Sociedade | 21-08-2024 10:00

Moradores de Arruda dos Vinhos unem-se para cuidar dos outros e da natureza

Moradores de Arruda dos Vinhos unem-se para cuidar dos outros e da natureza
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Moradores de Arruda dos Vinhos e arredores juntaram-se numa missão em prol da comunidade e do ambiente da região

Comunidade do Alimento Arruda e Arredores existe desde 2018 e junta todos os que querem dedicar-se ao voluntariado, respeito pela biodiversidade e promoção das relações humanas.

Um grupo de cidadãos de Arruda dos Vinhos juntou-se informalmente há seis anos para tentar melhorar a qualidade de vida da zona onde vivem e a iniciativa nunca mais parou de crescer, juntando hoje uma centena e meia de voluntários. São considerados um exemplo de cidadania activa e já conseguiram selar acordos de cooperação com a Câmara de Arruda dos Vinhos e com a junta de freguesia da vila. Intitulam-se Comunidade do Alimento Arruda e Arredores (C3A) e querem contribuir para um mundo melhor assente em três princípios base: respeito pela biodiversidade, promover as relações de proximidade humana e defender a acessibilidade aos alimentos como bem-comum. “Somos uma iniciativa de cidadãos que dão do seu tempo livre, fora do trabalho, para ajudar a estabelecer pontes de proximidade”, explica Mariana Ley, 54 anos, uma das co-fundadoras do grupo, a O MIRANTE. Actualmente, a C3A tem elementos de Arruda dos Vinhos mas também dos vizinhos concelhos de Alenquer, Sobral de Monte Agraço e Loures.
Estão a desenvolver vários projectos na comunidade, incluindo uma plataforma que visa proporcionar alimentação saudável e acessível a um número crescente de pessoas, incentivar a agricultura sustentável e regenerativa dos solos e reduzir o desperdício, entre outros objectivos. O MIRANTE conheceu o grupo durante o Mercadinho da Comunidade, um evento que o grupo realiza no primeiro sábado de cada mês, nos lavadouros de Arruda dos Vinhos, em parceria com a junta de freguesia, desde Fevereiro do ano passado.
“Basicamente são pessoas que nos trazem alguns dos seus excedentes, que têm quintais com muitos limoeiros ou pessegueiros e que respeitam a biodiversidade. Não aplicam fitosanitários de origem química e aproveitam para escoar esses produtos a quem precisa e os quer”, explica Mariana Ley. A dirigente ressalva a promoção da proximidade e boa vizinhança como outro dos grandes objectivos da iniciativa. “Tentamos que o alimento seja encarado como um bem comum, sem a ideia mercantilista do alimento ter de ser algo para se vender. Ele é uma necessidade básica e não um bem de consumo”, defende.

“Tentamos tirar as pessoas de casa”
O grupo está também a desenvolver um projecto de conservação do Rio Grande da Pipa, que desagua no Tejo, na vizinha localidade da Vala do Carregado, concelho de Vila Franca de Xira, incluindo também outro projecto em parceria com a associação ambientalista Quercus, chamado Jardins da Biodiversidade, em que os moradores são responsáveis pela gestão de dois pequenos jardins em Arruda dos Vinhos, cedidos pela câmara municipal.
“Tudo isto envolve muito trabalho de muitas pessoas. Tentamos tirar as pessoas de casa e da frente dos computadores e das televisões que só nos mostram desgraças para que se dediquem a estar presencialmente com os outros, olhando as pessoas nos olhos. É isso que nos motiva. Queremos apostar nesta proximidade”, refere a dirigente.
Mariana Ley defende a O MIRANTE que o futuro colectivo não está ameaçado e que o crescimento da C3A é um exemplo disso mesmo. “Todos somos culpados pela crise alimentar e ambiental que estamos a passar. O que estamos a tentar fazer é dar a volta por cima apostando nas pessoas. É com essa conexão humana e espírito de vizinhança que conseguimos. Há pessoas com 60 anos que não se viam desde o liceu e que se reencontraram aqui. Achei isso maravilhoso”, conclui.

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