Economia | 08-09-2021 11:40

Empresários da indústria florestal encaram PRR com críticas e cepticismo

Empresários da indústria florestal encaram PRR com críticas e cepticismo

Empresários das principais empresas industriais de base florestal não esconderam, durante um debate realizado na feira Agroglobal, a sua desconfiança quanto à distribuição de verbas do PRR. Mostram-se também preocupados com a falta de gestão florestal e a nova estratégia europeia para a floresta.

Empresários das principais indústrias florestais mostram-se críticos e cépticos em relação à repartição de verbas entre o sector público e privado e taxa de execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que vai trazer muitos milhões de fundos comunitários para Portugal nos próximos anos. Há projectos e ambições em cima da mesa, que vêm acompanhadas pelo receio de ficarem pelo caminho.

António Amorim, (CEO Corticeira Amorim), António Redondo (CEO Navigator), José Pina (CEO Altri) e Rui Correia (CEO Sonae Arauco) deixaram as suas visões de futuro para as florestas nacionais durante o debate “Florestas de Produção: Um marco para a sustentabilidade”, que decorreu na terça-feira, 7 de Setembro, na Agroglobal, que contou com a participação do ex-ministro e ex-líder do CDS-PP, Paulo Portas.

Questionado sobre que oportunidades pode o PRR trazer para o sector florestal, Rui Correia foi o primeiro do painel a assumir a sua descrença relativamente à capacidade de aproveitar este instrumento financeiro para a “transformação da indústria, nomeadamente a fileira do pinho”. Uma opinião alinhada com o pensamento de Paulo Portas, que não deixou escapar dados sobre a repartição dos milhões da chamada 'bazuca' - “66 por cento para o sector público e 34 por cento para o sector privado”, quando na economia portuguesa apenas 20 por cento dizem respeito ao sector público e 80 por cento ao privado.

Também José Pina diz não entender de que forma as “políticas públicas se traduzem na génese do PRR”, cujo objectivo é a “revitalização económica”. O CEO alerta ainda para o facto de “os milhões de euros ligados à floresta terem como enfoque os incêndios e a floresta de conservação”, que são por “oposição àquilo que é a regeneração da actividade económica”.

António Amorim, CEO da Corticeira Amorim, foi entre todos o mais positivo, focando o seu discurso numa óptica de oportunidade para reorganizar a fileira da cortiça e fazer crescer “o novo projecto de instalação de sobreiros com rega assistida", que vai permitir a redução da produção inicial desta matéria-prima de 25 para 10 anos. O sector da cortiça tem crescido cinco por cento, mas para continuar em sentido ascendente, alertou, “precisa de mais matéria prima”.

Em cima da mesa do debate, moderado pela jornalista do Diário de Notícias e Dinheiro Vivo, Joana Petiz, esteve também a Estratégia Florestal Europeia para 2030, que surge no âmbito do Pacto Ecológico Europeu. Merecedora de críticas por parte de onze países da União Europeia, também os empresários não se mostraram, no geral, satisfeitos com o que está vertido no documento já adoptado pela Comissão Europeia.

“Se a estratégia europeia para as florestas e o PRR se ligarem é uma péssima notícia para o país e para as empresas que estão aqui representadas”, afirmou António Redondo, acrescentando que o documento delineado traz uma visão “idílica da floresta” e pode trazer novos obstáculos e significar um “risco gigantesco” para a indústria. “Traz uma perspectiva de sumidouro, sequestro de carbono e de biodiversidade, mas a floresta tem inúmeros outros serviços que presta, desde logo a cortiça, a madeira de produção e a pasta de papel que são tão ou mais importantes”, vincou, defendendo o equilíbrio entre a floresta de produção e de conservação.

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