Economia | 29-08-2023 21:00

A costureira que é sapateira e montou um negócio no Cartaxo que corre o mundo

A costureira que é sapateira e montou um negócio no Cartaxo que corre o mundo
Vânia Bonfim estabeleceu-se no Cartaxo há sete anos e vive do fabrico de calçado

Vânia Bonfim estava destinada a ser costureira como a mãe até partilhar o espaço de trabalho com um sapateiro, o seu ex-sogro.

Numa noite sonhou com a sua marca de sapatos e com os modelos que iria vender. Foi assim que nasceu a Pé na Terra, uma empresa de calçado no Cartaxo que exporta para os quatro cantos do mundo.

Vânia Bonfim, 37 anos, é natural da Bahia, no Brasil, mas vive há vários anos no Cartaxo, cidade onde actualmente gere um negócio de sucesso. Em Portugal deu continuidade ao trabalho de costureira que iniciou aos 12 anos com a mãe. Partilhou o espaço de trabalho com o ex-sogro, sapateiro no Cartaxo, e quando deu por si tinha uma mão no calçado e outra na costura. A marca que criou, a Pé na Terra, nasceu de um sonho, mas nem nos seus melhores sonhos previu vir a exportar calçado para todo o mundo. O MIRANTE visitou o pequeno armazém no Cartaxo onde Vânia Bonfim cria o seu calçado e acessórios em pele.
Desde os nove anos que a artesã e empresária se mostra irreverente. À roupa que achava básica acrescentava pompoms e lantejoulas, inspirada pela mãe. As duas voaram até Portugal há 23 anos. A mãe, Marlene Ferreira, empregou-se como costureira numa fábrica em Castanheira do Ribatejo e mais tarde abriu o seu atelier de costura em Azambuja. Já tem mais de 40 anos de profissão. Vânia começou a fazer costura no mesmo espaço em que o ex-sogro trabalhava como sapateiro. Entre bainhas e fechos, passando pela criação e execução de peças novas, como vestidos de noiva, aprendia o ofício do sapateiro e, na sua ausência, acumulava as duas funções. Mas o tempo perdeu elasticidade e depois de numa noite ter sonhado com a Pé na Terra e com alguns dos modelos que viria a criar, a sua missão foi tornar o sonho em realidade.
A empresa foi fundada em 2016 num pequeno armazém no Cartaxo, onde ainda se mantém, com capacidade de produção de dez pares por dia. Vânia Bonfim iniciou-se com o material que tinha da costura, uma mesa de plástico, uma máquina de costura e outra de acabamentos. Conforme o que lucrava investia em equipamentos, matéria-prima, mão-de-obra e formação. Actualmente conta com a ajuda do companheiro e de duas funcionárias. A ambição é no prazo de cinco anos empregar funcionários a tempo inteiro e estar dedicada à criação e gestão da produção, mas a inflação tem sido um entrave, na medida em que a pele está mais cara, assim como os padrões impressos na pele vindos de Itália e a borracha das solas que, entretanto, deixou de vir da Rússia. “Os transportes e a matéria-prima aumentaram 30%, mas ainda não aumentei os meus preços. Só um pé de pele, o equivalente a uma folha A4, custa sete euros. Os sapatos mais caros que vendo custam 60 e as pessoas acham caro, mas vêm contentes com plástico que compram noutras lojas e a pagar o mesmo”, argumenta.

Preocupação com saúde e bem-estar
Um dos principais objectivos de Vânia Bonfim tem sido promover a saúde, utilizando materiais como a borracha virgem e o couro vegetal, com propriedades antissépticas. “Sou procurada por clientes com joanetes e pé diabético. Nos bebés a sola é maleável, o pé não está formado e precisa de espaço. Preocupa-me o que está em contacto com o nosso organismo e o que absorvemos. Os pés do meu filho escamavam com o calçado e gastava balúrdios em cremes. Das piores sensações é querermos chegar a casa para nos descalçarmos”, explica, acrescentando que já vendeu calçado para países como Austrália, Canadá, Estados Unidos, Alemanha e Angola.
Vânia Bonfim gostava de ter um espaço no Cartaxo adaptado às necessidades da sua produção. Refere a O MIRANTE que a Câmara do Cartaxo devia sensibilizar os proprietários para arrendarem alguns espaços que estão vazios a preços acessíveis. “Preferem ter as lojas fechadas e a pagar impostos”, lamenta, sublinhando que está a aguardar uma reunião com o presidente da Câmara do Cartaxo, João Heitor, para expor o interesse de alguns artesãos num espaço onde possam trabalhar ao vivo e ao mesmo tempo vender as suas peças, uma vez que gostava de estar mais dentro da cidade e próxima dos clientes.

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