Machetes | 27-09-2025 21:00

Leonor Caetano herdou do avô a paixão que a leva ao mundial de pesca

Leonor Caetano herdou do avô a paixão que a leva ao mundial de pesca
Leonor Caetano (ao centro) vai representar a Selecção Nacional no Mundial em 2026. O avô José António Cardoso (à dir.) é o seu treinador e José Justino (à esq.) é o responsável pela secção de pesca da SFUS - foto O MIRANTE

Aos 12 anos, Leonor Caetano conquistou lugar na selecção nacional sub-15 de pesca desportiva de água doce. Federada pela Sociedade Filarmónica União Samorense, foi vice-campeã nacional no primeiro ano de competição oficial. Entre treinos com o avô, material dispendioso e provas a centenas de quilómetros, a jovem prepara-se para o mundial, enquanto a família e o clube procuram apoios.

A vida de Leonor Caetano, 12 anos, divide-se entre os livros na Escola Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, e as canas de pesca que a têm levado cada vez mais longe. A jovem, natural de Vila Franca de Xira, entrou este ano no mundo federado da pesca desportiva pela mão da Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS) e surpreendeu ao ser vice-campeã nacional de sub-15, garantindo assim um lugar na selecção nacional. “É o meu primeiro ano a pescar como federada e nunca pensei chegar aqui”, confessa com simplicidade.
O gosto nasceu ao acompanhar o avô, José António Cardoso, veterano de pesca de competição. “Ia com o avô aos concursos e comecei a gostar”, recorda. O avô, que também é seu treinador, confirma que a neta mostrou cedo sinais de talento. Foi puxando por ela e os resultados apareceram. A temporada ficou marcada pela regularidade e por uma recuperação que deixou Leonor a um ponto do título. Em Chaves, na primeira grande prova, as condições foram difíceis e terminou a prova em sexto, recorda o avô. No Divor, em Arraiolos, a resposta foi imediata. Depois de dois treinos a solo com o avô, Leonor conseguiu 16 quilos no primeiro dia e venceu também no segundo.

Orgulho na convocatória esbarra na falta de meios
A SFUS, em Samora Correia, vive com orgulho a convocatória da sua atleta mais jovem, mas também com os pés assentes no chão. “É um enorme orgulho ter uma atleta de 12 anos a representar a selecção nacional. Mas é também um desafio. Os clubes maiores têm mais estrutura e meios. Nós não conseguimos oferecer o mesmo”, sublinha José Justino, responsável da secção de pesca da SFUS.
As dificuldades financeiras são um tema recorrente. Uma cana usada, em segunda mão, pode custar 1.600 euros. Só o banco ronda os 500. Depois vêm as bóias, os anzóis, os rolos. Tudo custa dezenas ou centenas de euros. A família e o clube já pensam em iniciativas para ajudar a deslocação a França, em 2026. A secção de pesca da SFUS tenciona organizar provas para angariar fundos e pedir apoio à câmara e à junta de freguesia.
Entre treinos, viagens e competições, há também a escola. Leonor Caetano garante que consegue conciliar. “Sou boa aluna. Costumo organizar os estudos à sexta-feira para ter o fim-de-semana livre para treinar e competir”, conta. Sobre a pesca, resume numa frase a filosofia da modalidade: é preciso paciência e sorte no pesqueiro. O avô acrescenta que há mais, sobretudo perspicácia. Na neta vê qualidades. “O peixe mal toca e ela já está a reagir. Tem um olhar atento e rápido. No início distraía-se muito, agora já está mais focada”, diz.

Uma forma de viver fora dos ecrãs
A pesca, diz Leonor, é também uma forma de viver fora dos ecrãs. “Enquanto estamos enfiados num computador não vivemos. Quando estamos fora, vivemos muita coisa”, defende. Se a pesca ainda é vista como um desporto masculino, Leonor Caetano ajuda a contrariar a ideia. O avô nota que já há muitas mulheres na pesca e Portugal já conta com selecções femininas. “Mas o financiamento é o problema. Muitas vezes são os próprios atletas a pagar deslocações ao estrangeiro. E isso cria desigualdade: não vão os melhores, vão os que podem”, alerta José António Cardoso.
Com o mundial à porta, Leonor não quer deixar que a pressão lhe roube o essencial. “Não tenho muitas expectativas. O que importa é divertir-me”, diz. No futuro, sonha seguir medicina veterinária, mas até lá promete continuar com a pesca ao fim-de-semana, nos treinos na Vala, no Vale Cobrão, em Montargil ou no Carregado.
Do lado da SFUS, fica a certeza de que este é apenas o início. Ter uma atleta da casa na selecção é motivo de orgulho para todos, resume José Justino. E para o avô, que a acompanha desde os primeiros lançamentos, a sensação é ainda mais especial. “Já me chamavam campeão em Vale Cobrão. Agora o alvo a abater é ela”, afirma com orgulho.

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