Economia | 21-06-2023 15:00

As abelhas são cada vez menos e o seu futuro está ameaçado

As abelhas são cada vez menos e o seu futuro está ameaçado
Manuel Morgado é o presidente da Associação de Apicultores do Tejo e Sorraia criada em 2019

O presidente da Associação de Apicultores do Tejo e Sorraia, Manuel Morgado, alerta que o Ministério da Agricultura deve ter noção da importância das abelhas para o ecossistema e que se não forem tomadas medidas esses insectos correm o risco de desaparecer. As alterações climáticas, as curas aéreas dos terrenos agrícolas e a vespa asiática são os principais inimigos.

As colmeias diminuíram cerca de 30% nos últimos dez anos no distrito de Santarém o que representou menos aproximadamente cinco toneladas de mel. Tendo em conta que cada colmeia tem cerca de oito mil abelhas desapareceram milhões de abelhas e a tendência é para que continuem a desaparecer. O alerta é dado pelo presidente da Associação de Apicultores do Tejo e Sorraia, Manuel Morgado, em entrevista a O MIRANTE a propósito do Dia Mundial das Abelhas.
As alterações clímáticas, nomeadamente a seca, as curas áreas dos terrenos agrícolas, onde se utilizam químicos, e a vespa asiática são os principais inimigos das abelhas. Manuel Morgado lamenta que o Ministério da Agricultura não se preocupe com o que se está a passar e refere que sem abelhas não há comida para o Homem. “São as abelhas que vão polinizar os frutos que comemos. Sem flores não há pólen para que as abelhas possam polinizar. Em Espanha, por exemplo, pedem para os apicultores levarem as colmeias para determinados locais para que as abelhas possam polinizar os alimentos. Não damos o devido valor à importância que as abelhas têm no ecossistema e na nossa cadeia alimentar”, lamenta o responsável.
Manuel Morgado, 69 anos, é apicultor há cerca de 30 anos. Já chegou a ter 80 colmeias. Agora tem 20. O dirigente associativo não tem dúvidas que, se não se fizer nada, daqui por duas décadas a abelha está em alto risco de extinção. “Admiro-me como é que o Governo não toma medidas para evitar o desaparecimento das abelhas. A ministra da Agricultura não é obrigada a saber de tudo da sua área, mas deveria estar rodeada de pessoas que percebam de agricultura para que possam aconselhá-la o melhor possível”, alerta.
O dirigente explica que a limpeza de terrenos, que o Governo obriga a fazer entre Março e Maio, poderia ser adiada. “Ao limpar os terrenos estamos a destruir flores que são fundamentais para as abelhas irem buscar o pólen” alerta, acrescentando ainda a importância de se eliminar definitivamente a vespa asiática.
A Associação de Apicultores do Tejo e Sorraia foi criada em 2019 com o objectivo de promover e vender o mel dos apicultores. Começaram por ser 40 associados mas depois da pandemia são 15, embora lutem para aumentar o número de sócios. A sede da associação é na localidade de Madeiras, concelho de Vila Nova da Barquinha. Manuel Morgado explica que a zona do Médio Tejo é muito seca em termos de flores. Na Lezíria do Tejo há mais flores por haver mais água. “O nosso mel é muito rico por ter variedade de flores, deveria era haver maior quantidade. Como há poucas flores temos que alimentar as abelhas à base de açúcar e comida apropriada que temos que comprar mas é caro. Ser apicultor é uma actividade que se torna cara por não haver flores suficientes”, realça Manuel Morgado.

A importância dos polinizadores

Segundo dados da Federação Nacional de Cooperativas Apícolas e de Produtores de Mel (Fenapicola), relativos a 2022, os polinizadores são responsáveis por 75% das culturas agrícolas, mas estão a ser muito afectados pelas alterações climáticas, monoculturas, fitofármacos, entre outros. Em Portugal a apicultura está a sofrer quebras acima dos 80% e as plantações de maçã, cereja e amêndoa também estão a ser prejudicadas. Em Portugal, o ano de 2022 foi muito mau, sendo que relativamente a 2021 houve um decréscimo de 30% e em 2021 já tinha havido também uma diminuição acentuada de 30%.
Para além da produção de mel pelas abelhas, os polinizadores, que incluem também as borboletas, vespas, escaravelhos, moscas, formigas, algumas aves e répteis, produzem serviços essenciais à natureza e à agricultura. Cerca de 90% das plantas silvestres e 75% das culturas agrícolas mundiais dependem total ou parcialmente de polinizadores. O que significa que a sua decadência tem impactos directos na biodiversidade e em grande parte do sector da alimentação.

“Importamos mel da China com menos qualidade”

Manuel Morgado é apicultor há cerca de 30 anos. Uma colmeia pode dar entre 15 a 20 quilos de mel. O problema é que sem apoios do Governo os apicultores vão desistindo e a quantidade de mel vai diminuindo. Refere a importância de se espalharem as colmeias pelo território. Quanto mais distantes mais as abelhas conseguem ir a flores diferentes. O dirigente conta que há cada vez mais importação de mel da China para Portugal, que não tem tanta qualidade. “Portugal tem todas as condições para ter bom mel e até para exportar mas não existe planeamento e quem deveria se importar, que são os nossos governantes, não se importa”, lamenta, acrescentando ser fundamental que todos tenham noção da importância das abelhas para o ecossistema.

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