Nersant com três milhões de dívidas e dinheiro para pagar só os próximos dois meses de salários
Presidente da direcção da Nersant afirmou perante 69 sócios que a associação não tem dinheiro em caixa e que só tem assegurados os próximos dois meses de salários. Associação empresarial soma dívidas de três milhões a bancos, fornecedores e clientes.
O presidente da direcção da Nersant, António Pedroso Leal, afirmou que a associação não tem dinheiro em caixa e que a situação de tesouraria neste momento é tao grave que só há dinheiro assegurado para pagar os próximos dois meses de salário dos funcionários. A afirmação foi partilhada na última assembleia-geral da Nersant, que se realizou na quarta-feira, 20 de Março, e que contou com a presença de 69 associados.
O presidente da direcção mostrou logo no início da sua intervenção, que durou cerca de 20 minutos, as suas fragilidades ao dizer que não tinha noção da estrutura da Nersant e que tudo era muito complexo. “Temos um conjunto de problemas que é preciso resolver. Estou habituado a gerir empresas, mas não estávamos preparados para estes problemas. Há empresas inactivas que estão a contaminar a actividade e as contas da Nersant”, disse.
António Pedroso Leal admitiu que o problema de tesouraria é muito grave. “Não temos dinheiro em caixa. Onde é que está o dinheiro? Anda por aí…”, disse, acrescentando que uma das primeiras medidas que tomou quando assumiu a direcção, em Agoste de 2023, foi encontrar os clientes a “quem podíamos sacar dinheiro, que nos deviam, para pagar a outros”, explicou.
António Pedroso Leal substituiu Domingos Chambel na liderança da associação que, em três anos, levou a Nersant para uma crise profunda, com guerras internas e exercícios sempre com prejuízos.
Nersant com dívidas de três milhões de euros
A Nersant - Associação Empresarial da Região de Santarém tem neste momento cerca de 2,5 milhões de dívidas a bancos e fornecedores. António Pedroso Leal mencionou várias vezes, durante a assembleia, que já teve de negociar com a banca demonstrando que “tem a corda ao pescoço” para conseguir obter financiamentos. As dívidas a clientes também revelam a grave situação financeira da Nersant. Neste momento a associação tem perto de 600 mil euros de dívidas a clientes. “Esta é a realidade desta associação que representa mais de 2.600 empresários”, disse Pedroso Leal, antes de sugerir a única solução imediata para resolver os problemas, que é a venda do pavilhão de exposições. “Temos solução para apresentar, mas vocês sócios podem sempre dizer que querem destituir a direcção. Foi aprovado em conselho geral a venda do pavilhão. Não temos outra solução para já. A não ser que joguemos na lotaria e nos saia uma cautela”, concluiu. A outra solução, acrescentou, é a hipoteca de um terreno onde está instalada a sede da Nersant, que tem seis hectares, que está valorizado em milhões de euros, mas que tem problemas de escritura, e outros, que inviabiliza que nesta altura sirva de hipoteca para a Nersant se financiar. O orçamento da Nersant para 2024 é de 1,9 milhões, embora tudo indique que seis meses depois vá ser ractificado, segundo anunciou António Pedroso Leal.
Associados da Nersant criticam postura da direcção e questionam a sua continuidade
Frederico Roque, da Roques Vale do Tejo, dirigiu-se ao presidente da direcção da Nersant, António Pedroso Leal, lamentando a sua falta de capacidade para acompanhar o dia-a-dia da associação. “Afirmou que é um homem com 64 anos, habituado a gerir empresas. Admiro-me como ficou surpreendido com os resultados que a contabilidade da Nersant não apresentou. Como empresário de uma empresa familiar, como grande parte dos associados da Nersant, no mês a seguir temos as contas do mês anterior. Parece-me estranho que tenha de ser o conselho fiscal a pedir uma auditoria. O que andou a fazer o resto do ano?”, questionou, rematando: “a minha pergunta é: o senhor acha que tem condições para continuar como presidente desta associação?”, finalizou.
