Machetes | 20-12-2025 10:00

Famílias de soldados ucranianos vão ser acolhidas no centro de recuperação de feridos em Ourém

Famílias de soldados ucranianos vão ser acolhidas no centro de recuperação de feridos em Ourém
Centro de feridos de guerra nasceu de voluntariado com investimento privado superior a 700 mil euros - foto O MIRANTE

Há ano e meio sem receber feridos da guerra na Ucrânia, o Centro Fénix renasce das cinzas para acolher 30 mulheres e crianças, familiares de soldados falecidos ou desaparecidos em combate.

Um ano após a chegada do primeiro grupo de soldados ucranianos para reabilitação em Portugal, a Associação HelpUA.pt e o Centro de Reabilitação Fénix, na Aldeia Nova, concelho de Ourém, vão acolher 15 mães e 15 crianças, familiares de soldados ucranianos mortos ou desaparecidos em combate. A chegada destes trinta refugiados, no âmbito do Programa de Apoio Psicológico e Cultural “Famílias de Guerra”, está prevista para 10 de Janeiro, refere a associação HelpUA.pt.
Este segundo grupo chega a Portugal no âmbito do Programa Europeu de Apoio Psicológico e Cultural a Famílias de Guerra, um projecto de reabilitação emocional e reintegração social de famílias afectadas pela guerra, desenvolvido em cooperação directa com o Ministério da Defesa da Ucrânia e com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Durante três semanas, as famílias vão participar num programa intensivo de reabilitação psicológica, integração cultural e formação pessoal, a decorrer no Centro de Reabilitação Fénix, em Ourém, sob acompanhamento permanente de psicólogos, terapeutas e voluntários portugueses e ucranianos. “Esta missão simboliza um novo ciclo de cooperação e solidariedade e pretende servir de exemplo inspirador para o alargamento do programa, garantindo, a pedido dos parceiros ucranianos, a realização de um grupo por mês ao longo de todo o ano de 2026”, avança a associação, que é a única na Europa com autorização formal do Ministério da Defesa da Ucrânia para executar este programa de acolhimento e reabilitação fora da Ucrânia.
Além da componente terapêutica, o programa, que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, inclui uma vertente cívica e cultural, contribuindo para a integração progressiva da Ucrânia na comunidade europeia e para a preparação das suas famílias e instituições no caminho da adesão plena à União Europeia. Nesse sentido, durante a estadia, o grupo visitará Lisboa, Fátima, Ourém e muitos locais históricos e culturais em Portugal.
Segundo o coronel Oleksandr Kutkov, chefe do Departamento Central de Cooperação Cívico-Militar do Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, citado em nota de imprensa, “esta iniciativa contribui significativamente para a recuperação e o apoio das famílias de militares ucranianos”, conforme carta oficial emitida pelo Ministério da Defesa da Ucrânia.
O vice-presidente da HelpUA.pt e responsável pelo Centro Fénix, Ângelo Neto, sublinha que “depois de um ano de trabalho contínuo” conseguiu-se garantir que Portugal voltasse a ser um farol de esperança para as famílias ucranianas que carregam as marcas invisíveis da guerra.

Centro Fénix não recebe feridos de guerra há ano e meio

O antigo seminário dominicano na Aldeia Nova, em Ourém, transformado num centro de reabilitação de feridos na guerra da Ucrânia, está desde Junho de 2024 sem receber feridos de guerra, por falta de apoio. Numa tentativa de salvar o projecto, tal como O MIRANTE noticiou, a associação resolveu abrir portas à comunidade e tratar pessoas necessitadas de cuidados de fisioterapia e psicologia. Em Janeiro deste ano, recorde-se, acolheu utentes de lar e população local, que beneficiaram de massagens, iniciação a equipamentos de exercício físico, tratamentos de magnetoterapia, entre outros.
Os 15 militares ucranianos que o Fénix recebeu em Junho de 2024, muitos dos quais amputados e todos com feridas psicológicas, regressaram à Ucrânia após duas semanas de tratamento, que segundo o responsável se equiparam a 90 dias, caso ocorressem na Ucrânia, em guerra com a Rússia desde 2022.

Transformar o trauma de guerra em resiliência

O projecto de reabilitação de familiares de soldados teve início em 2025 com o apoio do Ministério da Defesa do Reino Unido, que financiou e acompanhou mais de 400 mães e crianças ucranianas em programas semelhantes realizados no Reino Unido, Espanha e Bulgária. O Relatório de Impacto Internacional (2025) mostrou que essas intervenções resultaram na redução de sintomas de stress pós-traumático entre 45% e 60%; na diminuição de sintomas depressivos em mais de 50%; no aumento da estabilidade emocional e reintegração social em 82% das participantes; e na melhoria significativa da interacção familiar e de desempenho escolar das crianças.
O estudo concluiu que, mesmo em intervenções curtas, “com o ambiente certo e acompanhamento especializado, o trauma pode ser transformado em resiliência”, destacando Portugal como exemplo de solidariedade europeia em acção.

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