Machetes | 22-10-2024

Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região

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Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região
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Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região

Lourença Simões, directora do AE Vale Aveiras

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Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região

Margarida da Franca, directora do AE Alexandre Herculano

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Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região

Helena Vinagre, directora do AE do Alto de Azambuja

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Integrar alunos imigrantes é um desafio para as escolas da região

Acrescentaram os seus nomes aos livros de ponto e levaram a diversidade cultural para dentro das escolas. O número de alunos imigrantes está a crescer na região e a trazer novos desafios à Educação. Khushi aprendeu a falar português num mês e teve aproveitamento escolar, já Hélio e Kauã não conseguiram passar de ano mas têm nota positiva no que toca à integração.

Quando Hélio da Costa entrou naquele avião não lhe conhecia a rota, muito menos imaginava que teria Portugal como destino final. Ao pôr os pés em terra, juntamente com a mãe e a irmã, deixava para trás Angola e, com isso, os seus amigos, a escola, a família, os escuteiros, tudo aquilo que conhecia até então. Há um ano e um mês conheceu, em Santarém, a nova escola, professores, e colegas, integrando o multiculturalismo já muito evidente no Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, onde 25% dos alunos são estrangeiros (438) e representam um total de 21 nacionalidades, com Brasil (169) e Angola (119) a dominarem.
Prestes a fazer 15 anos, Hélio da Costa é um dos alunos angolanos a frequentar o agrupamento e um dos que contribuiu para o aumento de 160% de alunos estrangeiros registado em cinco anos nas escolas portuguesas. Mas se por um lado a imigração trouxe mais alunos às escolas portuguesas, algo que é tido como positivo pelo actual Governo, é, por outro lado, “um dos grandes desafios na Educação”, admitiu recentemente o ministro da Educação, Ciência e Inovação (MECI), Fernando Alexandre, anunciando que serão anunciadas medidas para que as escolas tenham mais instrumentos para lidar com a nova realidade.
Para a directora do Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, onde já existe um plano de integração para migrantes com aulas de Português Língua Não Materna e programas de mentoria, entre outras medidas, “há nitidamente uma relação entre os resultados e a nacionalidade dos alunos, principalmente nos primeiros anos de integração. Penso que se deve às estruturas curriculares muito diferenciadas, o que se reflecte na falta de pré-requisitos e de estruturas de aprendizagem diferentes”, refere a O MIRANTE Margarida da Franca. A responsável nota, por outro lado, que a pior taxa de conclusão de ano ou a pauta com resultados mais baixos entre alunos estrangeiros “também tem muito a ver com a barreira da língua, que pode ser muito diferente, ou que, muitas vezes, embora seja o Português, tem uma sintaxe e uma sonoridade tão diferente que os alunos inicialmente a sentem como uma língua nova”.
Foi a língua portuguesa, acredita Hélio, que o ajudou a integrar-se e a fazer amizades, desvalorizando, pelo caminho, alguns episódios que poderiam ser considerados racismo, como chamarem-no de “preto”. Mas o facto de compreender todas as palavras na sala de aula não foi suficiente para ter aproveitamento escolar. “Reprovei, tive dificuldades. A matéria é diferente, a matemática, por exemplo, é bem mais difícil. Português eu gosto”, atira, declamando de seguida- e de forma irrepreensível - o poema “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões.
Desfecho igual teve Kauâ dos Santos, natural do Brasil, e aluno no mesmo agrupamento de escolas. “Aqui é mais complicado, a aprendizagem é mais difícil”, diz o jovem de 14 anos que deixou o país de origem “em busca de um lar melhor”, sublinhando que teve apoio fora das aulas mas que, ainda assim, não conseguiu passar de ano. Já na integração a nota foi positiva. “Senti-me muito acolhido aqui. Tenho amigo angolano, chinês, indiano”, diz, explicando que depois das aulas, tal como Hélio, ainda participa em actividades extra-curriculares promovidas pela escola, como o futebol, o badminton e hipismo.

