Economia | 24-05-2023 07:00

O maior parque solar do país está a nascer nos concelhos de Santarém e Cartaxo

O maior parque solar do país está a nascer nos concelhos de Santarém e Cartaxo
Marino Maduro é o director financeiro da Energi Inovattion em Portugal, empresa dinamarquesa que está a construir o Parque Solar Escalabis, mega projecto de panéis fotovoltaicos nos concelhos de Santarém e Cartaxo

As energias renováveis são mais amigas do ambiente mas os impactos da sua produção nos ecossistemas não são inócuos, fale-se de parques solares, de barragens ou de torres eólicas. O Ribatejo é uma zona apetecível para instalar centrais fotovoltaicas devido à exposição solar e ao relevo suave. Nas imediações do nó do Cartaxo da A1 está a nascer um mega projecto privado que mexeu com a paisagem.

Durante alguns meses o Parque Solar Escalabis, que está a ser construído em território dos concelhos de Santarém e do Cartaxo, vai ter o estatuto de maior de Portugal, até ser ultrapassado por outros projectos de grande dimensão que vão nascer no sul do país. Os números impressionam e têm dado que falar. A área envolvida é superior a 500 hectares, sendo mais de 100 hectares destinados à implantação de painéis fotovoltaicos. A área desmatada é imensa e o impacto visual não passa despercebido a quem vive ou circula nas proximidades das frentes de trabalho, nomeadamente na estrada que liga Casal da Charneca, no concelho de Santarém, a Vila Nova de São Pedro, já no concelho de Azambuja.
O empreendimento está a ser construído pela empresa dinamarquesa Energi Inovattion, a operar em Portugal desde 2017, e o promotor é a Escalabis Solar, empresa com sede no Porto e detida por um fundo de investimentos. O investimento, na ordem dos 100 milhões de euros, é totalmente privado e decorre em terrenos arrendados ao grupo Altri anteriormente ocupados parcialmente por explorações de eucaliptos. Segundo o director financeiro da Energi Inovattion, Marino Maduro, que deu a cara pelo projecto a O MIRANTE, até final do ano o Parque Solar Escalabis deve estar a produzir energia. O seu tempo de vida útil está estimado em 30 anos.
A área de implantação de painéis foi reduzida face ao inicialmente previsto no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) porque a tecnologia evoluiu e a utilização de meios mais eficientes permite produzir mais energia com menos área de exposição. O mega parque solar surge em substituição de três projectos de centrais fotovoltaicas anteriormente licenciados para essa zona – Alforzemel, Encarnado e Casal do Paul -, o que é destacado como factor positivo no EIA. Em vez de se construir três projectos separados optou-se por um de maior dimensão.
A implantação do empreendimento, nas proximidades do nó do Cartaxo da A1, abrange uma área de cerca de 518 hectares. Um pouco mais de 100 hectares serão ocupados pelas várias infraestruturas do parque solar. A área destinada ao projecto localiza-se nos concelhos do Cartaxo (nas freguesias de Vila Chã de Ourique e União de Freguesias do Cartaxo e Vale da Pinta) e de Santarém (freguesia de Almoster). Toda a energia produzida pelo Parque Solar Escalabis será entregue na subestação de Santarém, concessionada pela REN - Redes Energéticas Nacionais.

“Não há soluções 100% isentas de impactos”

Marino Maduro, 46 anos, vive em Alverca do Ribatejo, que considera uma cidade simpática e bem localizada. Formado em Contabilidade e Auditoria, é director financeiro da Energi Inovattion em Portugal, empresa dinamarquesa que está a construir o Parque Solar Escalabis.

