Machetes | 15-03-2025 10:00

Tejo Ambiente debaixo de fogo com autarcas a questionarem competência da gestão de José Santos

Tejo Ambiente debaixo de fogo com autarcas a questionarem competência da gestão de José Santos
Gestão de José Santos, director-geral da Tejo Ambiente, tem sido muito criticada por autarcas dos municípios da área de abrangência da empresa

Eleitos na Assembleia Municipal de Tomar chumbaram a actualização do tarifário da Tejo Ambiente, empresa intermunicipal que opera em seis municípios do Médio Tejo. Em causa está uma alteração ao tarifário com aumentos de 2,1% na água e saneamento e 2,92% para os resíduos. Autarcas deixaram palavras duras para a gestão da empresa, que tem como director-geral José Santos.

A empresa Tejo Ambiente esteve debaixo de fogo durante mais de uma hora e meia na última Assembleia Municipal de Tomar. Os líderes de bancada dos vários partidos criticaram com palavras duras a administração da empresa intermunicipal que gere os sistemas de abastecimento de água e de saneamento básico dos concelhos de Tomar, Ourém, Sardoal, Mação, Vila Nova da Barquinha e Ferreira do Zêzere, e cujo director-geral é José Santos.
A discussão começou com as explicações do presidente do município, Hugo Cristóvão (PS), sobre uma proposta de actualização do tarifário para o ano de 2025, mais baixa que aquela que resultaria do cumprimento do previsto no Contrato de Gestão Delegada, e que foi aprovado pelos seis municípios. “Havendo uma alteração na fórmula, essa alteração teria que ser aprovada nos órgãos deliberativos dos municípios. Para que fique claro. Se estamos a discutir este tema hoje é porque o conselho de administração e a assembleia geral da Tejo Ambiente entenderam não aplicar o tarifário que era proposto pela ERSAR, que era bem superior a este que está proposto”, disse.
As explicações do presidente da autarquia não convenceram os autarcas que apontaram várias falhas ao modelo de gestão que tem sido seguido pela direcção da empresa e que, segundo os eleitos, têm resultado em graves prejuízos para os munícipes e para a actividade autárquica. Américo Costa, deputado eleito pelo Chega, afirmou que se tem assistido a uma escalada dos custos imputados aos consumidores desde a criação da Tejo Ambiente. “Em dois anos registou-se um aumento de aproximadamente 35% da factura da água. É um aumento alarmante e surreal. Que medidas foram implementadas para melhorar os processos internos e reduzir os custos? Existe uma auditoria independente que comprove a eficiência da gestão? Os munícipes têm conhecimentos de como são aplicados os seus contributos?”, foram algumas das questões apresentadas pelo autarca.
A intervenção de Bruno Graça, da CDU, também foi assertiva. “Quando é que vamos ter formalmente conhecimento do plano de actividades e orçamento para 2025 da Tejo Ambiente? (…) A proposta de tarifário para 2025 afinal teve de vir para aprovação na assembleia municipal, mas não veio por generosidade ou vontade dos responsáveis da empresa”, disse. Bruno Graça recordou as palavras do director José Santos sobre o porquê da proposta ter que ser votada em assembleia municipal. “Veio exclusivamente porque não cumpre o que está estabelecido em contrato”, citou o autarca, que lamentou o encobrimento das ilegalidades que envolvem o processo e as ilicitudes que acompanham a formulação da proposta apresentada.
Do lado do BE, Paulo Mendes começou por dizer que é inadmissível “a Tejo Ambiente querer aplicar uma tarifa de forma retroactiva, lamentando também o aumento muito elevado da mesma. “Estamos perante uma tentativa desesperada de amealhar muito rapidamente as maiores verbas possíveis”, vincou. Paulo Mendes apresentou ainda valores de outras empresas municipais e intermunicipais para comparar com os praticados pela Tejo Ambiente, que são muito elevados. “E depois querem falar de atractividade para o nosso concelho”.
A intervenção de Ricardo Carlos, da bancada do PSD, foi a que provocou mais tensão na sala. Entre outras insinuações, o deputado afirmou que “venderam-nos a Tejo Ambiente como uma grande solução porque permitia ter investimento e financiamento em baixa (…) se o senhor presidente não está interessado em representar bem os tomarenses, nós estamos e não vamos continuar a tolerar faltas de respeito”, disse.
Hugo Cristóvão respondeu à letra afirmando que é a bancada do PSD que está constantemente a faltar ao respeito. “Algumas questões mencionadas por vós ajudam a acrescentar ruído, mas não abordam o ponto em concreto. Isto não tem que ver com questões partidárias. Aqui ninguém chantageia ninguém, ninguém engana ninguém. Volto a dizer que todas as decisões são tomadas por seis presidentes, sempre consensuais, não há cá essa coisa do PS”, respondeu, acrescentando: “admito que a CDU ou o BE possam dizer algumas coisas, agora o PSD esteve na fundação, foram quatro municípios fundadores, dois do PSD e dois do PS. Actualmente são três, a presidência até é do vosso partido”, rematou.

