Manter a tradição é o que mais importa na Feira de Santa Iria em Tomar
A Feira de Santa Iria, em Tomar, é uma das mais antigas da região e conta sempre com a presença de feirantes que promovem os seus produtos. O MIRANTE falou com Fátima Riça e Sidónio Dias, dois produtores que gostam de manter a tradição embora reconheçam que o negócio já viveu melhores dias.
Fátima Riça, 63 anos, começou a trabalhar no campo com a mãe aos nove anos, por conta de outrem, ao mesmo tempo que ajudava os pais a cultivar nas próprias terras alimentos como a batata, feijão, tomate, milho, entre outros. Ceifavam, faziam a poda, apanhavam a azeitona, noz, amêndoa e figos. “Tenho trabalhado muito e desde muito cedo”, desabafa com a repórter de O MIRANTE, durante uma visita à Feira de Santa Iria, em Tomar, onde esteve a vender os seus produtos com o marido, Fernando Morcela.
Fátima Riça, que trabalhou cerca de 40 anos na Câmara do Entroncamento, nunca deixou a agricultura, principalmente aos fins-de-semana. Reformou-se há dois anos e voltou para Tomar para se dedicar à agricultura novamente a tempo inteiro. “Depois de reformada acho que ainda trabalho mais. Mas continuo porque não quero ficar velha no sofá a olhar todo o dia para a televisão”, explica. O seu dia começa cedo; trata das galinhas, dos patos e de todos os animais que tem no quintal. Toma o pequeno-almoço e vai para as hortas dos pais onde cultiva, rega, arranca as ervas daninhas e faz todo o trabalho necessário. Possui três mil metros de terreno onde tem também amendoeiras, figueiras e nogueiras dos seus pais, que continuou a estimar. Produz azeite, cerca de 40 quilos de figo, uma centena de quilos de nozes, 30 quilos de amêndoa e, “se as galinhas não fizerem greve”, tem cerca de 14 ovos por dia, afirma entre risos.
Este ano vendeu pela primeira vez na Feira de Santa Iria o que apanha no quintal que, geralmente, prefere oferecer aos amigos. “Não estou aqui para ficar rica. Vim para ocupar o tempo e conviver”, vinca. No entanto, o trabalho sai-lhe do corpo. “Olhe as minhas mãos. Andei hoje de manhã a apanhar nozes”, afirma, enquanto mostra as mãos com manchas verdes da carapaça das nozes que descascou para vender. “A feira está muito fraquita, estou aqui só para manter a tradição”, revela, recordando os tempos em que vinham pessoas de todo o país à feira, incluindo a sua família de Pombal, que comprava 300 contos de produtos para encher uma camioneta e vender em mercados ao longo do ano. Fátima Riça partilha um dos momentos que mais a marcaram, quando o seu pai fazia questão de levar a esposa e os três filhos a almoçar sardinhas assadas à feira. “Sentávamo-nos ali numa tasquinha na Várzea Grande. Lembro-me perfeitamente que ele mandava vir 12 sardinhas, um jarrinho de vinho e um sumo. Era um luxo porque nós nunca bebíamos sumo durante o ano”, conta, com emoção.
Licor Templário começou como brincadeira
No centro da Várzea Grande estava a banca “Licor Templário”, de Sidónio Dias, 64 anos, que começou a produzir licores em casa como brincadeira quando se reformou, há 10 anos. Vende há nove anos na Feira de Santa Iria cerca de 14 licores de sabores diferentes como medronho, figo, canela, bolota, café, eucalipto, pimento, noz e castanha. O Licor Templário que representa Tomar é o mais vendido, feito à base de mel e ervas aromáticas. Aprendeu através da internet e livros que comprou. “Sigo a receita, dou um toque à minha maneira e crio a minha própria receita”, explica. Alguns dos frutos são colhidos nos seus terrenos nos arredores de Tomar, outros compra. O processo começa com a junção dos frutos em aguardente durante seis meses, depois é filtrado, junta a calda de açúcar e deixa no escuro durante um ano. “Quantos mais anos estiver, melhor fica”, frisa. Depois de engarrafar, vai vender os seus licores em feiras de norte a sul do país. O aumento dos preços está a afectar o negócio este ano, lamenta. “Não consigo viver só disto. A feira tem tido pouco movimento mas é sempre uma ajuda”, confessa.