Moradores de Tancos denunciam atentado ao património local
Tancos é uma das aldeias ribeirinhas com mais património da região ribatejana, mas a população está revoltada com a possibilidade de ser construída uma moradia em cima dos muros dos antigos armazéns, algo que, afirmam, coloca em risco o património paisagístico do local e é uma mancha irreparável no trabalho de Fernando Freire enquanto presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha.
A população de Tancos está indignada e revoltada com a possibilidade de vir a ser construída uma moradia com primeiro andar na zona ribeirinha e colocar em risco o património histórico que é o principal ex-líbris da aldeia. Alguns dos moradores com quem O MIRANTE falou junto ao Cais de Tancos, que pediram para não ser identificados, dizem mesmo que, a confirmar-se a construção de uma habitação naquela zona histórica, que poderá levar à destruição parcial dos muros dos antigos armazéns do cais, deixa uma mancha irreparável no trabalho de Fernando Freire como presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha. “Os muros dos antigos armazéns do Cais de Tancos são o melhor exemplo para ilustrar a importância deste porto nas actividades económicas do concelho e da região. É imperativo proteger o cais e toda a sua envolvente que fazem de Tancos uma aldeia única em termos de património paisagístico local”, refere um dos munícipes.
Em 2022 a Câmara da Barquinha classificou como património municipal o cais, razão pela qual os moradores não compreendem a facilidade com que se coloca em causa a história da aldeia em detrimento de interesses privados. “Curiosamente, o município foi pioneiro na criação de Planos de Protecção e Salvaguarda das suas zonas históricas, nomeadamente de Tancos, um interessante instrumento de protecção do património e de planeamento urbanístico, que definia detalhadamente, caso a caso, o tipo de construção que se podia fazer dentro desse perímetro urbano. Era um documento exigente e que, segundo alguns, espartilhava em demasia as possibilidades de recuperação do património edificado, contribuindo supostamente para o desinvestimento local por parte de privados. Daí que o mesmo tenha sido revogado recentemente sem ter sido construída uma alternativa que minimizasse os seus inconvenientes, abrindo a porta à possibilidade de atentados urbanísticos”, afirma Júlio Pereira, investigador de História Local, numa tomada de posição pública enviada para a redacção de O MIRANTE.
O investigador acrescenta que “as pessoas não deixaram de se aperceber que as sondagens arqueológicas estão a desvendar (…) a existência de estruturas, de pisos empedrados, de zonas lajeadas, que poderão ser importantes para a compreensão daquele sítio histórico e que ameaçam ser destruídas se a edificação for avante nas condições previstas”. Conclui, referindo que “este caso deverá merecer um cuidado especial por parte da edilidade e das entidades que tutelam o Património, pois salvaguardar tanto pode passar por proibir ou condicionar, como por criar alternativas ou conservar o que existe noutras condições”.
O MIRANTE pediu esclarecimentos, através de email, ao presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha, Fernando Freire, mas até à data de fecho desta edição não obteve qualquer resposta.
Grupo na Internet com mais de 300 cidadãos
O grupo no Facebook intitulado “Associação de Protecção do Património de Tancos” tem mais de três centenas de membros que diariamente demonstram o seu desagrado e revolta perante a possibilidade do património histórico vir a ser parcialmente destruído por causa de interesses privados. Segundo a administração do grupo, surgiu com o objectivo de lutar pela preservação do património e denunciar todas as acções que ponham em perigo a memória colectiva da aldeia.