vejo em que é que as minhas declarações condicionam, prejudicam o trabalho da Comissão Técnica Independente, que tem, obviamente, um conjunto de equipas a trabalhar, que continuarão a trabalhar e que emitirão as suas opiniões e que tornarão público o seu relatório e ele será a base da decisão política”, justificou logo no dia seguinte.
Para João Galamba, “quando sair, esse relatório não vai dizer que Santarém é perto de Lisboa”. “Isso não significa que não possa haver um aeroporto em Santarém. Mas que é um aeroporto, que se vier a existir e se for em Santarém ou a 80 km de Lisboa é longe, é um facto”, defendeu. O ministro falava na audição regimental na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, no Parlamento.

Deputados do PS por Santarém contra exclusão de opções antes de conclusões da CTI

Os cinco deputados do PS eleitos por Santarém manifestaram-se contra a tentativa de exclusão de opções para a localização do novo aeroporto antes das conclusões da Comissão Técnica Independente (CTI), conforme acordado entre Governo e PSD. Uma posição que decorre das declarações do ministro das Infraestruturas, o socialista João Galamba, durante a CNN Summit, na qual considerou que um aeroporto em Santarém é “longe”.
“Os deputados do PS, eleitos pelo círculo de Santarém, acompanham os trabalhos da comissão técnica independente com toda a atenção, aguardam as suas conclusões e entendem que o distrito de Santarém reúne condições para ser considerado como opção para a futura localização do novo aeroporto”, lê-se numa nota publicada nas redes sociais da Federação Distrital de Santarém do PS.
Nesta nota, que é assinada pelos deputados Hugo Costa (presidente da Federação do PS/Santarém), Alexandra Leitão, Mara Lagriminha, Manuel Afonso e Francisco Dinis, deixa-se também o seguinte reparo: “Com total sentido de responsabilidade e de Estado, respeitamos o tempo de avaliação que cabe à comissão, conforme acordado entre o Governo e o maior partido da oposição”.
Em declarações à agência Lusa, o deputado e líder federativo do PS/Santarém, Hugo Costa, apontou que, neste momento, estão em avaliação não uma mas duas soluções aeroportuárias localizadas no distrito de Santarém. “Além de Santarém, está entre as opções o Campo de Tiro de Alcochete, no concelho de Benavente. Os deputados eleitos por este círculo eleitoral entendem que é altura da Comissão Técnica Independente tomar uma decisão”, afirmou.

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