Tejo Ambiente fala em “surpresa” na decisão da Assembleia de Tomar

Depois do chumbo da tarifa na Assembleia Municipal de Tomar, a Tejo Ambiente emitiu um comunicado a dar conta da proposta. “(…) A decisão assumida e tomada, por maioria, pela Assembleia Municipal de Tomar, inviabiliza a aplicação do tarifário proposto, pelo que, e de acordo com a Lei, não há outra alternativa que não seja a implementação da actualização tarifária, calculada segundo os ‘valores regra’, preconizados pelo Contrato de Gestão Delegada, indo ao encontro do constante no Parecer da ERSAR, com efeitos imediatos”, refere o comunicado.
“O conselho de administração não pode deixar de manifestar a sua surpresa face à decisão tomada pela Assembleia Municipal de Tomar, que não defendeu os interesses dos seus munícipes, nem dos cerca de 106 mil utilizadores da empresa, impondo-lhes um maior esforço financeiro nas facturas mensais”, refere o comunicado.

Luís Albuquerque, presidente da Câmara Municipal de Ourém

Presidente da Câmara de Ourém pondera saída da Tejo Ambiente

Depois de afirmações na Assembleia Municipal de Tomar, de que Ourém tem contribuído para os problemas da Tejo Ambiente, Luís Albuquerque diz estar a ponderar propor ao executivo a saída da empresa intermunicipal.

O presidente da Câmara Municipal de Ourém admitiu, na última assembleia municipal, que está a ponderar colocar ao executivo a possibilidade de abandonar a Tejo Ambiente. As declarações do autarca surgiram depois de, na Assembleia Municipal de Tomar, ter sido dito por alguns autarcas que Ourém também é responsável pelos problemas de gestão da empresa intermunicipal durante a discussão da actualização do tarifário da empresa para o ano de 2025. “As considerações que foram feitas sobre a minha pessoa na Assembleia Municipal de Tomar deixaram-me incomodado e quero-lhes dizer também que estou a ponderar propor à câmara municipal que o concelho de Ourém possa sair da Tejo Ambiente”, disse Luís Albuquerque.
Para o presidente da autarquia, que também preside ao conselho de administração da Tejo Ambiente, se há alguém que está a ser prejudicado com isto tudo é a Câmara de Ourém. “Nós temos dados muito concretos que dizem o investimento que cada câmara teve por parte da Tejo Ambiente e, se calhar se esses dados forem conhecidos e eu posso-os dar, as pessoas em Tomar irão ter muitas surpresas”, referiu, acrescentando que, quando Ourém aderiu à Tejo Ambiente as tarifas no concelho de Tomar baixaram 18%, voltando ao mesmo apenas em 2022. “Tiveram três anos que pagaram menos do que pagavam anteriormente. Custa muito ouvir aquilo que ouvi em Tomar sobre a Tejo Ambiente e sobre a minha pessoa (…) Ourém não tem que estar a levar com os problemas dos outros, que são os de todos nós, mas neste caso em concreto de Tomar”, concluiu.
Os deputados com assento na Assembleia Municipal de Ourém mostraram-se disponíveis para, caso seja favorável ao concelho, aprovar a eventual saída da Tejo Ambiente. Ao contrário do que aconteceu em Tomar, a Assembleia Municipal de Ourém aprovou, por maioria, a proposta de tarifário para 2025 da Tejo Ambiente e a tomada de conhecimento do plano de actividades e orçamento para o ano corrente.

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