Alunos orientais são mais fechados à integração, mas há excepções
Margarida da Franca diz não notar “segregação, antes pelo contrário, os alunos do Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano são muito abertos à diferença e à ajuda e integração dos migrantes. Sentimos sim, por vezes, uma auto-exclusão dos alunos orientais de algumas nacionalidades/etnias que se juntam em grupos e não contactam nem se integram junto dos restantes alunos”, refere a directora, vincando que “a integração é diferente” de aluno para aluno.
Não é de todo o caso de Khushi Patel, uma menina indiana de 13 anos que frequenta há três o Agrupamento de Escolas do Alto de Azambuja (AEAA) e que desde o início lutou pela sua integração, quer pelo empenho na aprendizagem do português quer pela sua simpatia singular. “Quando entrei na escola, em Dezembro, só falava com uma aluna inglesa, mas em Janeiro já tinha mais amigos”, conta a aluna do 7º ano, conhecida por ficar nos intervalos junto ao portão da escola a cumprimentar todos os que entram naquele estabelecimento de ensino em Manique do Intendente.
Nascida em Gujarat, cidade da Índia onde fica a estátua mais alta do mundo, o aspecto físico de Khushi é naturalmente diferente do dos colegas portugueses. “Eu sei que sou diferente, mas não me incomoda. É bom ser diferente. Sei que alguns falam da minha cor e roupas, mas não me chateio nada com isso”, atira sem rodeios e num português quase perfeito aprendido, revela orgulhosa, em menos de um mês. Boa aluna é adepta da matemática e reside em Alcoentre com a mãe, pai e irmão mais velho.
De acordo com os dados fornecidos pela directora do AEAA, Helena Vinagre, no presente ano lectivo, dos 392 alunos inscritos, 62 são migrantes e representam oito nacionalidades (Paquistão, Brasil, Venezuela, Argentina, Angola, Reino Unido, Holanda, Alemanha), sendo a brasileira (44) e indiana (quatro) as predominantes. Os que não falam português, explica, têm apoio a Português Língua Não Materna, onde “começam por fazer um teste de proficiência para ver se têm algum contacto com a língua portuguesa” para, depois, trabalharem “o vocabulário, os verbos e expressões do dia-a-dia”. Porque saber falar português, sublinha, é fundamental para a integração. “Nota-se, inicialmente alguma segregação, até porque a comunicação oral é difícil de ser executada”, mas “assim que o aluno migrante começa a dominar algum vocabulário a sua integração é melhor sucedida”.
Ainda no concelho de Azambuja, no Agrupamento de Escolas Vale Aveiras, a população migrante tem também crescido nos últimos cinco anos, o que levou a escola a ter de se adaptar e a estabelecer um protocolo com a Ciberescola no ensino partilhado do Português Língua Não Materna. Do total de 606 alunos inscritos, 80 são migrantes e 20 foram inscritos no corrente ano lectivo. Brasil e Angola são as nacionalidades mais presentes, de um total de 16. A directora deste agrupamento com sede na freguesia de Aveiras de Cima, Lourença Simões, salienta que no que toca à integração destes alunos “o acolhimento acontece, por norma, de forma positiva. É óbvio que o domínio da língua portuguesa é facilitador da integração, no entanto, alunos que não a dominam ainda são bem aceites e sentem-se integrados”.
Sobre se consideram que estes alunos têm pior taxa de conclusão de curso ou resultados mais baixos, ambas as directoras dos agrupamentos do concelho de Azambuja entendem que não pode ser estabelecida essa relação. “Quando apresentam resultados negativos tal só acontece porque ao nível da compreensão e interpretação escritos o vocabulário ainda não é denominado”, justifica Helena Vinagre.

30% dos alunos no Entroncamento são imigrantes

O Entroncamento é, na região, um dos exemplos mais flagrantes de como a imigração engrossou o número de alunos nas escolas. Dos alunos inscritos, 30% são filhos de cidadãos estrangeiros e, segundo o presidente da câmara, Jorge Faria, os imigrantes representam cerca de 50 nacionalidades e 10% da população total do concelho. As nacionalidades com mais expressão são a brasileira e a angolana, mas também a chinesa, indiana, ucraniana e cabo-verdiana. Segundo o autarca, os últimos dados oficiais, de 2022, apontavam já para 1.352 imigrantes registados (6,4% da população), mas, tendo em conta que nessa altura havia apenas cerca de 500 filhos de imigrantes a frequentar o ensino público e hoje estão matriculados 916, será fácil perceber que a população de imigrantes no concelho rondará as 2.300 pessoas. Questionado pela oposição em sessão camarária sobre o aumento da população imigrante no concelho, Jorge Faria mostrou-se relutante em responder, aconselhando o vereador da oposição, Rui Madeira, a consultar as informações disponíveis de acordo com a lei.

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