Sociedade | 27-10-2024 18:00

Burlas imobiliárias aumentam e fazem vítimas na região

As burlas com falsos arrendamentos têm crescido em todo o país e são, segundo a Polícia, um crime cada vez mais praticado com recurso às novas tecnologias. Irina Luiz e Júlio Lima são de Vila Franca de Xira, onde há mais de três dezenas de queixas, e foram vítimas deste esquema ao tentarem arrendar um apartamento em Azambuja.

Irina Luiz e Júlio Lima acreditavam ter encontrado em Azambuja o apartamento ideal para viverem com o filho de quatro anos. Iam finalmente deixar o quarto arrendado em Vila Franca de Xira e passar a morar mais próximo do local de trabalho. Mas o negócio para arrendarem o apartamento T2 a 600 euros por mês, que encontraram num conhecido site imobiliário, não correu como esperavam.
A partir do momento em que fizeram a transferência de uma mensalidade para assegurar a reserva do imóvel, por sugestão da suposta proprietária que falava ao telefone com Júlio Lima, nunca mais a conseguiram contactar. “Era sábado, já de noite, quando vi o anúncio. O meu marido quis ligar para tentar reservar, pois parecia uma boa oportunidade para deixarmos o quarto onde vivemos há dois anos. A senhora disse logo que sim, que reservava, mas que tínhamos de pagar a primeira prestação”, conta a O MIRANTE, Irina Luiz, que embora tenha hesitado durante alguns segundos sobre se seria seguro transferir o dinheiro, acabou por concordar com o marido depois de a alegada burlona lhes ter enviado o seu cartão de cidadão digitalizado e um “pré-contrato” de arrendamento.
“Decidimos dar uma chance até porque ela disse que no dia seguinte ia levar-nos presencialmente o contrato para assinarmos”, explica Irina Luiz. Mas nem o contrato nem a suposta proprietária da casa apareceram. Aliás, o apartamento que aparecia nas fotografias, provavelmente, nem existe na rua indicada no anúncio em Azambuja já que as mesmas fotografias do imóvel, mobilado e com cozinha equipada, surgem num outro anúncio imobiliário como localização em Espanha.
Depois de várias tentativas de chamada telefónica falhadas - houve apenas uma mensagem da alegada burlona a dizer que estava ocupada -, Irina e o marido deslocaram-se de imediato ao posto da Guarda Nacional Republicana para apresentar queixa. “Disseram-nos para termos calma, que não fazia sentido pensarmos que era uma burla porque a senhora nos tinha enviado a sua identificação”, refere.
Foi já na esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Vila Franca de Xira, no dia seguinte, que Júlio Lima acabou por formalizar queixa. “Ao que parece já tinham informações dessa senhora, mas até hoje não aconteceu mais nada, continuamos na mesma”, lamenta Irina que ainda tentou, junto do banco, reaver o dinheiro transferido, mas sem sucesso.

Burlas com arrendamento em crescendo desde 2022
O MIRANTE contactou a PSP de Vila Franca de Xira acerca deste caso e de outros semelhantes que possam ter ocorrido, tendo esta autoridade informado que “no corrente ano, existem 35 queixas registadas relativas a burla no arrendamento de bens imóveis, incluindo arrendamento para casa de férias, bem como para residir”. Das 35 queixas, 29 reportam-se à área de jurisdição da PSP neste concelho, acrescenta a Polícia, explicando que “as queixas cujos lesados desejaram procedimento criminal foram remetidas ao Ministério Público”.
No panorama nacional, só este ano, a PSP registou 619 denúncias de burlas com arrendamentos até à primeira semana de Julho. Do esquema utilizado fazem muitas vezes parte falsos anúncios publicados na Internet e difundidos nas redes sociais. No ano passado, segundo dados divulgados pela mesma autoridade, foram registadas mais de 1.500 burlas no arrendamento, tendo lesado em um milhão e 750 mil euros várias famílias que procuravam casa para arrendar.
Na mesma comunicação, a PSP detalha que os crimes de burla no ramo imobiliário começaram a ter expressão significativa em 2022, tendo aumentado em 2023. A prática de burlas no arrendamento tem sido facilitada pelo uso das novas tecnologias, que simplificam reservas e respectivos pagamentos sem que haja contrato firmado entre os intervenientes.

Como funcionam os esquemas de burla?

Por norma, um esquema de burla no mercado de arrendamento começa com o burlão a anunciar casas para arrendar na Internet, geralmente com preços abaixo do mercado. O contacto com os interessados é depois feito por correio electrónico ou por telemóvel, através do qual se negoceia um valor antecipado a pagar para reservar o imóvel. Segue-se um pagamento por transferência bancária ou, nalguns casos, por numerário a enviar por correio, e, após a confirmação do mesmo, o burlão desliga todos os contactos associados ao anúncio em causa, não respondendo, nunca mais, às tentativas de contacto da pessoa lesada.

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