Presidente da AIP chama a atenção para a alteração do comércio mundial
Divisão em blocos geopolíticos vai criar restrições de circulação de mercadorias que prejudica economias abertas como a portuguesa.
Portugal, assim como outras economias abertas, terá poucas vantagens na divisão, que se configura, do mundo do comércio, em blocos geopolíticos, dadas as consequentes políticas de restrição de circulação de mercadorias.
A ideia foi defendida pelo presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, na sessão de abertura da conferência “Península Ibérica como Plataforma de Negócios: Europa, Ibero-América e África”, a 22 de Maio, em Cascais.
Falando para uma plateia onde se encontravam mais de 120 empresários da América Latina, de Portugal e de Espanha, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, e o secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, o dirigente sublinhou que actualmente já se verifica “uma redução do volume do trading internacional privilegiando-se a segurança, a confiabilidade dos mercados e dos governos e a disponibilidade do produto em detrimento do preço”, e que isso está a alterar a configuração do comércio mundial.
Decorrente da guerra na Ucrânia, estamos a assistir, segundo ele, a uma “desaceleração e fragmentação da globalização prevalecendo os negócios no interior dos blocos amigos, mas não um movimento acelerado de desglobalização; configuração de blocos geopolíticos com níveis homogéneos de proteccionismo, defesa e auto-suficiência que impõem e acentuam as barreiras aduaneiras e dificuldades à circulação de mercadorias e acentuação das tendências de deslocalização da produção para locais mais próximos do consumo”.
O dirigente da AIP enumerou também os desafios que Portugal tem de ultrapassar na área da internacionalização nomeadamente o alargamento da base e da intensidade exportadora.
“Num universo de 498 mil empresas temos cerca de 25.700 que exportam regularmente e 70% das exportações portuguesas estão concentradas nos mercados da União Europeia” sendo por isso necessário reduzir o grau de concentração de exportações num só mercado e diversificar as exportações para mercados extracomunitários.
No entanto, José Eduardo Carvalho considera que há um indicador externo da economia portuguesa que constitui um caso de estudo nos países da OCDE. “Em 12 anos o peso das exportações no PIB passou de 28% para 50%. Foi uma evolução invulgar. Ao longo destes anos aprendemos, com algum custo, que as economias não podem ter desequilíbrios muito acentuados na balança de transacções correntes e que o consumo público e privado não pode ter um peso excessivo no PIB”, sublinhou.
Um outro factor positivo está relacionado com a situação energética. “Poucos acreditariam, há um ano, que a Alemanha, o motor económico da União Europeia, e os restantes países da união conseguiriam, com maior ou menor dificuldade, ultrapassar em tão pouco tempo a dependência energética da Rússia. Foi um feito notável da União Europeia e Portugal também está no bom caminho na transição energética”.