Sociedade | 21-08-2023 12:29

Segurança leva ao abate de quase 500 árvores na EN114 em Rio Maior

Segurança leva ao abate de quase 500 árvores na EN114 em Rio Maior
Corte de árvores de grande porte junto à Estrada Nacional 114, no concelho de Rio Maior, tem sido alvo de críticas por parte de alguns moradores

O corte de árvores de grande porte junto à Estrada Nacional 114 no concelho de Rio Maior não passa despercebido a quem por ali circula com regularidade.

Uma intervenção radical que a Infraestruturas de Portugal justifica em nome da segurança rodoviária e da prevenção de incêndios.

A empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP) já mandou abater este ano 429 árvores no troço da Estrada Nacional 114 que atravessa o concelho de Rio Maior, com maior incidência na zona entre Azambujeira e São João da Ribeira, e prevê-se ainda mais 60 abates de árvores até à conclusão da intervenção, que começou em Fevereiro.
Em resposta a questões colocadas por O MIRANTE, a IP informou que os trabalhos ainda se encontram em curso, envolvendo podas, abates e remoção de resíduos. “No que respeita aos abates, foram até à data (4 de Agosto) executados 429, dos quais 55% respeitam a espécies invasoras, nomeadamente acácias e ailantos”, informa a IP, salientando que “o abate e controle destas espécies reveste-se, actualmente, da maior importância, pois estas, dada a sua enorme capacidade de proliferação, constituem um grave e crescente problema para a segurança rodoviária”, vinca a Infraestruturas de Portugal.
Mas nem só árvores invasoras estão na lista negra da IP. Também exemplares de espécies como o carvalho, o cipreste ou o freixo foram cortados pela base. Quanto aos exemplares dessas espécies, “os trabalhos de poda e abate resultam também da análise realizada por técnicos da IP, onde são identificadas situações, que muitas vezes não são visíveis para quem circula na via, como deficiências estruturais que potenciam a queda de ramos ou mesmo das árvores para a via, problemas fitossanitários, como pragas ou doenças, interferência com os equipamentos da via, entre outros”.
A IP diz também que os materiais resultantes da poda ou abate são encaminhados para destino final adequado de acordo com o previsto na legislação de resíduos e disposições ambientais em vigor, conforme estabelecido com a entidade executante. No entanto são muitas as ramagens secas amontoadas nas bermas da estrada, que serão pasto fácil das chamas em caso de fogo.

IP escuda-se na lei
A IP refere que é sua obrigação dar cumprimento ao estabelecido no Decreto-Lei n.° 82/2021, no que respeita à gestão da rede secundária de faixa de gestão de combustível, que obriga ao abate de árvores, de modo a garantir afastamentos mínimos entre copas. Destaca ainda que as actividades de poda e abate de árvores na EN114 foram precedidas do respectivo parecer técnico da especialidade para avaliação das necessidades de intervenção, na sequência das inspecções realizadas em Janeiro e Fevereiro de 2023.
Actualmente não decorrem intervenções de poda e abate de árvores noutras estradas do distrito de Santarém, embora estejam previstas intervenções ainda no corrente ano. A IP conclui informando que está prevista a plantação de árvores em vários concelhos do distrito de Santarém, de modo a compensar, ainda que parcialmente, os abates efectuados. Na sua implantação “será garantido o necessário afastamento à faixa de rodagem, de modo a assegurar que não venham a representar risco futuro para a circulação rodoviária e pedonal”.

“Será que não se banalizou o corte de árvores?”
O abate de árvores tem suscitado algumas críticas e reacções. Um leitor de O MIRANTE, João Correia, deu-nos conta da sua indignação: “Fiquei em estado de choque perante o abate de grande parte destas árvores, pois resido nesta zona praticamente desde que nasci (há 50 anos) e nunca pensei assistir a um grau de insensibilidade e desconsideração desta ordem, a pretexto da aplicação de uma lei que nos deverá proteger do flagelo dos incêndios”.
E questiona: “Por exemplo, qual o contributo de um carvalho-cerquinho isolado, com 80 cm de diâmetro no pé, a cerca de três metros da estrada, para o agravamento de um incêndio? Ou qual o racional de remover um renque completo de árvores (freixos) que ajuda a evitar movimento de massa num talude inclinado junto à estrada, numa zona sem contínuo florestal?”. O cidadão residente em Ribeira de São João, que documentou fotograficamente muitos dos abates ocorridos, considera que estes cortes são um rude e decisivo golpe na beleza paisagística, do sombreamento das estradas e da biodiversidade. “Será que não se banalizou o corte de árvores de grande porte, algumas centenárias, como se fossem simples ervas que voltam a crescer passado alguns meses, com efeitos muito duvidosos na almejada prevenção de incêndios?”, interroga.

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