Fábrica de cerâmica de Torres Novas avança para despedimento colectivo de 106 trabalhadores
Empresa de cerâmicas que pediu insolvência no final do ano passado avançou agora com um processo de despedimento de 106 trabalhadores. Sindicato culpa a administração de gestão danosa e teme que os trabalhadores não recebam as indemnizações a que têm direito.
A CMG Cerâmicas, fábrica instalada na Zona Industrial de Torres Novas, avançou com um processo de despedimento colectivo de 106 trabalhadores, ou seja, quase a totalidade dos funcionários que lá trabalham, indicou o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cerâmica, Cimentos e Similares, Construção, Madeiras, Mármores e Cortiças do Sul e Regiões Autónomas (STCCMCS), criticando o desfecho que penaliza os funcionários, que perdem o emprego e saem sem indemnizações.
O sindicato culpa a administração de ter conduzido a empresa a uma “situação de insolvência, de dívidas e a um futuro incerto para mais de uma centena de trabalhadores, na maioria mulheres” e muitos com “mais de 30 anos de casa a trabalhar em más condições e com salários de miséria”.
Segundo o sindicato, a administração geriu de forma “danosa” e revelou-se “incapaz de evitar o desastre” hipotecando as instalações fabris como garantia bancária, penhorando as máquinas para fazer face às dívidas com a Segurança Social, enquanto atrasava o pagamento dos salários aos trabalhadores. O MIRANTE tentou chegar à fala com o administrador da CMG Cerâmicas, Carlos Mendes, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição. À Lusa, a administração optou por “não prestar declarações nesta fase”. O sindicalista António Amaro Costa disse à Lusa que até agora as trabalhadoras apenas receberam o salário de Setembro, faltando pagar 13 dias de Outubro e as indemnizações. “A empresa garante que os 13 dias trabalhados em Outubro vão ser pagos. O restante, e do conhecimento que tenho do que há, não vai haver dinheiro para pagar as indemnizações”, afirmou, acrescentando que na empresa se mantêm cerca de 50 trabalhadores para terminar encomendas.
A empresa, situada na Zona Industrial de Torres Novas, avançou em Dezembro de 2022 com um Processo Especial de Revitalização (PER) e em Junho de 2023 com uma declaração de insolvência, “sem qualquer plano e com os trabalhadores sempre à espera dos salários atrasados”, lamenta o sindicato.
PCP questionou há 10 meses o Governo sobre salários em atraso
O PCP, que já em Dezembro de 2022 tinha questionado o Governo sobre a situação da CMG Cerâmica, apelando a que se evitasse a insolvência, despedimentos e se garantisse o pagamento dos salários em atraso, emitiu um comunicado onde aponta o dedo à “gestão irresponsável da empresa” depois de os trabalhadores, ao longo dos anos, terem suportado “atrasos salariais, humilhações e condições de trabalho precárias”.
Sobre as questões que o grupo parlamentar do PCP levantou no final do ano passado, a comissão concelhia de Torres Novas do partido vinca que passados 10 meses, “o Governo nem se dignou responder ao que lhe foi perguntado, nem tomou qualquer medida em apoio dos trabalhadores da CMG deixando arrastar uma situação que acabou por ter este desfecho”.
Também o Bloco de Esquerda repudiou “esta gestão das relações laborais e humanas em que as/os trabalhadoras/es são abandonadas/os à sua sorte, depois de anos de salários insuficientes, condições de trabalho adversas e consequentes doenças laborais”. Na nota, o BE reclama “justiça social” e o “pagamento de salários em atraso e a segurança mínima no acesso ao subsídio de desemprego”.