João Lucas, da Carmóvel, que foi vice-presidente da Nersant durante a presidência de Domingos Chambel, recordou as palavras de Pedroso Leal ao dizer que ponderou colocar um PER (Processo Especial de Revitalização), mas que acabou por não achar necessário nem exequível. “A minha pergunta é se esta associação está em condições técnicas de poder beneficiar de uma candidatura a um PER”, perguntou.
Diogo Palha, da Ingredient Odyssey SA (Entogreen), que trabalhou vários anos na Nersant, afirmou que muitos dos técnicos da associação que foram demitidos das suas funções podiam ter dado uma preciosa ajuda para o actual presidente entender a realidade da associação. “O senhor afirmou que quer reafirmar o valor da Nersant. O valor assenta na sua história e nas pessoas que a constituem. Sem pessoas a Nersant não tem valor praticamente nenhum e a associação deixou sair nos últimos anos a esmagadora maioria dos seus quadros. Deixou sair 20 e a maior parte deles trabalhava connosco nas empresas”, vincou. Diogo Palha afirmou que a associação deixou de liderar projectos, não participou em nenhuma agenda mobilizadora do Plano de Recuperação e Resiliência e abandonou eventos bandeira como o Nersant Business. “Como é que vai, sem esta gente, mesmo conseguindo vender o património, realizar os projectos que se seguem para depois conseguir, no caso de fazer uma hipoteca, pagar ao banco a dívida?”, questionou.
Vasco Duarte, sócio da LisTorres, criticou o facto de se ter convocado uma assembleia-geral só para inglês ver. “Quando vi a convocatória pensei que viesse a um encontro para tomar decisões. Só vejo análises e reflexões. Quando chegarmos ao fim, o que vamos fazer?”, questionou, acrescentando: “vim cá para saber o que se vai fazer perante esta desgraça que a Nersant está a passar”, afirmou.
Pedroso Leal referiu que está a acompanhar as contas, mas que há valores que ainda não foram contabilizados e que vão ser apresentados no seu devido tempo. Sobre se tem capacidade para continuar à frente da direcção Pedroso Leal afirmou “que os sócios e a direcção acham que sim, portanto a questão não se põe”, embora tenha dito por várias vezes durante a sessão que não tem problemas em seguir o seu caminho se os associados assim o entenderem. Sobre as dificuldades da associação em manter os quadros qualificados e consequente incapacidade de realizar projectos Pedroso Leal limitou-se a dizer que “não há festa sem haver foguetes”.
Contas não foram divulgadas
Na reunião de assembleia-geral, António Pedroso Leal explicou aos 69 associados que não ia apresentar as contas do exercício de 2023, embora já tenham sido entregues pela empresa de contabilidade. O dirigente referiu que os números assustaram e que, por isso, foi pedida uma auditoria interna. “Éramos para apresentar o fecho de contas hoje. Não o fazemos porque ao vermos as contas tivemos um pequeno alarmismo e o presidente do conselho fiscal aconselhou-nos a fazer uma auditoria para que o fecho de contas não revele os números assustadores que revelaram e sejam mais realistas”, disse.
Nersant entrega gestão de StartUP à Câmara de Ourém
A Câmara Municipal de Ourém e a Nersant chegaram a acordo para a transferência da gestão do edifício da StartUP Ourém para a esfera municipal. O documento aprovado, em sede de reunião da câmara de 18 de Março, revoga o anterior contrato mantendo a parceria de cooperação no quadro das funções e competências específicas de cada entidade. Prevê-se a curto prazo centralizar no edifício os serviços municipais dedicados ao Apoio aos Empresários e à Criação de Empresa, nomeadamente: Espaço Empresa, Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora, Incubadora de Empresas de Ourém, Núcleo da Nersant de Ourém, bem como o Gabinete de Apoio ao Emigrante.