A construção do Parque Solar Escalabis começou a dar nas vistas com a gigantesca operação de desmatação e abate de árvores, entre as quais sobreiros. Receberam algumas manifestações de desagrado? Houve alguns ecos na imprensa, não só local mas também nacional. Ainda assim, não recebemos qualquer manifestação concreta sobre a situação uma vez que tudo está a ser feito dentro dos trâmites da lei. Não estamos a fazer nada que não esteja devidamente licenciado ou autorizado e que continua a ser acompanhado pelas autoridades competentes. O Estudo de Impacto Ambiental foi analisado e aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e estamos a ser monitorizados pela APA em permanência para o cumprimento daquilo que está previsto.
O abate de sobreiros gera sempre alguma polémica… O comunicado da Quercus foi um bocadinho incisivo nesse aspecto e nós já pedimos a essa entidade que se retratasse. Demonstrámos que as afirmações deles são um bocadinho agressivas nesse aspecto, mas até à data não tivemos qualquer resposta. O que podemos dizer, mais uma vez, é que o nosso objectivo é zelar pelo cumprimento das regras que nos foram impostas, que são muito exigentes.
O empreendimento vai causar alterações profundas na paisagem na zona como é reconhecido no Estado de Impacte Ambiental. Que medidas pensam tomar para mitigar essa realidade? São as medidas previstas para o efeito no Estudo de Impacto Ambiental como a constituição de uma estrutura verde que permitirá fazer uma recuperação dentro do possível da área, para diminuir o impacto.
Outra das críticas é a da utilização de terreno arável, com aptidão agrícola, para este tipo de investimentos. Não havia alternativas menos impactantes a esse nível? Aí, se calhar, teríamos que ir mais atrás e definir o que é um terreno arável. Este terreno, segundo sei, estava a ser utilizado há cerca de 30 anos para a produção de eucalipto. Era uma exploração agro-florestal, de facto. Por um lado diabolizamos o eucalipto e por outro lado criticamos quando estamos a cortar eucaliptos para implementar um projecto que nos vai permitir fazer transição energética e diminuir a nossa dependência face a fontes combustíveis não renováveis utilizando terrenos que estavam com uma exploração importante mas que não eram campos agrícolas.
Ou seja, como diz a voz popular, é-se preso por ter cão e preso por não ter… É um pouco por aí. As pessoas, por natureza, são avessas à mudança. Percebo que as pessoas vão-se acostumando a que as coisas aconteçam de determinada forma e quando há uma mudança às vezes não a entendem porque não estão cientes do que está a acontecer ou porque não percebem o que está a acontecer. O que estamos a fazer é apostar numa forma de o país diminuir a sua dependência energética face ao exterior e ajudar a controlar e a criar condições para se ter melhores preços no mercado.
A opinião pública se calhar ainda não interiorizou a ideia de que as energias renováveis são fundamentais para a sustentabilidade ambiental mas também causam impactos, sejam torres eólicas, sejam painéis solares... Sejam barragens ou sistemas de ondas que também impactam no mar… Não há soluções 100% isentas de impactos, de condições menores, digamos assim.
A proliferação destes projectos de energias renováveis vai ter mesmo reflexo na factura da energia, permitindo preços mais baixos ao consumidor? Acredito que sim. Falando na energia solar, ainda há pouca história no nosso país. Um dos primeiros projectos arrancou no Alentejo há quase 15 anos, se a memória não me falha. A energia solar será a que terá um retorno mais imediato porque é a mais barata de produzir. Felizmente o nosso país tem muitas horas de sol e esperamos que venha a contribuir definitivamente para essa situação.
Há quem diga que a capacidade de produção de energia renovável em Portugal já é muito superior à procura interna. Isso é outra questão. Não há produção a mais para o consumo que temos. Aliás, nós estamos a importar energia de Espanha porque, em 2021, o Governo decidiu encerrar as centrais a carvão do Pego e de Sines. Só isso tirou quase dois gigawatts de produção do mercado que não foram compensados. E essa energia continua a consumir-se. As nossas necessidades de consumo, depois de uma quebra acentuadíssima devido à pandemia, têm vindo a subir e, por incrível que pareça, neste momento estamos com consumos energéticos acima dos que tínhamos antes da pandemia.
Tem havido uma proliferação de centrais fotovoltaicas e eólicas. Nesta região há diversos projectos em andamento. Não se estará a passar do oito para o oitenta nesse campo? Não se corre o risco de a oferta começar a superar a procura? Aí esperamos que o regulador tenha o bom senso de saber quando é que terá de pôr travão na situação. Neste momento há um défice, há mais consumo do que produção. Precisamos de suprir essas necessidades. A partir daí, o regulador, melhor do que ninguém, saberá em que momento é que deve permitir ou retrair os investimentos. Sabemos que na Direcção Geral de Energia e Geologia há cerca de dez gigawatts de projectos só no solar, à espera de serem aprovados. Só para dar uma noção este projecto é de 210 megawatts, portanto estamos a falar de 50 vezes aquilo que nós vamos construir aqui.
Que mais valias ficam para a região deste grande empreendimento? Quantos postos de trabalho perspectivam criar? Na fase de construção temos um grande acréscimo de trabalho, durante quatro a seis meses. Temos contratado pessoas aqui da zona, sabemos que os nossos sub-empreiteiros também têm contratado através do Centro de Emprego de Santarém. O parque deverá ficar aqui durante 30 anos e por isso vamos constituir uma equipa local que vai garantir a manutenção. Também estamos a projectar criar uma unidade local de armazenagem para termos as peças de substituição e afins. Iremos manter-nos aqui, enquanto prestadores de serviços, na fase posterior à construção privilegiando a mão-de-obra local.

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