No Rancho “Os Campinos d’Azinhaga” respeita-se o passado da aldeia mais portuguesa do Ribatejo

Fundado em 1948 por José dos Reis, como Rancho Folclórico da Casa do Povo, o Rancho “Os Campinos d’Azinhaga” conta em 2025 com mais de 30 elementos, numa prova da força da etnografia na região ribatejana. O grupo é sócio-fundador da Federação do Folclore Português e tem como actual presidente Fernando Pombo.
O Rancho “Os Campinos d’Azinhaga” nasceu em 1948 como Rancho Folclórico da Casa do Povo. O grupo etnográfico teve o seu primeiro director artístico em 1951, Augusto Barreiros. A expressão cultural d’Os Campinos começou a crescer logo no ano seguinte quando foram os representantes do Ribatejo no documentário ‘Tejo – Estrada que Anda’. Mas o Grupo não se ficou por Portugal, ainda no mesmo ano, uma equipa cinematográfica espanhola foi a Azinhaga para filmar uma actuação do grupo. Em 1992, com a extinção da Casa do Povo, o rancho passou a ser uma associação autónoma e ganhou o nome que tem até hoje – Os Campinos da Azinhaga – que foi inspirado no primeiro verso do soneto “Azinhaga” de Gustavo Matos Sequeira. O grupo já actuou em espectáculos de Filipe La Féria e na revista e, em 2006, actuaram na inauguração do Campo Pequeno, em Lisboa.
A ideia foi semeada em 1938, quando várias pessoas da Azinhaga se juntaram para representar a aldeia no concurso “A Aldeia mais Portuguesa de Portugal”. Formou-se um pequeno rancho folclórico que serviu apenas para o efeito, mas que deixou um vislumbre do que aconteceria dez anos depois, como conta a O MIRANTE o actual presidente do grupo, Fernando Pombo. “Não havia dinheiro para comprar fatos, então pedia-se às pessoas que trouxessem os fatos que vestiam no dia-a-dia, os fatos de domingo e de festa”, lembra Fernando Pombo. Ainda hoje os elementos trajam de campino e ceifeira como traje domingueiro. Na tocata, uns músicos vestem de campino e outros de pequenos lavradores.
“Os Campinos d’Azinhaga” estiveram várias vezes no estrangeiro, com actuações em eventos internacionais como a Europália 91, em Antuérpia, e a Expo 92, em Sevilha. “Na Bélgica estivemos oito dias para fazer um desfile e dançar três minutos na Europália. Mas ainda fomos actuar a um casamento e à câmara municipal. Foi muito enriquecedor”, recorda Fernando Pombo. Este tipo de viagens tem grandes custos, mas o rancho não tem razões de queixa em termos de apoios financeiros. “Fosse do Turismo de Portugal, da Fundação Inatel, da Câmara Municipal da Golegã ou da Junta de Freguesia da Azinhaga, conseguimos sempre apoios”, afirma a O MIRANTE.
Passado, presente e futuro
Fernando Pombo não tem dúvidas do segredo da longevidade da colectividade. “O que tento transmitir a este pessoal é que devemos fazer as coias com brio e exigência porque estamos a representar as tradições de outros tempos e devemos honrar esse legado. Aqui vestimos a camisola”, garante. O grupo folclórico está em constante renovação, mantendo alguns dos membros mais antigos e trazendo as gerações mais novas, perfazendo um total de mais de 30 elementos. É o caso de Márcia Nunes, de 23 anos, que confessa a O MIRANTE o orgulho que sente em fazer parte do projecto. “Pertencer ao rancho é manter a tradição e cultura vivas, é não esquecer a história da Azinhaga. É muito gratificante sentir que estamos a divulgar a nossa cultura e identidade”, revela. Há oito anos a dançar, Márcia Nunes diz ter muito a agradecer ao rancho todos os conhecimentos que tem adquirido, nomeadamente nas viagens pelo país.

Fernando Pombo é um homem com várias paixões
Fernando Pombo exerce com orgulho a função de presidente do Rancho “Os Campinos d’Azinhaga”, mas essa não é a sua única paixão. Aos 73 anos ainda corre, compete... e ganha. Tudo começou aos 15 anos, quando se iniciou no atletismo na Mocidade Portuguesa. Não se ficou por aqui e fez carreira no futebol, onde passou por clubes como o União de Tomar e o Sporting de Nampula, em Moçambique. Aos 38 anos voltou à corrida e ingressou na vertente do Duatlo aos 60 anos de idade. Conseguiu uma medalha de bronze no Campeonato do Mundo em Gijón, onde não foi o único vencedor na família, já que a sua neta, Mariana Pombo, subiu ao lugar mais alto do pódio e trouxe consigo a medalha de ouro do escalão de cadetes femininos.
Foi campeão europeu de Duatlo Cross aos 66 anos, em Ibiza, em 2018. Em 2022, em Bilbao, o corpo pregou-lhe uma partida e, depois de correr uma primeira prova e conseguir o quarto lugar, sofreu um AVC e teve de abandonar a competição. Sobre este contratempo, confessa, “uma pessoa nunca está à espera de ter uma coisa assim”, mas nem por isso deixou o desporto. Em 2025 venceu o XVII Duatlo de Arronches no seu escalão.
Estudar também é uma das paixões de Fernando Pombo. Em 2010 ingressou no Instituto Politécnico de Tomar, onde tirou uma licenciatura em Turismo, depois de uma vida como responsável comercial de uma empresa fabricante de vidro de embalagem. A escolha do curso explica-a com a sua ligação à cultura e ao turismo, através do folclore e do restaurante que abriu na Azinhaga, em 1999. No meio da rapaziada nova, como lhes chama, Fernando Pombo foi o melhor aluno do curso, com uma média de 16 valores.