Passa-se mais tempo a discutir a criação da riqueza do que a criá-la
O ministro da Economia considera que o país tem de acreditar que consegue mudar para crescer economicamente e ser mais produtivo.
Para António Costa Silva a aposta passa por incentivar a produção de máquinas para a indústria nacional, pela economia da saúde, das biotecnologias, da investigação e olhar para a água como factor de poder estratégico. Na conferência sobre crescimento económico e produtividade em Santarém, o governante reconheceu que há na administração pública um sistema de problemas circulares com os quais é preciso romper.
O ministro da Economia considera que o país precisa de acreditar que consegue fazer a mudança para poder evoluir. António Costa Silva, que participou na conferência promovida pela delegação distrital da SEDES sobre “crescimento económico e produtividade”, em Santarém, no dia 15, disse que há que romper com a “incapacidade de acção colectiva”. E salientou que “acreditamos na mudança, mas acreditamos pouco que conseguimos fazer a mudança”. Realçando que Portugal vai ser o primeiro país a estar ligado a todo o mundo por cabos submarinos, o ministro aposta que o país consegue aumentar a capacidade produtiva em áreas importantes, como no fabrico de maquinaria nacional, diminuindo a dependência de tecnologia de outros países, revelando que a metalomecânica bateu o recorde de exportações em 2022.
Para o governante, que entrou na vida pública com uma experiência de uma vida de trabalho no sector privado, o país melhora se se conseguir “transformar o destino fatalista que muitas vezes vejo no povo português”. Dizendo que o que pode comprometer-se é a trabalhar, António Costa Silva destacou a importância da água e de se olhar para a valorização dos rios, dizendo que quem dominar estes recursos vai ter uma vantagem, vai ter poder geopolítico. E defende que quem produz, quem governa, quem contribui para a economia tem de ter uma visão, um projecto e lutar pela sua implementação.
Os problemas circulares do Estado e a importância da economia da saúde
O que deixa o ministro “mais exasperado” é a forma como funciona o Estado e que é muito diferente do privado. Na administração pública, disse, “os problemas são circulares, é uma espécie de economia circular no seu conceito mais negativo”, sublinhou, referindo-se à burocracia, à necessidade de pareceres de várias entidades para se conseguir fazer algo, pelo que exortou a que todos juntos contribuam para mudar mentalidades.
António Costa Silva, realçando que “não avançamos se não for reforçado todo o sistema de inovação”, elegeu a biologia, as ciências da saúde, a biotecnologia como sectores que o país tem condições para desenvolver e crescer em termos de aumento do PIB (produto interno bruto). Garantindo que está a haver uma aposta numa política industrial de saúde, o ministro salientou que a população com mais de 65 anos é significativa e que é preciso aproveitar a sua experiência e criatividade. E argumentou que as biotecnologias e a inteligência artificial vão ser fulcrais para a economia.
“Acredito que são as empresas que são o modelo de riqueza do país”, sublinhou António Costa Silva, acrescentando que “o país passa o tempo a discutir como distribuir a riqueza quando deve discutir como criar mais riqueza”. E defendeu a valorização do Banco Português de Fomento, que tem uma nova administração, como uma peça chave para a economia, a ligação ao mundo empresarial e sobretudo como instrumento para capitalizar a produtividade. Para o governante esta instituição é para estar onde a banca comercial falha, esperando que o banco de fomento seja um paradigma da mudança financeira do país em termos de economia.
Presidente da AIP: a melhor forma das empresas crescerem é deixarem-nas ganhar dinheiro
O Presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, considera que o grande problema da gestão pública era a inexperiência da actividade empresarial, realçando que o actual ministro da Economia fala a linguagem dos empresários. O dirigente, que já presidiu à Associação Empresarial da Região de Santarém – Nersant, recordou a esse propósito uma frase de um empresário de Santarém, José Manuel Roque, que diz que “o pessoal político passa a vida a passar recibos e nunca passou cheques”. Para José Eduardo Carvalho o ministro passou a vida a passar cheques e por isso decide, tendo levado para o público, “coisas que eram tabu no ministério”.
Segundo o presidente da AIP a produtividade é o principal factor de crescimento do país, salientando que a produtividade das horas trabalhadas em Portugal é 67 por cento da média europeia. “Estamos a perder posição no ranking da competitividade”, alertou. E exemplificou que se a Europa crescer 2% ao ano e Portugal crescer 4%, o país vai levar 14 anos a atingir a média europeia.
José Eduardo Carvalho identificou o excessivo endividamento, a rigidez do código laboral e a excessiva carga fiscal, como alguns dos factores que condicionam a produtividade, considerando que há uma obsessão legislativa no país que interfere com as empresas. “Alguém acredita que vamos evoluir na economia do conhecimento com premissas da segunda revolução industrial?” (1939–1945), questionou.