Teresa Gomes vai dançar a solo no campeonato do mundo
É de Aveiras de Cima e fez-se dançarina na Associação Alunos de Apolo de Azambuja. Já competiu a par, mas é a solo que Teresa Gomes vai disputar o campeonato do mundo de dança desportiva. A dançarina de rumba, do pasodoble e do cha cha cha critica a falta de apoios e lamenta a falta de homens na dança.
Se há características que definem Teresa Gomes são o seu foco e determinação em cumprir os objectivos a que se propõe. E são esses traços que ajudam a explicar o porquê de a dançarina, natural de Aveiras de Cima, não falhar nenhum dos quatro treinos da semana, mesmo estando na universidade em Lisboa, nem ter desistido da modalidade quando ficou sem par. Teresa Gomes soube reinventar-se e, com a ajuda do seu treinador, reinventar a sua dança para a vertente de solo nas danças latinas. Os seus estilos predilectos são a rumba e o pasodoble, mas a cada prova também mostra o seu valor no samba, no jive e no cha cha cha. Uma mão cheia de estilos musicais que lhe vão dar o ritmo para exibir as coreografias ensaiadas vezes sem conta no Campeonato do Mundo de Solo, na modalidade Dança Desportiva, que arranca a 11 de Novembro em Palma de Maiorca, Espanha.
Vai ser a primeira vez que a dançarina de 21 anos vai representar Portugal, depois de ter sido convocada pela Federação Portuguesa de Dança Desportiva, numa época em que alcançou o terceiro lugar no circuito nacional. Quando recebeu a novidade, dada pelo seu treinador Miguel Nabeto, da Associação Alunos de Apolo de Azambuja, ficou obviamente feliz, mas ao mesmo tempo preocupada com a questão financeira. Isto porque, explica, conseguir apoios para competir, mesmo a representar as cores nacionais, é muito difícil. Valem-lhe, afirma, os seus pais que “redefinem prioridades” e têm um respeito e apoio profundo pelo amor que Teresa tem à dança. “A dança não é valorizada neste país; nunca falam da dança. Precisamos de mais apoios”, diz em jeito de apelo, lamentando, de seguida, que o futebol continue a absorver grande parte dos apoios/patrocínios e atenções.
Teresa Gomes começou a dançar aos 11 anos, após um deslumbramento repentino com um programa de dança que nessa época passava na televisão portuguesa. A mãe fez-lhe a vontade inscrevendo-a na Apolo de Azambuja e, desde então, nunca mais parou. Na verdade, houve um tempo em que quis parar. “De repente fiquei sem par e deixei de querer competir, não o queria fazer a solo. Achava que dançar sozinha era regredir, porque a dança, para mim, é um desporto a dois. Tem outra beleza”, afirma, confessando que apesar de já estar confortável a dançar a solo continua à procura de par. E, tal como Teresa Gomes, há por esta região e país muitas dançarinas sem par.
“A dança é a minha identidade”
Segundo Miguel Nabeto, que juntamente com o seu par de dança, Cláudia Jesus, fundou em Azambuja a Alunos de Apolo, “é cada vez mais difícil captar homens para a dança” e o período da pandemia acabou por afastar os poucos que a praticavam. Já por esse motivo, explica, as federações portuguesa e internacional criaram e têm apostado nos campeonatos de solo, tendo em conta que do lado feminino há cada vez mais dançarinas que é preciso “valorizar e incentivar”.
Mas dançar sozinho não é o mesmo que dançar acompanhado. Perde-se “o glamour” e o “brilho” que o homem ajuda a dar à mulher, evidenciando a beleza dos seus passos, quase sempre mais vistosos e elaborados. Não é à toa, elucida Teresa Gomes, que os vestidos das dançarinas são cheios de cor, brilho e movimento. São também estas peças que requerem um maior esforço financeiro para os praticantes. Só para se ter uma ideia, um vestido novo, simples, não custará menos de 900 euros. “É um grande investimento, mas embelezam muito a dança. No meu caso, os que tenho são de uma amiga que já dançou. Estão em bom estado e ficou mais em conta”, diz.
Aluna da Licenciatura de Artes e Humanidades da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, diz que abandonar a competição não está, de todo, na equação até porque o plano para o futuro é conciliar a dança e a representação. “São duas áreas que andam de mãos dadas; é o que quero fazer. A dança é a minha identidade, não me conheço sem ser a dançar”, conclui.