Economia | 11-09-2023 07:00

José Ferreira e Ramiro Marques são ceboleiros e não falham uma edição da FRIMOR

José Ferreira e Ramiro Marques são ceboleiros e não falham uma edição da FRIMOR
José Ferreira conheceu a esposa na FRIMOR e a sua filha ajuda no negócio. O ceboleiro mais antigo da FRIMOR, Ramiro Marques, ao lado da companheira Maria da Assunção Joaquim

A secular FRIMOR – Feira Nacional da Cebola, em Rio Maior, esconde histórias do tempo em que a cebola era transportada em carroças e carros de bois quando as ruas se enchiam, porque era a única forma de adquirir os produtos, muitas vezes regados com o suor dos dias debaixo de um sol abrasador.

O MIRANTE esteve na inauguração da feira e falou com dois ceboleiros que vendem na FRIMOR há mais de meio século.

A FRIMOR – Feira Nacional da Cebola é o evento mais profundamente enraizado na memória colectiva da comunidade de Rio Maior, contando com cerca de três séculos de existência. Os produtos passaram a estar disponíveis a todo o momento, a actividade agrícola especializou-se e a oferta cultural tornou-se contante, mas há quem ainda venda as cebolas com o mesmo amor de há mais de 50 anos, como é o caso de José Ferreira, de 88 anos. Começou a acarretar cebola para a feira aos 22 e nunca mais falhou uma edição, explica a O MIRANTE.
O transporte era feito com as suas vacas de Alvorninha, no concelho de Caldas da Rainha, até Rio Maior. O percurso, que agora se faz em 15 minutos de carro, demorava cinco horas. Foi na FRIMOR que conheceu a actual companheira enquanto descarregava cebola. A cumplicidade cresceu e tiveram duas filhas; uma delas de 57 anos também ajuda no negócio. Há quatro anos baixaram a produção porque o cansaço e a idade não perdoam, mas houve um ano em que venderam 19 toneladas para a França. José Ferreira revela que os prémios que antigamente eram atribuídos ao ceboleiro com mais cebola e de melhor aparência serviam de motivação.
O agricultor explica que a cebola está pronta a ser apanhada quando tem a rama completamente seca, o que normalmente acontece na primeira semana de Agosto. Depois de apanhadas são deixadas a secar durante uns dias, protegidas do sol, para perderem a humidade em excesso. O próximo passo é “encabar”, como manda a tradição. Recorre-se à palha da própria cebola e a outra apanhada no rio para tornar a trança consistente. A família chega a andar com água acima da cintura. José Ferreira continua a preferir a enxada porque, afirma, as máquinas não fazem trabalho tão bom como o seu. O futuro do negócio está em aberto, já que a filha teria de abdicar do seu emprego.

O ceboleiro mais antigo
Ramiro Marques é o ceboleiro mais antigo da FRIMOR. O negócio passa de geração em geração e o bisneto de 10 anos acompanhou-o na feira. Aos 89 anos trabalha de manhã à noite e garante que a feira é “um luxo”. Antes tinha de construir a sua barraca, e recorda entre risos, passava o tempo a afugentar ratos. A apanha deste ano rendeu duas toneladas, entre cebola roxa, branca e valenciana, e o aumento no preço dos adubos obrigou-o a aumentar os preços. O mais antigo ceboleiro da FRIMOR está presente no Mercado de Santana, em Rio Maior, todos os domingos, disposto a receber os clientes com a mesma vitalidade com que recebeu O MIRANTE.

Uma feira secular que precisa de inovação

A FRIMOR, que durante décadas se cingiu à agricultura e pecuária, foi ao longo dos tempos assumindo outros papéis: divulgar a actividade comercial e industrial do concelho, as potencialidades económicas, os principais produtos e os atractivos turísticos e culturais da região. Actualmente, para além da exposição agroalimentar e empresarial, organizada com a colaboração do CNIRM – Centro de Negócios e Inovação de Rio Maior, contempla um conjunto diversificado de iniciativas de natureza desportiva, recreativa e cultural. O presidente da Câmara de Rio Maior, Filipe Santana Dias, mencionou na inauguração, a 31 de Agosto, a necessidade de inovar. Alguns exemplos de inovação na edição 2023 foram o espaço lounge e o Radical Park. Instituída em 1722 por D. João V, a tradicional Feira de Setembro de Rio Maior foi ganhando crescente dimensão. Em 1971 ganhau espaço próprio na zona da Pá Ribeira e, pouco tempo depois, um pavilhão de apoio que foi ocupar o local do antigo cais da via férrea. Em 1972 passou a chamar-se FRIMOR e em 1983 Feira Nacional da Cebola.

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