Tiago Soares transforma paredes sujas em arte
Tiago Soares é autor dos graffitis mais vistosos de Vialonga. Ninguém fica indiferente ao mural com as personagens do Dragon Ball ou do popular videojogo GTA. Os filhos, que estão à sua guarda, dizem na escola que o pai é artista. Uma paixão que começou na adolescência e que, aos 39 anos, continua a crescer.
Quem passa junto ao campo do Grupo Desportivo de Vialonga não consegue ficar indiferente ao graffiti que está numa das paredes. Foram duas semanas de trabalho e dedicação que resultaram numa representação do popular videojogo Grand Theft Auto V (GTA). O autor é Tiago Soares, 39 anos, nascido e criado em Vialonga, no Bairro da Icesa. Apesar de revelar o nome, o writer (artista que faz graffiti), por opção artística não mostra o rosto de frente. Os trabalhos falam por ele.
Começou aos 8 anos a copiar bandas desenhadas. O Hulk, o Homem-Aranha e o Fido Dido faziam parte do seu imaginário. Quando ia jantar fora com os avós copiava os desenhos das latas. Em 1996 o graffiti entrou na sua vida. Quando ia ter com o primo a São João da Talha, concelho de Loures, reparou que uma cabine da EDP estava já desenhada. “Intrigou-me como é que num dia aquilo estava tudo branco e no dia a seguir já estava desenhado. Ai está a essência do graffiti. Ninguém sabe quem foi o autor mas os desenhos aparecem”, relata.
Os pais queriam que fosse médico ou polícia, mas já não havia volta a dar. Começou a acompanhar o movimento do graffiti em Lisboa. Viajava sozinho até à capital. Na altura não havia internet e em Vialonga ligava-se mais ao futebol. Em Lisboa descobriu as lojas onde se vendiam os sprays para pintar as paredes. Fez amizades e comprou a primeira revista de graffiti. Combinava a nova paixão com o skate e a vivência começou a ser de rua.
A adrenalina subia cada vez que grafitava uma parede ou um muro porque sabia que não podia ser apanhado. Por isso sempre desenhou sozinho ou com um amigo. “Sempre foi considerada uma actividade marginal. Mas eu gostava da emoção de desenhar e depois os avisos que estava alguém a ver à janela e tínhamos de nos esconder. Cheguei a ser apanhado em flagrante e assumi o acto. Aprendi com isso”.
Os primeiros trabalhos de desenho autorizados foram feitos nas paredes dos quartos dos amigos. Aliás foram os amigos que o incentivaram também a fazer tatuagens, actividade que ainda mantém. Em 2005 Tiago Soares saiu de Vialonga e foi morar para Lisboa. Andou a saltar de casa em casa com a ex-mulher e com o primeiro filho. Regressou a Vialonga e foi pai novamente. Foi uma fase em que parou de pintar para estar com a família. A vida deu uma reviravolta quando a mãe dos seus dois filhos bateu com a porta e nunca mais regressou. Desde Março de 2019 que Tiago Soares tem a guarda parental do filho de 8 anos e do filho de 15 anos. É pai e mãe a tempo inteiro. Leva e vai buscar os filhos à escola e cozinha. Diz ser uma autêntica doméstica. “Tento fazer ver aos meus filhos que a vida não é um mar de rosas. Têm de lutar por aquilo que querem. Sou exigente e assertivo com eles. Têm de ter disciplina”, conta.
Desconstruir e provocar o riso
Para Tiago Soares os seus desenhos têm que transmitir uma mensagem positiva ou provocar o riso. Não grafita nada ofensivo, violento ou activista. O seus trabalhos são inspirados na anime (animação japonesa), banda desenhada e desconstrução do abecedário. Recentemente Tiago pintou o mural do pavilhão do Grupo Desportivo de Vialonga inspirado nas personagens da série do Dragon Ball. O clube forneceu a tinta e deixou Tiago escolher o tema. Quem por lá passa reage. Os miúdos tiram fotografias e fazem poses para as redes sociais. Enquanto pintava o muro uma senhora ofereceu-lhe uma nota de 50 euros para comprar tintas e agradeceu pelo trabalho no espaço público.
Quando as paredes estão sujas Tiago fala com os donos e pergunta se querem que desenhe um tema ou uma paisagem. Há muitos anos que tira fotos a sítios em Vialonga e envia ideias para a Câmara de Vila Franca de Xira para embelezar os espaços. Outra das ideias defendida por Tiago era pintar as torres do bairro residencial da Icesa, tal como acontece em alguns bairros de Lisboa, onde até fazem excursões para ver os graffitis. No prédio onde mora montou o escadote e pintou a lateral que estava suja e com asneiras escritas. Houve quem não gostasse da ideia mas o “writer” avançou na mesma.