Economia | 08-02-2023 10:00

Franxiro venceu concurso mas continua em “banho-maria”

Franxiro venceu concurso mas continua em “banho-maria”
Célia Mendes criou a receita vencedora do doce oficial do concelho de Vila Franca de Xira

O doce “Franxiro” foi anunciado em 2021 como o vencedor do concurso “Um doce cons/celho”, promovido pela Câmara de Vila Franca de Xira, mas nunca mais se ouviu falar dele.

A receita é da autoria da professora Célia Mendes e foi desenvolvido pelos alunos do Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária do Forte da Casa mas o município ainda não registou a patente.

O Franxiro foi anunciado em 2021 como o doce oficial do município de Vila Franca de Xira. O mote lançado pela autarquia através do concurso “Um doce cons/celho” era a criação de um doce que envolvesse dois produtos endógenos, neste caso o melão e o arroz. O projecto foi abraçado pela professora Célia Mendes e pelos alunos do Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária do Forte da Casa que criaram o Franxiro, um doce com a forma da letra V, de Vila Franca de Xira. Na altura o município comprometeu-se a desenvolver uma imagem gráfica para as embalagens e a difundir publicamente o Franxiro, para que todas as pastelarias o pudessem confeccionar. “O concorrente vencedor tem agora, em 2021 e 2022, a exclusividade no fornecimento do doce em todos os certames em que o turismo do município esteja representado, como a Bolsa de Turismo de Lisboa”, disse a autarquia em 2021.
O doce chegou a ser promovido pela professora e alunos na Feira de Outubro, que decorre anualmente em Vila Franca de Xira, mas depois ficou por aí. A O MIRANTE Célia Mendes conta que as pessoas que provaram o doce na feira adoraram e voltavam para trás para dar os parabéns. Quando perguntavam onde podiam comprar eram reencaminhadas para o posto de turismo. “Utilizando um termo técnico de cozinha o Franxiro está em banho-maria. A câmara devia criar uma dinâmica para o doce estar acessível às pessoas. Para poder ser vendido têm de se fazer análises, cumprir com os requisitos de higiene e segurança e estar certificado. O doce que eu saiba ainda nem sequer está registado”, explica Célia Mendes.
O Franxiro foi criado após várias provas. Trata-se de um pastel recheado com arroz doce e doce de melão, com a vantagem de ter uma elevada capacidade de conservação. “O arroz e o melão fazem um casamento perfeito”, diz Célia Mendes. Quanto ao futuro do doce ainda nada se sabe.
Contactada pelo nosso jornal sobre qual a estratégia para o Franxiro, e se o mesmo já estava registado, a Câmara de Vila Franca de Xira não respondeu.

Do “carolinata” às carnes bravas
A paixão de Célia Mendes pela cozinha começou em criança quando acompanhava a mãe nos almoços de família. A viver em Benavente a professora, de 53 anos, decidiu ir para a Suíça aos 20 anos e foi lá que aprendeu quase tudo. Começou a trabalhar num restaurante onde o patrão era chef de cozinha e a partir daí trabalhou em vários hotéis de cinco estrelas.
Célia Mendes conheceu o marido na Suíça e teve uma filha. Regressou depois a Portugal e abriu um restaurante em Benavente. Apesar de ter tido sucesso, o espaço de restauração era muito pequeno e foi novamente trabalhar para a Suíça com o marido. Instalou-se definitivamente em Benavente há 15 anos. Por sugestão dos amigos começou a dar aulas em várias escolas profissionais e deu formação a jovens e adultos. Para além de dar aulas no Forte da casa também lecciona no IEFP e é jurada em vários concursos.
Gosta de trabalhar com ingredientes ribatejanos e lamenta que não se dê o devido valor a pratos como o cozido de carnes bravas. O carolinata é outro doce desenvolvido pela docente e que pode ser encontrado no concelho de Benavente. A patente foi registada em seu nome e o doce faz parte do cardápio do Festival do Arroz Carolino das Lezírias Ribatejanas e continua a ser promovido. A ambição continua a ser abrir um restaurante no concelho de Benavente até porque já tem tudo planeado. “A cozinha tem de ter coisas da lezíria, nomeadamente a carne brava e o carolinata. Eu tenho a certeza que aquilo que faço é bem feito”, reitera.

Alunos da Secundária do Forte da Casa esperam vir a singrar no mundo da gastronomia e hotelaria

Curso de Cozinha e Pastelaria sem interessados

Este ano lectivo o Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária do Forte da Casa não abriu nova turma. Não havia alunos suficientes para dar início ao 10º ano e assim as aulas decorrem com a turma de 11º ano. Célia Mendes conta que é muito difícil concorrer com outras escolas, nomeadamente a Escola Profissional de Hotelaria e Turismo na Póvoa de Santa Iria. A docente tem esperança que no próximo ano apareçam mais alunos, até porque saíram daquele curso bons profissionais. “Têm todos trabalho e muitos são elogiados”, diz.
Aos 17 anos Yara, da Póvoa de Santa Iria, frequenta o curso na Escola Secundária do Forte da Casa. A paixão pela pastelaria surgiu desde criança quando acompanhava a mãe e “uma avó de coração” na cozinha. A falta de uma mão não a afastou da cozinha e diz ter sido sempre incentivada a ver e tocar. Para o futuro profissional quer trabalhar em pastelaria e por isso espera encontrar um lugar onde possa evoluir e ter sucesso.
Nascido no Brasil e a viver há cinco anos na Póvoa de Santa Iria, Filipe, 19 anos, recorda-se de ajudar a avó pasteleira a “mexer na massa”. Quando soube do curso no Forte da Casa decidiu inscrever-se. “Faço bolos aos fins-de-semana e quero seguir pastelaria. Faço mais receitas brasileiras porque já as sei de cor mas adoro pastéis de nata e Franxiros”, relata Filipe.

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